Na juventude os amigos acampavam bastante.
Dias a fio, no meio da serra do mar.
Os suprimentos eram muitos.
As mochilas eram pesadíssimas.
As caminhadas eram longas e árduas.
As trilhas eram estreitas, então caminhávamos em formação "ponta de lança", como os búfalos quando estão migrando. O mais forte ia na frente, fungando de cansaço e dor.
Numa dessas caminhadas eu estava em segundo lugar na fila e já não aguentava mais a penúria. Os joelhos moídos, os músculos travando o tempo todo. A mochila parecia que tinha uma tonelada. Ajoelhei, emiti um rugido e tombei. Ali mesmo, no meio da trilha, com mochila e tudo nas costas. O amigo que estava na frente, quando percebeu o que tinha acontecido, fez o mesmo. Ajoelhou e caiu. Lembro-me exatamente o que ele me falou, ficou gravado na memória: "Sorte que tenho vocês aqui comigo. Também já não aguentava mais de cansaço." Esperamos o total do grupo chegar e acampamos ali mesmo.
Naquele dia pude experimentar, com muita nitidez, o sentimento que nos difere dos búfalos.
Amigos não seguem ninguém.
Amigos não são seguidos por ninguém.
Amigos andam juntos.
Lado a lado.
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