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Padrasto Marido
Aderito Celso Benedito Quive

Mayaya – Empregada doméstica

Chamo-me Manuela. De como a mamã conta, papá foi viver com Deus quando Eu era muito pequena. Pois é, mãe solteira, sem trabalho e vivendo de favores; vida difícil. Minha mãe mal conseguia pagar a minha escola e o aluguer do quartinho onde sobreviviamos e tornou-se “Mayaya”. O patrão era viúvo. Passaram-se alguns meses e saímos do aluguer e passamos a viver no trabalho da mamã. No principio não entendia porquê mamã dormia com aquele tio. Eu tinha apenas 8 anos. Quando Eu tinha 11 anos terminei o ensino primário e quando comecei o ensino secundário meu padrasto comentava, “Manuela, se estás no ensino secundário, já es uma mulher!” – Eu não entendia o que aquilo significava. Desde criancinha Eu sonhava em tornar-me Médica para cuidar dos outros. A escola era longe mas Eu ia a pé. Alguns meses depois meu padrasto começou a dar-me boleia para escola, embora ficava na direcção oposta do seu trabalho. Na segunda semana saímos de casa mas não chegamos a escola. Ele levou-me a um lugar que Eu não conhecia; “Manuela, vocês vivem de favor na minha casa, se Eu deixar a tua mãe, vocês hão-de dormir na rua, hão-de morrer de fome e não irás mais à escola!” – disse meu padrasto... depois disso ele começou a tocar-me e tirou-me as roupas. Chorei rios de lágrimas mas ele não parava de pôr suas mãos enormes em meu corpo. Naquele momento tudo que Eu queria é que meu pai estivesse por perto. Quanto mais Eu chorava ele dizia “Manuela, vocês vivem de favor na minha casa, se Eu deixar a tua mãe,... já sabes”. Aquele homem fez coisas horríveis comigo... sangrei muito. Sentí-me suja e com nojo da vida... mal conseguia levantar-me... o mundo todo girava... “Se falares alguma coisa para sua mãe... já sabes!” – Aquele homem não tocava mais na minha mãe... era em mim que ele satisfazia suas necessidades cruéis. Sempre que ele tocava-me, distanciava-se o sonho de ser uma menina como outras que tinham paixonites com os rapazes lindos da escola. Aos finais de semana inventava algo para minha mãe sair e começava o inferno. Meus sonhos: ser médica, casar-me com um príncipe e ter filhos lindos; foram para o alto pois perdí minha fertilidade como resultado dos muitos abortos que este homem fez-me fazer. 5 anos depois minha mãe adoeceu e morreu... era o fim do mundo para mim... primeiro meu pai e agora a única pessoa que me restava... e alí estava Eu... sozinha... inteiramente entregue de bandeja nas mãos do demónio... ele mal deixou-me enlutar a morte de minha mãe e já colocava suas mãos em mim de novo. Este era o padrasto marrido que a vida me deu. “Porquê?... porquê?... para quê?... duas semanas depois ele voltou bêbado e como sempre quis pôr as mãos em mim... “chega... chega... chega....” – gritei bem alto bem lá no fundo dentro de mim e depois que ele tinha satisfeito sua crueldade mordí-lhe tão forte que tirei-lhe a masculinidade... não o matei pois queria que ele sentisse na pele como é viver olhando para alguem que tirou-lhe o mundo... não demorou e suicidou-se... desfiz-me do demónio... e agora? - filhos lindos?! – já não posso ter; casar com um príncipe!? – não sei se algum homem reciclaria este lixo de mulher que me tornei; tornar-me médica?! – isso nem o diábo há-de tirar de mim!!!

“Mulher, não submeta-se ao sofrimento e nunca se cale – Denuncie!”



Biografia:
Adérito Celso Benedito Quive
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Publicações de número 1 até 7 de um total de 7.


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