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XI - O genioso fidalgo Dom Quixote da Mancha
Batalha de Roncesvalles
Carlos Alê

Resumo:
XI - Décimo primeiro episódio que trata do que sucedeu ao cavaleiro com uns cabreiros e de como concluíram que era um maluco (completo)

O "famoso" Dom Quixote
conforme muitos autores
estava sempre disposto
malgrado vários fatores
a cruzar toda Espanha
combatendo malfeitores

Todavia os relatos
de suas doidas ações
apresentam divergências
em variadas questões
inclusive no seu modo
de fazer as refeições

Manuscritos apresentam
o fidalgo ingenuoso
esperando por convite
em banquete suntuoso
por julgar ser a rotina
de um paladino honroso

Em outros o cavaleiro
tem por grande honraria
ser privado e provado
em coisas do dia-a-dia
aceitando alimentar-se
com qualquer comedoria

É bastante ilustrativo
o encontro com cabreiros
que tinham como costume
receber os forasteiros
que passavam na estrada
com modos hospitaleiros

O registro do encontro
com riqueza detalhado
encontrei em um caderno
que apesar de amarelado
tinha um texto legível
totalmente conservado:

E sabendo os cabreiros
que estavam de passagem
eles foram convidados
a fazer uma paragem
para ali no acampamento
descansarem da viagem

Enquanto o escudeiro
amarrava os animais
Quixote era tratado
de maneiras cordiais
sendo oferecido a ele
cozidos e coisas tais

Fizeram ele sentar-se
em gamela rente ao chão
para que Sancho servisse
a bebida a seu patrão
e esperassem uma cabra
cozinhada em caldeirão

E Quixote ao escudeiro
disse nesta ocasião:
- Quem serve à cavalaria
seja em qualquer função
senta no mesmo lugar
onde está o seu patrão

Mesmo vendo no convite
uma grande honraria
Sancho Pança intimidado
dispensou a cortesia
que regras de etiqueta
o mesmo desconhecia

Mas Quixote insistiu
no convite formulado
obrigando o escudeiro
a sentar-se do seu lado
e assim aquele assunto
ele deu por encerrado

E com aqueles cabreiros
no entorno da fogueira
o escudeiro sentiu
a chegada sorrateira
de uma quase saudade
de sua lida campeira

Comendo com regozijo
a carne que foi servida
e secando uma guampa
onde estava a bebida
Sancho para os cabreiros
disse sobre a comida:

- Um sujeito como eu
que é torado no grosso
uma cabritinha dessas
vai roendo até o osso
que com fome apertando
não existe o insosso

- E como diz o ditado
toda coisa que se come
não sendo uma iguaria
se tempera com a fome
e cemitério de cabras
é o nosso abdome

Pois D. Quixote no meio
daquela gente simplória
pediu atenção a todos
pra contar uma história
das muitas que ele tinha
conservadas na memória:

- No mundo corria a fama
dos doze pares de França
mas o Conde Galalão
com o plano de vingança
ajustou com sarracenos
a mais torpe aliança

- E ali nos Pirineus
a garganta escarpada
foi o cenário perfeito
para uma emboscada
que por sua felonia
tinha sido planejada

Sancho Pança escutava
com bastante atenção
o relato entusiasta
que fazia seu patrão
da batalha derradeira
do cavaleiro Roldão

- Subiram os doze pares
ao lugar mais elevado
da penedia e viram
todo o vale ocupado
pelas tropas sarracenas
que ali tinham chegado

- Uma grande epopéia
desvendava seu enredo
Vislumbrando a figura
dos pares sobre o rochedo
os sarracenos sentiram
um arrepio de medo...

- E Roldão estava pronto
pra lutar mais uma vez
com os maiores rivais
do exército francês
Seu amigo Oliveiros
apelou pra sensatez:

- Não podemos enfrentar
a falange estrangeira
que agora está cercando
esta região inteira
Eles tem cinquenta mil
somente numa fileira

- E Roldão deu a resposta
instigado em seu brio:
- Os doze pares armados
lutando horas a fio
seriam suficientes
pra render duzentos mil

- Se a falange inimiga
é aqui mais numerosa
nossa vitória será
ainda mais grandiosa
pra honrarmos a milícia
da nação mais valorosa

- Sem ainda concordar
com seu amigo Roldão
Oliveiros alertou
que o biltre Galalão
tinha tudo planejado
pra fazer a traição:

- Que evite a cilada
peço a nosso comandante
Carlos Magno ao menos
não está muito distante
Você pode avisá-lo
tocando seu olifante

- Mas Roldão a Oliveiros
nesse ponto foi conciso:
- Chamar o imperador
eu sei que não é preciso
e não tocarei a trompa
para dar qualquer aviso

- Nós somos numa peleja
osso duro de roer
e soldados mais altivos
inda estão para nascer
Hoje vamos ver o mouro
debandar ou se render

- Oliveiros repetiu
seu pedido ao comandante
refletindo ser melhor
que tocasse o olifante
uma vez que o soberano
não estava tão distante:

- Peço a nosso capitão
que escute o que digo
Como é mais numerosa
a falange do inimigo
não precisamos expor
nossos homens ao perigo

- E o conde desprezando
o exército mourisco
respondeu que na peleja
não corriam nenhum risco:
- Hoje vão se enfrentar
o trovão e o corisco

- Se estão em maioria
não precisamos saber
No final desta peleja
muito tempo vamos ter
pra contar e recontar
quantos vieram morrer

- Mesmo tendo que travar
uma luta encarniçada
minha guarnição fará
com a lança e a espada
cada mouro se render
ou bater em retirada

- No lugar do olifante
para dar algum alerta
tenho minha Durindana
e pagão que ela acerta
ou suplica a rendição
ou se aparta e deserta

- Terminada a discussão
decidiram por lutar
O exército dos francos
depois de se equipar
foi descendo pelo vale
para os mouros atacar

- Percebendo o avanço
dos franceses no terreno
rei Marcílio na batalha
comandante sarraceno
ordenou o contra-ataque
com apenas um aceno

- E Roldão saiu na frente
seguido pelos demais
Golpeava com a lança
assombrando seus rivais
Nenhum mouro escapava
das estocadas fatais

- Chefiando a vanguarda
o paladino de França
desde o primeiro golpe
mostrou a sua pujança
Derrubou vários pagãos
até quebrar sua lança

- Só então ele sacou
sua arma Durindana
e montado em Bridadoiro
avançou pela savana
visando desbaratar
a milícia mauritana

- Sarracenos acossaram
o bravo duque Buzim
que brandindo sua arma
disse a eles assim:
- Mais de um é pelotão
e a todos vou dar fim!

- E partiu dando espadada
tão a torto e a direito
que seu golpe fulminante
na cabeça ou no peito
o oponente mais forte
derrubava desse jeito

- Outro grupo novamente
avançou contra Ricarte
que no grosso da ação
inda não tomava parte
pois estava ocupado
carregando o estandarte

- Sir Ricarte retirando
sua arma da bainha
desferiu um duro golpe
no que mais afoito vinha
que levando a cutilada
nunca mais comeu farinha

- Como os outros pagãos
prosseguiam atacando
manejando a espada
um por um foi derribando
pra deixar lá na Arábia
mais viúvas pranteando

- No avanço dos franceses
que lutavam muito bem
um guerreiro só caía
derrotando mais de cem
O comandante Roldão
não perdia pra ninguém

- Confirmando o paladino
sua fama de valente
com a sua Durindana
derrubava prontamente
todo e qualquer soldado
que cruzava sua frente

- Como ele precisava
atacar o rei pagão
para abreviar a luta
e forçar a rendição
quando ele o avistou
foi na sua direção

- Percebendo a manobra
vários mouros em ação
as frentes abandonavam
para atacar Roldão
No entorno do guerreiro
era grande a multidão

- Com destreza absoluta
a espada manejando
prosseguia o paladino
no terreno avançando
Sem errar golpe nenhum
ia a todos derribando

- De repente apareceu
um enorme elefante
deixando cada francês
assombrado e ofegante
com a sua aparência
monstruosa e gigante

- Montado no paquiderme
vinha o melhor arqueiro
procurando alvejar
com o seu arco ligeiro
o mais bravo paladino
só com um tiro certeiro

- Pois no alto da colina
ficou ele esperando
a passagem de Roldão
que já vinha avançando
sem o mesmo perceber
o arqueiro tocaiando

- Choviam setas francesas
no arqueiro vigilante
mas nenhuma o acertava
por estar muito distante
Foi então que Oliveiros
disparou no elefante

- O elefante africano
alvejado pelo flanco
esmagou vários pagãos
rolando pelo barranco
Quem ali não sucumbiu
saiu da batalha manco

- Eram muitos sarracenos
que rechaçavam Roldão
na defesa de Marcílio
o versuto rei pagão
promovente da falsídia
com o conde Galalão

- E no confronto direto
com o biltre rei pagão
o melhor que conseguiu
foi cortar a sua mão
que levando esse golpe
retirou-se da ação

- Com intento de barrar
a investida dos francos
os soldados sarracenos
nos penedos e barrancos
faziam pedras enormes
rolarem aos solavancos

- Os franceses atraídos
para os desfiladeiros
sem ter o conhecimento
dos terrenos traiçoeiros
sofriam grande revés
pela perda de guerreiros

- Nessa hora a batalha
foi ficando mais intensa
Cada baixa dos franceses
era uma perda imensa
que um soldado a menos
já fazia diferença

- E como se fosse pouco
ser menor seu efetivo
foi subindo pela serra
no momento decisivo
outra leva de soldados
com impulso combativo

- Chegavam muitos cavalos
trazendo mouros no dorso
Os sarracenos tirando
vantagem deste reforço
forçavam cada oponente
a lutar com mais esforço

- Quando vislumbrou ali
seu exército minguando
acredito que Roldão
percebeu estar jogando
seu xadrez num tabuleiro
cheio de peças faltando

- Só então que abalado
disse para Oliveiros:
- Não podemos mais contar
com a fibra dos guerreiros
que a tropa vê chegar
seus momentos derradeiros

- Por ter sido vaidoso
com a força do meu braço
e dos outros paladinos
cometi um erro crasso
vendo o nosso efetivo
pelejando mais escasso

- Reconheço que eu sou
o responsável por isso
Não podemos resistir
a outro ataque maciço
Nossa tropa de elite
faz seu último serviço

- A imensidão do vale
as montanhas colossais
a profundeza dos rios
longos e torrenciais
dessa hora tenebrosa
deram todos os sinais

- Assim eram os guerreiros
que aqui eu represento
Por honrarem a bandeira,
seu cavalo e armamento
tem que ser mencionados
sempre com devido acento

- Um perfeito cavaleiro
tem nobreza e coragem
um desejo permanente
de honrar sua linhagem
ser pujante em batalha
e fiel na vassalagem

- Vocês tem o privilégio
de conhecer o famoso
Dom Quixote, cavaleiro
tão honrado e corajoso
que na Espanha não há
um outro mais valoroso

- Sou espelho e resplendor
dos cavaleiros andantes
Maior que Rodrigo Díaz
Amadises e Tirantes
Melhor do que Palmeirins
e guerreiros semelhantes

- Agradeço o tratamento
com respeito e cortesia
que a nós foi dedicado
uma vez que é primazia
dos cavaleiros andantes
toda sorte de honraria

E cada um dos cabreiros
aceitou ficar quieto
escutando Dom Quixote
com seu discurso repleto
de disparates próprios
de um maluco completo




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