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Olhos de guri
João Felinto Neto

Resumo:
Através da observação de pequenos atos de seu filho e espelhando-se em recordações de si mesmo na infância, o autor consegue enxergar a sensibilidade da ingênua alma infantil. Com o discreto dom de persuadir a criança ao interesse pela poesia, o poeta norte-riograndense, João Felinto Neto, supera a expectativa ao conseguir, mesmo em alto nível de compreensão, a captação do engenhoso espírito da inocência. Olhos de guri ambienta versos que fazem o leitor, adulto ou criança, reviver passos ou começar a andar sobre ladrilhos de um mundo de fantasia. A idade não é uma barreira quanto a Olhos de guri, é apenas um batente a transpor na escadaria do pensamento ingênuo e doce do poeta, a subir ou a descer. O poeta consegue desanuviar a visão que tem do mundo, por ser um adulto, e com isso fala o que vê com seus olhos de guri.

OLHOS DE GURI

Olhos de guri
são dias que não passam.
Vez em quando, na lembrança,
nos abraçam.
São passos que na distância
nos alcançam.
Não se cansam
de nos perseguir.
É bom notar os olhos da infância.

São olhos
que estiveram sempre aqui,
curiosos
como olhos de guri.





NO ESCURO

Quando estava na calçada,
precisava de alguém
para entrar dentro de casa.
Nunca se sentia bem.

Era medo de fantasma
ou talvez da noite escura.
Quando a lâmpada apagava,
ele corria pra rua.

O guri queria o dia,
pois a noite o assombrava.
Seu sorriso de alegria,
o escuro silenciava.

Ele enfim não percebia
que a noite era o dia
com as luzes apagadas.





O PRETO

Meu cachorro Preto
é branco,
com manchas da cor de areia.
Seus olhos
à luz espelha
como as pedras
no leito
do rio.
Quando assovio
eu chamo,
chamo o meu cachorro
bravio.
Fiuuu...





SE EU FOSSE

Eu queria ser pequenino
como o colibri no jardim
e voar para o seu ninho
com suas asas em mim.

Ver de dentro do aquário,
tudo que vive aqui fora.
Pra trocar o meu cenário
seria um peixe, agora.

Se eu fosse um macaco,
pelas árvores saltaria.
Nos cipós, de galho em galho,
o tempo não passaria.

Numa viagem ao passado
Eu queria com certeza
ser um grande dinossauro
que apavora sua presa.

Ser um pequeno inseto
ou o maior dos animais,
isso é tudo que eu peço
pra brincar cada vez mais.

A mão

Eis minha mão:
No mínimo
tenho um vizinho
anelar,
sou médio
indicador,
posso indicar
meu polegar
num sinal de positivo.





A ILHA

Uma voz baixinha,
difícil de escutar,
numa brisa que vinha
do mar.
Como a entoar
por entre lábios,
uma canção de ninar.
Era a voz da ilha
que à praia via
sem poder voltar.





SEM PÉ E SEM CABEÇA

Eis a minha história,
sem pé e sem cabeça.
É uma velha história,
mas nova ainda.
Nunca foi lembrada.
E não se esqueça,
para ser contada
tem que haver começo,
como não há meio,
a história finda.





VOGAIS

A,
de ar
que vamos respirar.
E,
de ei,
maneira de chamar.
I,
de ir,
sair pra caminhar.
O,
de Óz,
a terra pra sonhar.
U,
de um,
começando a contar.





O BALANÇO

Olha o balanço.
Olha o balanço.
O balanço vem e vai.
Quem balança é a minha mãe.
Quem balança é o meu pai.
Balança para frente.
Balança para trás.
No balanço não me canso.
Quem se cansa
são meus pais.





CAVALO-DE-PAU

O meu corcel
é um cavalo perneta.
Sua cabeça
é um talo cortado.
O seu galope
é a minha carreira.
A sua cauda
é a ponta do talo.
Cavalo irreal,
de corpo tão magro,
cavalo-de-pau.





A BARATA

Vasculhou sua vida inteira,
os papeis que ali, eu guardava.
A barata de tudo cuidava.
Descuidada,
não viu que eu abria.
A barata perdeu sua vida
dentro de minha gaveta.
A barata não lia uma letra
do que eu escrevia.
Hoje, marca em um velho poema,
por ter sido nele esmagada.
A barata tão pouco sabia
que sua morte fora prenunciada
neste dito poema:
"A barata".




O TREM

Eu tenho um trem,
bordado em minha toalha.
Um trem colorido,
soltando fumaça.
Não ouço o apito.
Não vejo a estação.
O trem só caminha
na minha
imaginação.





COLORIDO

O que faço com essas cores?
Cores vivas, quem são?
De azul pintei o céu.
De marrom pintei o chão.
Com amarelo fiz o sol.
Com verde a plantação.
Branco, a folha de papel
que meus dedos coloridos
mapearam ilusão.





O BRINQUEDO

Não importa
o brinquedo que me deram. Se é inteiro
ou apenas um pedaço.
Meu brinquedo
é aquilo que eu quero.
De uma arma, um violão eu faço.

O microfone é a mão-de-pilão
que pertence
ao armário da cozinha.
A casinha que fica no oitão
é um castelo que não tem rainha.

Não importa
o que escrevem no jornal,
que dobrado
é o barco que navega.
Na pia em que lavo minhas mãos,
minha boca,
num sopro move a vela.

Quando quero,
o meu cavalo-de-pau
cria asas e assim posso voar.
O brinquedo que me deram
é tão legal,
toma a forma que eu imaginar.





ESCONDE-ESCONDE

Brincar de esconde–esconde.
Ouvi chamar meu nome.
Sem ter me encontrado,
por ter ela inventado,
me descobriu aqui.

Mamãe! Não vou dormir,
pois é cedo ainda.
A brincadeira finda
e ninguém vai me encontrar.
Quando alguém chamar,
eu não vou responder.

Se você não me vê,
não pode me achar.
Quem é que vai contar?
Já quero me esconder.





CIRANDA

Enquanto ali, de mãos dadas,
rodava em uma ciranda,
de meus brinquedos, afastava
minhas lembranças.

Com um sorriso encantava,
irradiava esperança.
Crescia em mim, o carinho
pela menina de tranças.

Meia-volta no caminho
que me levava à escola,
para voltar à ciranda
e vê-la brincar de roda.

Volta e meia sou criança.
Ouço a inocência cantar.
Desmancha, o vento, as tranças.
Os olhos põem-se a chorar.





O PASSARINHO

Voa
meu passarinho.
Foge
da minha mão.
Guia-me
nesse caminho,
mostrando a direção.
Brilha,
o sol, distante.
Soa,
meu assovio.
Voltar
à minha mão,
eis seu maior desafio.





DE VOLTA À ESTRADA

A casinha
lá no morro,
hoje de porta fechada.
Na lembrança,
ainda corro
pela beira da estrada.
Eu criava
um cachorro
que sempre me acompanhava.
Ele morto.
Eu seguindo
a mesma estrada.





O MUNDO EMBAIXO DA PIA

Brincando de fazer guerra
no mundo embaixo da pia,
o garoto move a terra,
o planeta que ele gira.

Eis um manipulador
na maquete sem estrela.
Um arco-íris sem cor.
Uma chuva de mangueira.

Os brinquedos de plástico
não sangram.
Nem tão pouco, os soldados
sentem dor.

O garoto imagina
um mundo em miniatura,
onde cada criatura
tem pra ele, seu valor.





INQUIETO

Guri, saia daí,
de cima dessa mesa.
Então se vê tristeza
nos olhos do guri.
Mamãe. Venha aqui!
No quarto apronta outra.
Estava ele ali,
dentro do guarda-roupa.
Um balde emborcado.
De pé sobre a pia.
Perigo redobrado.
No rosto simpatia.
Dá vontade de rir
com suas artimanhas.
Desça já daí!
Guri, você apanha.
Não sei o que fazer.
Só vendo para crer.
Diante dos seis anos,
em tudo quer subir.





ÓRFÃO

Procuro pelo meu pai,
por minha mãe.
Onde estão meus irmãos,
minhas irmãs.
Preciso de uma família
pra resumir
toda a tristeza que a vida
me faz sentir.
Preciso de um carinho
pra iluminar
o escuro e ermo caminho
que leva a um lar.





A CHUPETA

Só repousa
sob a almofada,
quando a minha boca
está cansada.

Quando a perco
é uma loucura,
por toda a casa,
mamãe procura.

Papai rabisca
com uma caneta
uma poesia
sobre a chupeta.

A noite chega.
- Já para a cama.
- Deixa de choro.
- Você apanha.

Eu não preciso
de cara feia.
Só de silêncio
e da chupeta.





A BICICLETA

Um pedido realizado.
Uma bela bicicleta.
Duas rodinhas de apoio
vão me segurar na certa.

Já me achando um atleta
corro e atravesso a rua.
Monto em minha bicicleta
e a corrida continua.

Eu pedalo, desatento,
entre os bancos de uma praça.
Quando caio, me arrebento.
Meus amigos acham graça.

Choro e quero ir para casa.
Meu consolo é o meu lar.
Um cuida do ferimento,
o outro tenta consolar.




O JOÃO-TEIMOSO

Sou menino mal ouvido,
sou arteiro
e buliçoso.
Por isso meu apelido
é simplesmente João-Teimoso.

João-Teimoso é um boneco
que sempre fica de pé.
Por mais que a gente tente,
ele só faz o que quer.

Quando empurra para trás,
ele volta para a frente.
Dizem que eu teimo demais.
Não sou boneco,
sou gente.





MEU BARQUINHO

Eu vou levar meu barquinho
pra navegar lá no rio.
Meu barquinho tem as cores
da bandeira do Brasil.

Verde como aquela árvore
que fica perto da ladeira.
Pra construir meu barquinho
eu lhe tirei a madeira.

Amarelo como o sol
que ilumina o meu caminho
e que deixa uma sombra
de um menino e um barquinho.

Branco como a nuvem lá no céu,
é o tecido das velas.
Meu barquinho quase voa
quando o vento sopra elas.

Azul como o céu que se espelha
na agitada água do rio.
Para mim, uma brincadeira.
Pro barquinho, um desafio.


O NOME

Sou um feio personagem
de apelido engraçado.
Minha graça é estranha
e o meu sorriso é macabro.

Ninguém quer minha companhia,
não mora ninguém ao lado.
Quando alguém fita meus olhos,
fica logo apavorado.

Minha aparência não diz nada
do que o meu coração quer.
Na solidão da estrada,
encontro uma bela mulher.

Não se importa com o meu rosto
nem mesmo com o que digo.
Mas quando cito o meu nome
se assombra e dá um grito.

Esse estranho pesadelo
ficou na minha memória.
Não sei se mudo meu nome
ou se conto outra estória.





A MEDALHA

Entre os bravos,
eis que no peito brilhava,
a medalha
de honra ao mérito.
Não precisa ser do exército
e nem mesmo das forças armadas,
a medalha
é fruto do esforço.
Uma fita ao redor do pescoço
a mantém dependurada.
Se é de ouro,
se é de prata,
se é de bronze,
se é de lata,
não importa o valor da medalha.
O que importa é se a mereceu.
Lembre sempre da velha história:
Com a medalha no peito morreu,
mas honrou a vitória.





COMPROMISSO

Os meus olhos serão submissos
aos meus pais.
Por aqueles que amo demais,
eu assumo qualquer compromisso.

Essa estória parece maluca:
Lá em casa surgiu uma bruxa
e jogou um enorme feitiço.

Com a voz rouca e esganiçada,
ela disse uma palavra mágica
que ainda ecoa em meus ouvidos.

Eu achei que não era comigo,
pois meus pais,
já não mais
me chamavam a atenção,
se eu ia a escola ou não,
se eu fazia bagunça na casa,
se subia a velha escada,
se brincava de bola na rua,
se corria em meio a chuva
mesmo estando gripado.

Parecia ter tudo mudado
e para bem melhor.
Foi aí que eu vi minha avó,
que a muito havia morrido.
Perguntou-me por meus compromissos.
Eu fiquei sem nenhuma resposta.

Ela então me mostrou uma porta,
os meus pais, em pé, numa cova,
choravam por mim.
Minha avó disse: sim,
eis aí quem não tem compromisso com a vida,
não encontra saída
e acaba assim.

Foi então que enfim descobri
que o feitiço só a mim atingia.
O que agora era só alegria,
só tristeza seria no fim.





A FITA

Ponha a fita para eu assistir,
o guri pedia antes de dormir.
Ponha a fita para eu olhar,
o guri pedia ao acordar.
Ponha a fita para eu ver,
o guri pedia
antes e depois de comer.

O seu pai dizia que sim,
sua mãe dizia que não.
Quando a mãe dizia que sim,
o seu pai dizia que não.
Ele via que era tudo armação.

E no fim era sempre assim,
para ele não ficar amuado
repassava na televisão,
o mesmo desenho animado.





O MISTERIOSO JARDIM

Uma vez, tive que andar
sete léguas num jardim.
Era extenso e majestoso,
havia um rio leitoso
e um som de bandolim.

Borboletas e beija-flores
eram tantos quanto as cores
das flores que havia lá.

Era tão belo o lugar,
que achei ter percorrido
o imenso paraíso,
sem o chão, meus pés tocar.

Uma voz veio falar:
- Sete vezes vai vencer,
se sete vezes correr
por cima do meu capim.

Ouvia a voz do jardim
que tentava me assustar,
mas também me compensar
se corresse pra valer.

Eu só poderia ver
suas belezas, ao andar.
Comecei a questionar:
- Vale a pena eu correr?

Decidi ir caminhando,
e o tempo foi passando
devagar.

Todos a me procurar.
Eu estava quase lá.
Tantos gritos a chamar
que tiraram ele de mim.
Fizeram-me acordar
antes do sonho acabar
e eu não cheguei ao fim.





A LISTA DE SAPOS

O guri olhava,
em pé
na porta de casa,
a rua
na hora que a chuva
caía.
Sua mão não doía,
apesar do tanto que anotava.
Sua boca não cansava
de contar uma a uma,
cada pessoa
que na poça d’água caía.
O guri sorria,
e com a voz engraçada
o guri gritava:
- Mais um sapo na lista.





ANTENAS

Eu conheço as letras;
até já posso ler,
por elas mesmas,
os versos de meu pai.
E já fiz mais,
criei o meu primeiro poema:
"Antenas".
Um título moderno,
num esboço mal-traçado
de um desenho, misturado
a letras.
Transcrevo com a mesma caneta,
o poema que fiz:
“Sobre os telhados,
captam as imagens
para a TV.
Te ver
nas antenas,
ave que pousa.
Sou apenas
uma criança que ousa
escrever.”





TRAVESSO

Galho quebrado.
Despenco no meio da lama.
Na cajarana,
meu pé ficou enganchado.
Acabrunhado,
sorrio.
Porém o galho me machuca
e mesmo no meio da chuva
chamo o tio
que me acompanha
com o olhar de não tem culpa.
Em meus olhos há desculpa,
na natureza, arapulca
que me pegou
descuidado.





NUNCA MAIS

Menos passos
no mesmo caminho.
Os sapatos
estão apertados.
Já não sou um menino,
sou um adulto engraçado.

Já não rio
com as coisas singelas.
Não batuco em panelas.
O balanço não presta,
minhas pernas cresceram demais.

O campinho e a bicicleta,
caminhar de cueca,
nunca mais.
Conversar com o pé de laranja,
urinar no pijama,
não são coisas normais.

Acordar bem cedinho,
apressado e com o rosto sisudo,
é normal, sou adulto.

Dirigir uma vida sem rumo,
querer conhecer o mundo,
sem conhecer o meu jardim.

Fui feliz.
hoje sou triste assim.





A BONECA

Onde está a boneca
que chora?
Sapeca,
não sabe quem é.
Não tem mãe,
não tem pai.
Não reclama da hora.
Quando em pé,
ela cai.
Quando cai,
ela chora.





A PEQUENA DARC

A guria
não gostava de pia,
de casinha ou fogão.
Para ela,
tudo era opressão.
Ela ouvira
sua mãe reclamar
que a mulher tende a trabalhar
só com água e sabão.
Por que não
brincaria de guerra,
de doutora,
de terra na mão?
A guria,
parecia antever
que seu mundo seria
uma doce ilusão.





SONHO DE BONECA

Nos brinquedos esquecidos
sobre a velha prateleira
que pela infância inteira
sua dona não alcançara.

Vestia um vestido curto,
suspenso por duas alças.
Suas meias coloridas
dentro de um par de sandálias.

Óculos que não tinham lentes,
mantinha sempre na frente
do empinado nariz.

Queria muito ser gente,
era seu desejo ardente,
para sempre ser feliz.





SONETO DO ABANDONO

O guri entre os carros passava.
Sua mão acenava
para o carro a seguir.
Em resposta o homem gritava,
sua face mostrava
que sabia mentir.

Todos passam,
ninguém quer ouvir,
mesmo sendo uma simples palavra
que engasga e não quer sair,
como não quer sair nossa máscara.

Uma cena por vezes passada.
Tantas vezes a se repetir
que se torna monótono assistir.

Uma infância tão abandonada,
sem razão e ninguém para agir,
pois se torna mais fácil fugir.





O BEIJA-FLOR

O guri cheirava a flor,
a mais bela do jardim.
De repente se espantou
quando a flor lhe disse: - Sim,
para tantos eu falei,
só você me escutou.

E o guri
se animava,
cada vez mais se encantava
com o que falava
a flor.

O guri tudo escutou
sem jamais interrompê-la.
Novamente se espantou
quando viu-se um beija-flor
que beijava a natureza.





O PROFESSOR

Meu pai dizia:
- Guri, a vida não é bem assim.
Um dia,
coitado de mim,
descobri que ele tinha razão.
Para mim a mais dura lição,
o mundo me fez aprender:
Que eu nunca deveria esquecer
que os pais pensam com o coração.
E quando o meu filho diz não,
eu tento fazê-lo entender
que a vida é uma dura lição
que o mundo nos faz aprender.





PRIMEIRO BRINQUEDO

Meu primeiro brinquedo
eu guardei em segredo
e sofria com medo
que alguém percebesse
que eu havia crescido
e mantinha escondido
meu primeiro brinquedo.

Meu primeiro brinquedo
era a eterna lembrança
de uma doce infância
que eu mantinha comigo.
Mas o tempo estendido,
o manteve à distância.
Meu primeiro brinquedo,
hoje está adormecido.





A SOMBRA

Minha sombra
que se perde no escuro,
salta o muro
quando o sol
no céu desponta.

Se arrasta no chão duro,
se encolhe,
se estica,
passa rente a dobradiça
e se perde pela casa.

Mas à noite,
minha sombra cria asa,
voa quando saio a rua.
Pela luz que vem da lua,
minha sombra me abraça.

Me divirto e acho graça
quando atravessa a fogueira.
Minha sombra, não sou eu,
mas é minha companheira.





PRINCESA

Nasceu num dia de festa
e todos puderam ver
o quanto seria bela
mesmo ainda sendo um bebê.

Era a mais nova princesa
que ao mundo veio encantar.
Uma chama tão acesa
que ao sol fez apagar.

Quando começou andar,
aonde seus pés tocavam,
nascia flor no lugar.

Uma voz acalma o mar.
Todos não acreditavam,
era a princesa a cantar.





O PROTETOR

Tenho vontade de ser
uma flecha em seu coração;
não que o faça doer,
mas que o faça crer
na emoção.

Tento chamar a atenção,
mas você não quer perceber
que dinheiro não compra paixão,
só a ilusão de se ter.

Eu queria o poder
de fazer o tempo voltar,
de vê-lo de novo um bebê
pelo chão a rastejar.

Não está conseguindo enxergar
que o poder o modificou.
Se o seu barco afundar,
com certeza estarei lá
como sempre eu estou.

Se já não houver mais tempo
para tirá-lo do mar,
eu correrei o risco
de também me afogar.





O PEQUENO MUNDO

Um mundo reduzido
pro tamanho do guri.
Mas ele quer partir
para um mundo bem maior.
Se perde aqui e ali.
Se encontra às vezes só.
Chora
e também sorri.
Diz que não quer partir.
Olha
com seus olhos de guri
o mundo
ao seu redor.





Biografia:
No dia 04 de outubro de 1966, nasce João Felinto Neto, em Apodi, Rio Grande do Norte. Em 1969, parte com sua família para Tabuleiro do Norte no Ceará. No mesmo ano passa a residir em Limoeiro do Norte, sua pátria emotiva e ponto de partida de uma fase migratória que duraria toda a sua infância, e o levaria até Santa Isabel/PA (1971), Limoeiro do Norte/CE (1973), e Mossoró/RN (1974), onde ingressa, no Instituto Dom João Costa no ano de 1975. Retorna novamente a Limoeiro do Norte (1977), onde permanece até 1982, ano em que conclui o 1º grau no Liceu de Artes e Ofícios. Retorna definitivamente, com sua família à cidade de Mossoró. Conclui em 1985 o 2º grau na Escola Estadual Prof. Abel Freire Coelho. Em 1986 ingressa no serviço público, como técnico de biodiagnóstico do Hospital Regional Tancredo Neves, atual Tarcísio Maia. Conclui o curso de Ciências Econômicas, pela UERN, em 1991. Somente aos 34 anos, começa escrever e catalogar poemas e crônicas. Até então seu mundo literário se resumia à leitura e ao pensamento.
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