Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
QUARENTENA
Flora Fernweh

Quem ousaria me despir do direito de ser livre? É a primeira vez que sinto minhas asas doerem por terem desaprendido a voar. Posso estar em um mesmo lugar a todo instante, mas meu coração não se contenta com uma paisagem apenas. Sinto crescer em mim a ânsia de querer ser neste momento aquela que sempre deixei para depois. Estou debaixo de um teto, entre paredes, observando os detalhes que antes me eram despercebidos, cansei-me da monotonia certa de tudo aqui dentro, estamos em meio a um caos, lá fora se instalou o perigo, o mundo revirou-se em um intervalo entre duas tosses secas. Sou um pássaro de alma aprisionada mas que cresceu livre, hoje encerro-me aqui, em um ninho que me refugia e isola da revoada, ouço os gorjeios sinceros de ajuda e esperança ou então os imagino, todas as vezes em que miro uma janela aberta e iluminada de um ninho. Vejo escolas e escritórios fragmentados, remotamente tristes pela ausência, comodamente satisfeitos pelo conforto que o lar proporciona. O que é o lar senão um igual refúgio, um abraço certeiro ao final de um dia escuro? Ninguém ousa pisar lá fora ou deixar um rastro de penas, o mal que vaga por aí tomou conta da vila, da aldeia e do mundo. Se me distancio de outras aves vívidas ou daquelas que há muito não voam, perco-me de um eu que as encara como semelhantes, mas encontro nas adversidades que se pintam, um outro eu, que sempre se curva em direção à essência mais íntima que preenche meu fundo oco. O sol ainda brilha lá fora, os dias vêm e são livres para alçar vôo, as noites logo anunciam mais um dia cárcere, as flores desabrocham e o tempo passa, tudo segue a ordem e a harmonia da vida. É tempo de relacionar-se consigo mesmo e de aprender a lidar com os medos, angústias e paixões que nos parasitam. As ventanias sempre anunciaram tudo isso, mas talvez, nunca havíamos percebido antes, nem nos dado conta de quão valiosos eram esses ares.


Biografia:
Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. 
Número de vezes que este texto foi lido: 52840


Outros títulos do mesmo autor

Poesias Literatura feminina Flora Fernweh
Sonetos Ah mar (ço) Flora Fernweh
Crônicas Temor à técnica Flora Fernweh
Crônicas Bissextagem Flora Fernweh
Crônicas Textos ruins Flora Fernweh
Contos Um gato na campina Flora Fernweh
Crônicas Crônicas de Moacyr Scliar - impressões pessoais Flora Fernweh
Artigos Exílio, de Lya Luft - impressões pessoais Flora Fernweh
Poesias Confins de janeiro Flora Fernweh
Crônicas Crítica ao fluxo de consciência Flora Fernweh

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 383.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 68971 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57894 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56713 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55790 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55037 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 54934 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54838 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54810 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54720 Visitas
O TEMPO QUE MOVE A ALMA - Leonardo de Souza Dutra 54711 Visitas

Páginas: Próxima Última