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Sobre nariz e sexualidade: uma crônica LGBT
Eduarda Lima

Você, que está lendo esse texto, faça-nos um favor e vá imediatamente ao espelho mais próximo que encontrar, dê uma bela olhada no seu nariz e só depois volte à leitura! Eu sugiro isso especialmente a todos aqueles que têm dúvidas quanto a sua sexualidade. Alguém provavelmente está se perguntando qual a relação entre o formato do nosso nariz e o sexo pelo qual somos atraídos. A verdade é que a relação eu não sei, mas segundo minha mãe, ela sempre soube que eu gostava de meninas simplesmente porque eu tinha nariz de quem gosta de meninas.
Há quem diga que descobrimo-nos LGBT, em um belo dia dá-se a descoberta, como quando recebemos um e-mail dizendo que ganhamos uma promoção ou alguém liga pra contar que está grávida. Eu, pelo contrário, nunca descobri isso, apenas reconheci o que eu sempre soube estar ali. Dei voz a uma parte de mim que estava lá dentro, perdida, desesperada por ser encontrada, ouvida, cuidada.
Durante a infância, essa pequena voz cresceu comigo, mostrava-se presente na minha predileção por cantoras e atrizes, as boy bands e os personagens e atores masculinos não tinham a menor graça. Na pré-adolescência, ela estava ali também, um pouco mais audaciosa, quando os meninos mais lindos e cobiçados da escola não chamavam minha atenção. Já na adolescência, essa voz gritava e eu lutava com unhas e dentes pra calar ela. Um dia, aos 15 anos, estava eu a escrever em meu diário sobre meus dramas adolescentes, quando a solução para todos os meus problemas seria “encontrar um namorado”. Sem perceber, fui traída por aquela voz. Enquanto escrevia desatentamente, percebi que ao invés de escrever namorado, escrevi namorada. Meu Deus. Quase infartei. Pânico. O que significava escrever aquilo? Ainda tenho o diário em que escrevi isso, a página se destaca das outras pela forma em que está amassada devido ao meu esforço em transformar aquele a em o.
Por muitos anos eu me esforcei incansavelmente em calar a bendita voz, por puro medo. Medo não da minha família, que felizmente, é maravilhosa em relação a isso. Mas medo dessa sociedade, que é intolerante, homofóbica, que mata LGBTs como nenhuma outra no mundo. E por isso, quando minha mãe disse que eu tinha nariz de quem gostava de meninas, eu desejei ter um nariz diferente, que não denunciasse quem eu era. Porém, com o passar do tempo, fui amadurecendo e, imagine se não, aquela tal voz foi amadurecendo junto comigo. Fomos amadurecendo juntas até chegar a tal ponto que eu precisava ouvir ela, precisávamos ser amigas. E foi na hora certa, da maneira certa. Por toda nossa vida ouvimos que só seremos genuinamente felizes ao encontrar nossa metade da laranja, é verdade. Aos 19 anos, ao reconhecer e aceitar minha sexualidade, encontrei minha metade da laranja, e eu nem imaginava que ela tinha estado dentro de mim esse tempo todo.


Biografia:
Eduarda Lima, 22 anos. Estudante de Letras na Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Escreve crônicas, poemas e diários desde a infância.
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Outros títulos do mesmo autor

Crônicas O "mito" e a banalidade do mal Eduarda Lima
Crônicas Viado é um animal Eduarda Lima
Crônicas O dia que eu quis ser puta Eduarda Lima
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Publicações de número 1 até 4 de um total de 4.


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