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O Formigueiro Humano - Paixão e Zelo
Luiz Moreira

E assim sucumbiu o mundo; não era de se imaginar que a jovem Florena chorasse, chorasse com tanto rancor o que partisse um coração do sofrimento que lhe apertava o peito, e que esquentava o seio da perda. Não era de se figurar, uma pobre e singela criatura, viesse a cair em lamentações com algo tão grotesco.
     Foi num verão de 72 que Florena conheceu Hermes; desde então os seus olhos, sua boca, sua pele e seu sorriso; tinham um dono. No parque da cidade, logo ali próximo ao banco de praça, que Florena floresceu o seu primeiro beijo; tímida e meiga eram seus lábios semi cerrados cor de carmim. Uma nevoa brilhante e estrelada apareceu diante da perspicácia, era Hermes; rapaz formoso e viril, a fazer inveja a todas as mulheres de todas as cidades; e seu sorriso, um sorriso terno e belo, ofuscando os da Florena, que desmaiava em completo êxtase de prazer. O tempo passava, os carros passavam; as pessoas transitavam, depressas...E o casal na mais pura e calma paz do mundo; como se não existisse nem o tempo, nem os carros, nem pessoas, só os dois. Um verdadeiro conto de fadas; o príncipe encantado e a princesa; o mocinho e a mocinha dos cinemas americanos. E os elos passeavam no jardim, sobre um amor entrelaçador, e que cada vez aumentava; crescia; passando a ser incontrolável. Florena brigou com os pais, quase os matou, fugiu de casa e foi dormir ao lar de Hermes. Os pais do enamorado, não aceitaram que a jovem ficasse morando no mesmo quarto que ele; Hermes desobedeceu aos pais; xingou-os por amor a donzela; não resistiu a pressão, e fugiu com a amada sem dar noticias.
     Naquele mesmo verão, no finalzinho, Florena e Hermes moraram em diversas pensões e casas de favor; foi numa dessas idas e vindas, que Florena desposou para o amado pela primeira vez; agora, esse amor não era mais puro. No ultimo lugarejo que pernoitaram; já era finais de outono, as folhas cairão das arvores do parque; Florena estava grávida, mas não quis contar para Hermes, apenas guardou o segredo para si, até chegar à hora. Passaram então a morar no jardim publico, onde só o amor os uniam; o verdadeiro amor platônico, e enfrentarão todos os obstáculos juntos. O dinheiro que, estava se acabando; é chegada à hora do jubilo procurar trabalho. Procurou aqui e ali, lá e cá; de engraxate, não, de limpador de ruas, não, de barbeiro, não tinha pratica; só o que conseguiu foi o de varredor. O rapaz formoso; que já não era mais tão formoso assim; faltava-lhe higiene corporal. Não tomava banho, nem escovava os dentes; não estava mais no conforto de sua casa, morava na rua. As unhas por fazer, o cabelo crescendo, a barba crescendo; as roupas se desfazendo; o que era belo se tornou feio, sujo, fétido. As pessoas que o conheciam, não acreditavam dizendo: - Hermes. é você? Ele respondia que estava apaixonado, e que o amor era maior que tudo explicando a estória para os amigos, e varrendo o chão de uma praça cheia de folhas secas. Os colegas gargalhavam dizendo que isso não era amor, era cegueira; que Hermes estava cego pelo sentimento. Mas ele não dava atenção, estava muito feliz assim do jeito que estava. Assim era a mesma coisa com Florena, que passou a revirar o lixo da cidade; isso era um escândalo para a época; onde já se viu, mendigos comerem restos. E o mau cheiro crescia, os dentes cariavam, a pele oleosa e enrugada; envelheceram anos. E a barriga de Florena surgia, as dores da gravidez surgiam; a miséria nascia e aparecia nos olhos dos dois. Hermes olhava Florena linda e exuberante, com os cabelos ao vento, e um sorriso intenso e secamente puro. Florena alisava as madeixas cristalinas do seu amor, como se alisa um gato siamês soltando os pêlos.
     No inicio do inverno, Hermes varria os beirais e a calçada do parque, recebendo só trocados, que mal dava para comprar um pedaço de pão. Todo o dinheiro que tinham acabou. O casal realmente espantava qualquer um que passasse pelo jardim; não pela vida miserável, sem teto e quase sem comida, mas pelo sorriso que possuíam; era um amor mutuo; só enxergava a afeição profunda, não mais à realidade. Os amigos de Hermes insistiam, os colegas de Florena também; eles tinham a plena convicção, que estavam loucos; não eram mais, Hermes e Florena; eram dois animais irracionais, obedecendo às forças do instinto. O ser amado tentou procurar outro serviço, pois o de varredor era pouco; saiu pela cidade como andarilho, ficando três dias longe da ser amada. Quando voltou, voltava correndo para os seus braços de saudade, com boas noticias; então sentiu a fome aparecer em sua vida; aquela fome que dói até o mais pobre dos pobres, e corrói as feridas da alma, como se fizesse acordar de um sono profundo; e esse sono acabou quando viu Florena toda imunda, deitada no chão do parque com o seu filho nos braços. Ela não quis contar antes, por que tinha medo que ele não aceitasse; mas Florena estava chorando de felicidades. Hermes sentiu o cheiro fétido que vinha de seu corpo; olhou suas mãos calejadas, sujas e ressecadas. Percebeu a sua barba grande, beirar o peito; estava com a aparência maculada, e sua alma incorporou isso, “graças” a avidez que lhe despertou. Hermes teve uns colapsos instantâneos, ficando paralisado por instante próximo a Florena, que se levantou e sacudiu o rapaz; nesse momento, Hermes voltou a si. O cupido tinha se envaidecido para os dois; do amor se transformou em ódio; Hermes chorou, chorou muito, e reconheceu que realmente estava cego. Florena pedia-lhe desculpas por tudo, e que estavam apaixonados; numa paixão sem limites; mas o jovem pediu tempo para pensar; queria voltar para a casa, tomar um banho, matar a fome. O filho dele, que nem se quer viu o rosto; não o aceitou como rebento. Naquele instante, mil pensamentos passavam pela sua cabeça; lembranças, lembranças boas; tornou a derramar lagrimas, seu coração acelerou, como um “bate-estaca” da dor. O amor era triste, utópico e acabou para sempre; não tinha mais afeição pela companheira; coitada, largada de canto com um filho no colo. Hermes voltou para Florena, dizendo-na para voltar para casa que seus pais devessem estar a tempos preocupados; essas palavras saíram de um caldeirão em chamas de dentro de sua coragem, escorrendo as gotas lacrimejantes de seus olhos, partindo, dizendo um “adeus”.
     No outro verão, o de 73, Florena voltara para seus pais e cujo filho, eles ajudariam a criar. Tempos passaram, e a jovem moça, jamais teve noticias de Hermes, e nem seus pais; nos dias que se seguiram também; e meses; e anos. Na tarde de sol de 1979, Florena recebera uma correspondência, que talvez fosse do partido, mas não, era dos pais dele; dizendo que Hermes havia falecido meses atrás e que seu corpo esta enterrado numa cidade próxima dali. Aquilo foi um choque tremendo para a moça, que tivera vertigens; e imediatamente pegou o carro e se foi para o cemitério, junto com seu descendente. Ao chegar e sem muito procurar, Florena viu o tumulo de Hermes com sua foto de rapaz viril, numa plaqueta em bronze com os dizeres: “E deixo a minha eterna lembrança para meu único filho, apesar de não tê-lo aceito; e minha querida amada Florena, que sempre estarei esperando; pois o amor jamais acaba, e sim a vida”.E o mundo sucumbiu à melancólica em prantos.
     


Biografia:
Luiz Otavio Moreira Gonçalves, nasceu em Registro-SP no ano de 1982; fez magisterio indo morar em Campinas-Sp em 2001, onde começa seus estudos sobre temas sociais para seus futuros livros como; Violencia; Miseria; Estupro; Drogas; Suicidio, etc. Economista, musico e pintor, no inicio escrevia temas policias inspirados em agatha cristhie e temas fantasticos como Julio Verne, hoje o escritor usa o que chama de "Mitologia Social".
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Contos O Formigueiro Humano - Sangue Luiz Moreira
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Publicações de número 1 até 3 de um total de 3.


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