Deslizo meu pensamento
nesta água cristalina
que corre por dutos seculares,
como coisa do passado,
fazendo-me sentir viva,
menina,
metade de dois,
parte junta,
a correr das fontes
para os lagos,
em cores de alumiar
minha sina.
Revejo as despedidas,
que como areia da praia,
morreram em seus espinhos,
enquanto as águas
do riacho rolam,
disfarçadas, reluzentes,
sem precedentes,
a desvendar o carinho,
descobrir juras de amores,
abandonar as intrigas,
buscar o justo perdão,
de rosa na mão,
face em aladas cores.
Esqueço as dores vacilantes,
a presença falida,
mortalha bordada de morte,
dormindo zelosa ao lado
de uma alga sem face.
Esquece o tamanho do vento,
as partidas constantes,
que me deixavam perdida,
até sem nome,
qual cereja na fervura,
até perder a compostura,
e definhar no sal de além mar.
A grandeza da vida
está em saber viver
bradar o amor,
cantar o desejo,
abrir as portas fechadas,
aguardar os frutos da água,
da pedra, da chuva,
do fogo e do gelo.
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