Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Caixa de Pandora
Marcos Antônio Filho

Resumo:
sobre brigas de torcida organizada

Edvaldo engraxava suas botas. Hoje será um dia difícil na sua vida de policial. Trabalhava em um grupamento espacial para policiar jogos de futebol. E esse era de alto risco, pois era um “clássico” de dois times locais. A rivalidade era encarada ao extremo pelas as torcidas organizadas, que certamente usariam da violência antes, durante e depois da partida. Ele teria que apartar as brigas que surgirem e acalmar os ânimos exaltados, além de salvar o seu pescoço e do resto de seu grupo. Ele pensou nos filhos, na esposa, ele os amava muito. Ele não tinha o hábito, mas pôs-se a rezar um pouco, pedindo por Deus pela a sua segurança. Respirou fundo e vestiu a sua farda. Beijou os filhos e a mulher. Olhou tudo a sua volta e foi para o batalhão ao encontro dos outros policiais.

Edvânio estava pronto, devidamente uniformizado com as cores do seu time do coração e emblema da torcida organizada. Hoje é um grande dia. Clássico contra o maior rival. E eles queriam vingança, pois no ultimo encontro, a torcida rival deixou três integrantes da torcida gravemente feridos. Um acabou não resistindo e os outros ainda se recuperam lentamente no hospital. Edvânio mentia para sua mãe dizendo que não se envolvia nisso, que violência não estava com nada, que ia aos estádios apenas para torcer, mas o resultado do seu time menos importava, pois qualquer resultado ele ia partir pra cima do adversário com toda a sua fúria, com chutes, socos, pauladas e armas brancas quando conseguia ludibriar a revista. Era “fazê-los de otários” como ele mesmo dizia, mesmo que isso ocasione uma morte seria um mero detalhe, ou uma vingança merecida, no caso desse jogo. Edvânio beija a sua mãe e vai para o ponto de encontro da torcida, onde eles iam beber e em seguida irem ao estádio.

Edvaldo ouve as instruções de seu comandante atentamente e ao término receba as armas para o combate: cacetetes de madeira maciça, iguais a tacos de beisebol e armas com munição de borracha, fora capacetes, coletes para todos. Grupos específicos ficavam com escudo também, pois ficariam no olho do furacão, no suposto lugar onde as torcidas inevitavelmente se encontrariam. Edvaldo teve a sorte de não ficar nesse ponto crítico, ele foi resignado para um ponto mais tranqüilo onde seria difícil um confronto. A tropa de choque ficaria de sobre-aviso para casos extremos. Os policiais entraram no ônibus que os levariam ao estádio. Edvaldo tentava aparentar confiança, mas no fundo estava apreensivo. Um mau pressentimento cercava seu coração de angústia. Edvaldo, mesmo receoso, demonstrava exatamente ao contrário perante aos seus colegas, ele era visto como exemplo de bom policial por todos seus companheiros. Mas ele sabia que torcida organizada mata quem aparecer pela frente pra impor sua soberania. Seja a torcida rival ou a polícia.

Edvânio e parte da torcida organizada, após acabarem com o estoque de cerveja do botequim que é ponto de encontro deles, invadiram o primeiro ônibus que servia para se chegar ao estádio. Eles entravam por todas as entradas possíveis e impossíveis do ônibus. Portas eram quebradas e as janelas, quebradas. Eles pulavam a roleta e entoavam os cantos de seu time, que mais pareciam gritos de guerra entoados a todos os pulmões por guerreiros sedentos por mais uma batalha.O motorista, o cobrador e o restante dos passageiros viraram reféns. Os torcedores além de seus punhos cerrados estavam armados com pedaços de paus com pregos na ponta, canivetes, correntes grossas e inclusive um revolver trinta e oito, escondido para um caso extremo.E aquele ônibus se tornou um tanque de guerra, diante de tantos armamentos, causando medo nos motoristas que dirigiam no caminho ao estádio.

Edvaldo e os policiais chegam ao estádio e encontram uma certa tranqüilidade, torcedores entusiasmados em clima pacifico chegando aos portões do estádio. Mas eles sabiam que era passageira essa calmaria, pois entravam ali somente os torcedores que iam com suas famílias. E as torcidas organizadas chegariam mais cedo ou mais tarde. O comandante repassou as coordenadas e eles se espalharam em seus respectivos pontos e com a atenção redobrada.Edvaldo aparenta tranqüilidade, seu posto é tranqüilo, mas o mau pressentimento rondava a mente dele.Ele resolve engatilhar sua arma com munição de borracha na espera do pior.

Edvânio e sua galera desceram do ônibus feito animais fugindo da jaula. Continuaram a entoar seus gritos de guerra incansavelmente foram atrás da torcida rival. No caminho eles foram surpreendidos por uma parte da torcida organizada rival que chega por trás em uma típica emboscada. Rojões disparados e a torcida organizada de Edvânio corre pra tentar se reagrupar e contra-atacar.

Edvaldo e os policiais ouvem rojões disparado há cem metros dali e avistam a confusão. O pressentimento dele era verdadeiro. Um policial bate no ombro de Edvaldo e se manifesta ansioso:

- Vai começar a festa!

Edvaldo corria na retaguarda, uns quilos a mais, e ele não tinha o pique de outros policiais mais bem condicionados que corriam na frente do tumulto, que já tinha se transformado em batalha campal rapidamente, com dezenas de rojões disparados, pedaços de paus arremessados e inclusive alguns coquetéis molotov detonados.Disparos para o alto para dispersar a briga.Surtia efeito temporário, pois em segundos surgiam uma briga em um lugar próximo, focos surgiam muito rapidamente, tinha se formado uma batalha campal. Correria de inocentes tentando se proteger e as torcidas organizadas se matando entre si e os policiais tentando sem sucesso impor a lei e a ordem. Edvaldo via tantas crianças assustadas com os seus pais, podiam ser os seus filhos, ele tinha que fazer alguma coisa pra apaziguar as coisas e rápido por que a policia estava totalmente desfavorável ao confronto, mesmo com o grupamento quase todo naquele ponto crítico. Entrou no meio de uma confusão e baixou o cacete em uns cinco torcedores que não tiveram nem tempo de reagir, tamanha precisão e destreza nos golpes, sempre na nuca dos infratores que desmaiavam em seguida. Indo para conter mais um foco de briga, ele vê seu colega apanhando covardemente por vários integrantes das duas torcidas. Não tinha tempo nem pra pensar, pois a morte do seu colega seria rápida se ele não ajudasse. Então ele apontou sua arma de borracha e ia finalmente ver o estrago que ela faz. Matar ela não mata, mas deve deixar uma marca bem dolorida. Ele apenas mirou no bolo e descarregou a arma. Um tiro pegou nas costas de um que caiu de dor instantaneamente, outro pegou no braço e um tiro pegou certeiro na nuca de um q desmaiou e os agressores fugiram sem querer saber dos feridos q foram pisoteados pelos próprios.Correntes, pedaços de paus e pedras no chão, alguns com marcas de sangue. Ele foi ver a situação de seu amigo que estava bastante machucado, mas que fez um sinal de positivo mostrando que estava tudo bem.

Foi um tiro certeiro na nuca. Edvânio nem conseguir se virar pra ver o que lhe atingiu.E ainda foi pisoteado por integrantes de sua própria torcida e de alguns da rival.E ele foi o primeiro a ver o amigo sendo pego junto com um cara da torcida rival e foi tentar tira-lo das mãos do policial. Enrolou sua mão com a corrente e partiu pra briga. Um soco com toda a força e ele arranca o capacete do policial e fere sua orelha, e depois os integrantes das duas torcidas vem pra espancar o policial.E de repente um barulho incompreensível e Edvânio perde sua consciência.

Felizmente, o tumulto se abrandou após isso e foi controlado. Foram dois minutos de balburdia generalizada, mas com poucos feridos e inocentes a salvo.e este foi o único pois as torcidas organizadas se abrandaram e fizeram o seu dever de incentivar os times até o final da partida, que terminou com os placares zerados. Muita disposição e poucos gols. A saída do estádio foi tranqüila, com pequenos incidentes fáceis de serem resolvidos. Edvaldo recuperado da adrenalina, volta ao batalhão e recebe elogios de seu comandante por sua rápida atuação no salvamento de seu colega, que passa bem no hospital. Na saída do batalhão pensou em ir visitá-lo, mas a vontade de ver sua família depois do que passou era maior. Poder beijar suas crianças e sua esposa era tudo que ele queria naquele momento. Ao chegar em casa sente o alivio de poder estar em seu lar. Acaba encontrando sua mulher, nervosa que lhe dá a notícia sem demora:

- Edvaldo, o Edvânio foi ao jogo e foi baleado na nuca!
- Meu irmão? Quem fez isso com ele?

Número de vezes que este texto foi lido: 52885


Outros títulos do mesmo autor

Contos Caixa de Pandora Marcos Antônio Filho


Publicações de número 1 até 1 de um total de 1.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
Os dois pestinhas - Lee Al 52806 Visitas
O porto - Olavo Ferreira 52806 Visitas
Quem sou - Eid Souza 52806 Visitas
TRES VEZES - Elvis Policarpo de Assunção 52806 Visitas
Bonito é: - marcelo liuth caliman 52806 Visitas
Presença - Onalim Carvalho 52806 Visitas
Tempo - Pedro Alexandre 52806 Visitas
grao de areia - artur vitor de barros lena 52806 Visitas
ADEUS - Douglas Batista de Menezes 52806 Visitas
Vogais nasais e nasalizadas: - Carlos Eduardo da S Ferreira 52806 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última