Desconfortante é
Desfrutar de cada corpo sensível da noite
Procurando uma alma
E enxergar que aquele amontoado de sentimentos
Vê luz
Vê luz em alguns simplórios pedaços de tempo,
Enquanto você,
Não vê nada além de nada
Não vê carinho em um abraço em público
Não vê afeto em um beijo cheio de emoção
Não acha graça, no que é para o restante
Plenitude, quase um Nirvana
Deve ser esplêndido
Encontrar alguém que case perfeitamente
Com teu cheiro
Com a tua saudade
E se não for perfeito
Que se dane
Só de saber que ele sabe o primeiro clássico que você leu
E o gênero que te traz desconforto
Ah, é lindo
Mas você volta a realidade
Você tenta se convencer
De que a felicidade alheia é uma sombra negra
É treva
Que se enlaça e se camufla
A ponto de parecer uma linda colheita de girassóis
E outrora
Os leigos murcharão
Mas no fundo do seu quintal massacrado de raízes
Coberto de tanta terra e mágoas
Você sabe
Que não passa de um girassol morto
Que ninguém se importou em ao menos tentar reconstruir
Não sobrou nada
Depois que o jardineiro se foi.
|