Poucas horas restam
De batuque no relógio
Ouça - “tic tac, tic tac, tic tac”
É aquele velho aparelho que ficava na sala de estar
Da fazenda Bela Vista
Aquele relógio, arcaico e belo
Há gerações a minha família o tem observado tomar poeira
Meu bisavô Tito foi o primeiro a ouvir as doze batidas da meia noite
Poucos anos antes do nascimento do meu avô
E o relógio continua - “tic tac, tic tac”
O barulho está vivo na minha cabeça, eu o ouço
Nas despedidas de pessoas amadas
Nos fechamentos de contrato
Nas declarações de amor
Ou em qualquer momento em que se pese o coração
“Tic tac, tic tac, tic tac”
Aquele relógio de mogno
Na sala de estar
Da fazenda Bela Vista
Se eu ainda ouço as suas batidas
É por que eu nunca saí daquela sala
Ainda vejo meu avô, suas botas com lama
Sentado em sua cadeira, ao lado do obsoleto relógio
Minha infância, viva em suas alegrias e traumas
É o que eu ouço - “tic tac, tic tac, tic tac”
Restam poucas horas
De batuque no relógio
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