Viver e passar,
passar de mansinho,
sem fazer sombra,
sem ocupar espaços,
sem sonhar com a lua
ou habitar jardins de pompa.
Assim foi a vida dela
passando, devagar,
outorgando aos dias
a sensação
que alguma coisa
ia em frente.
E ,ela, olhando
as coisas, sem ao menos entender
que estava ali,
para nada,
nem para o esgasgo refletir,
nem para o futuro compreender.
São pessoas assim
que se fazem nossos amigos,
passageiros, rápidos e velozes,
não fazem sombra
só sentem dor.
Sinto por ela:
não saber porque veio;
e se perguntar a alguém,
que não erre,
também não saberá dizer
qual sua missão
na superfície da malfadada
terra.
Veio de algum espaço
para outro espaço.
E isso,
sentido não tem.
Nem rezar resolve,neste
este claro que se abre
num abismo
que é só dela,
e dela só falta pular.
Hoje vim de um enterro,
e senti a mulher que passou
de mansinho,
sem fazer sombra,
só montando quebra-cabeças,
com a figura de
sua própria morte.
Nem faz sentido;
não tem história,
nem sequer segurou sua sombra.
E seguiu sozinha para o reino
onde a luz só bate uma vez
e a morte arreda prá sempre.
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