Tu não sabias escrever, nem ler
mas dos teus dedos nasciam poemas
quando trazias o vento ao moinho de cana
que fazias para mim,
quando do balouço que penduravas debaixo de um pinheiro
me empurravas até eu alcançar o sol,
quando me ensinavas a utilidade dos rios
enquanto regavas as hortas que cultivavas,
quando trauteavas cânticos do povo
enquanto o teu suor amaciava o atilho com que
apertavas o molho de trigo,
quando a minha pequena figura embevecida
te via colher a uva, e me davas a provar
ensinando-me que aquele fruto era sinal
da obediência da cepa à natureza,
quando descias ao meu tamanho
e traquinas, nos ajustávamos aos intervalos
dos galhos esguios das árvores
para espreitar o ninho de alguma ave...
Depois pé ante pé, engolíamos o riso
para o soltar mais à frente
e oferecer o eco das nossas gargalhadas
às serras que abraçavam o nosso mundo.
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