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Grávidos do HEXA!
Maria

Em outro texto, falei do caso de amor antigo que temos com a bola. Falei que esse amor vem lá do útero, quando o espermatozóide se apaixona pela linda bolinha chamada óvulo, corre atrás dela afogueado e nela se enrola, se enrosca todo, com paixão desenfreada. E desse enrosco de amor e paixão o resultado foi uma linda e esperada gravidez da qual você e eu nascemos.

Pois o Brasil estava grávido do hexa. Uma prenhês, uma gestação de quatro anos. A barriga estava linda, crescida. Nosso País grávido do hexa, pulsava a vida dentro de si. O coração batia sem parar. A mil por hora.

Mas toda gravidez tem seus momentos delicados. E a nossa gravidez do hexa, enfrentou vários, mas nenhum tão delicado como o jogo contra a França. Resolvi assistir. Larguei tudo e sentei em frente à televisão. Mesmo porque, adoentada na época, não tinha força física de fazer mais do que ficar olhando a vida passar e escrever alguma coisa de vez em quando.

Gosto de observar as coisas ao meu redor. Sentí-las, vivê-las, ouví-las. Diante disso, fiquei ouvindo e observando as falas dos comentaristas do jogo entre Brasil e França. Em certo momento do primeiro tempo ouvi alguém falar:

- No futebol é preciso ter atitude.

Em seguida alguém teve uma dessas atitudes e causou uma falta perigosíssima contra o gol brasileiro lembram? Com direito até a cartão amarelo.

Fiquei pensando na tal da atitude. O que quer dizer?

O dicionário de mão que possuo, me falou que atitude é “Procedimento ou reação do corpo em certas conjunturas. Postura do corpo”. Bom ainda tinha de saber bem o que seria essa tal de conjuntura. E o velho dicionário me valeu outra vez: “Conjunto de circunstâncias relacionadas. Confluência de acontecimentos. Situação difícil”.

Pois é. E essa situação difícil se apresentou logo após o gol da França. Ali nossa gravidez do hexa estava em perigo iminente de um aborto. Era preciso tomar uma atitude. Fazer alguma coisa.

E a pergunta que fica é? Que atitude tomamos? Que postura do corpo tivemos? Essas perguntas deixo para você responder meu amigo. Afinal eu não entendo muita coisa de futebol não. Só da bola eu entendo. Ah, dela eu entendo muitíssimo bem. Por quê? Ah, mas não digo de jeito nenhum.

E continuando em minhas divagações, enquanto o jogo acontecia, os anjinhos ao meu lado também jogavam com seus brinquedos. Em meio ao jogo de brincadeira um anjinho gritou:

- E joooooga Ronaldinho gaúchoooo. Jooooga e peeeeeerdeeee o gooool!

E então como um experiente comentarista, daqueles que entendem tudo de futebol, ele dispara:

- O Brasil perdeu a vontade de fazer gol!

Ao ouvir esse “comentário” dito pela boca de um anjo tão pequeno pensei: Creio que foi essa a atitude que nosso time tomou diante da situação difícil. Perdeu a vontade de fazer gol. Perdeu a vontade de correr atrás da bola.

E o resultado você e eu sabemos. Pelos comentários que ouvi na TV e no rádio momentos depois, feito por quem entende de jogo, voltamos para casa como perdedores que não tomaram uma atitude correta diante de uma situação difícil. Estávamos apáticos, parecia que conformados com a perda. Parados, não nos movimentávamos. Segundo o mesmo anjinho:

- Paramos de jogar esperando que alguém faça o gol por nós!

E foi isso mesmo. Não havia uma atitude positiva do corpo diante da conjuntura que se apresentava. Ninguém gritava para animar, jogar o time para a frente. Nem mesmo o técnico que ficou parado apático, lívido e mudo, ao lado do campo. Mas isso deixa prá lá, não vamos entrar no mérito dessa questão, senão vou até amanhã escrevendo. E o amigo ia sair correndo atrás de outra bola e de outro jogo com certeza.

E pensando agora enquanto escrevo, mesmo que tivéssemos tomado uma atitude correta poderíamos ter voltado para casa como perdedores. Mas voltaríamos como perdedores que não se entregaram diante da situação difícil. Que lutaram até o fim para buscar a conquista da vitória. E voltaríamos para casa como perdedores, mas perdedores vitoriosos por terem lutado até o fim.

Aprendi uma grande lição para minha vida com este jogo em que voltamos para casa abortados em plena gestação do hexa. Um aborto dolorido. Um aborto cruel. Um aborto que dói na alma.

Na vida, passamos por situações semelhantes. Temos alvos, objetivos, planos de conquistas. Engravidamos deles e caminhamos grávidos nas trilhas da vida. Até que se apresente uma situação difícil.

É quando somos convocados a tomar uma atitude. A decidir se vamos enfrentá-la e continuar a lutar pela vida, ou vamos desanimar, ficar apáticos diante dela e nos deixar ir para o fundo do poço.

Muitas lutas que se apresentam em nossa vida talvez até poderiam ser vencidas, ou mesmo que não se chegasse ao alvo desejado, poderiam mudar nosso caráter e nossa forma de ver o mundo, as pessoas e as coisas, se não fossem abortadas por nossa postura diante das dificuldades. Poderíamos sair delas mais fortes, mas diante de nossa atitude, saímos derrotados.

E então, como brasileiros que somos, juntos, abraçados choramos o aborto precoce do hexa. Luto. Dor. Sofrimento. Choro e lamento. Aproveitamos a onda e choramos junto e alto por todas as outras dores que vivíamos. Aproveitamos e choramos por todas as outras perdas. Era o momento de desabafar.

Mas, queira Deus que em nossa vida não seja assim. Queira Deus que diante da vida tenhamos uma atitude de guerreiros imbatíveis que até o fim do jogo sabem o que querem e sabem para onde ir. E que mesmo abortados em alguma vitória, sabem que lutaram até o fim e que só por isso, somos mais do que vencedores.

Aprendi que às vezes uma derrota pode trazer muita maturidade e aprendizado para a vida. Você nem imagina como foi importante para mim descobrir isso ontem. Você nem imagina como foi crucial para minha vida essa lição do aborto do hexa.

E me pergunto: O que faço eu diante de uma situação difícil? Que atitude tomo eu diante de uma situação difícil? Me jogo num canto e choro até não ter mais lágrimas? Luto como guerreira imbatível até o fim? Como reajo diante das perdas?

E diante de algumas situações difíceis que hoje se apresentam em minha vida que atitudes posso e devo tomar?

O que o técnico, que entende muito de bola diz? Ou ele também está quieto, parado apático em completo silêncio ao lado do campo, sentindo-se um derrotado junto com você?

E você meu querido amigo? Que atitudes você toma diante das dificuldades da vida? Desanima? Entrega os pontos? Fica com peninha de você mesmo e se joga num canto sem lutar? Desiste da bolinha mesmo antes do jogo terminar?

Pensemos nisso. Perder uma luta, não é perder uma guerra. E ganhar, nem sempre significa levar a bola, digo, a taça para casa.

No futebol continuamos soberanos. Afinal somos pentacampeões.

E já estamos grávidos do hexa outra vez. Continuamos grávidos do hexa. Essa gestação teve continuidade após o apito final do jogo do Brasil e França, no dia 01 de julho de 2006. Um dia para ficar na história de nossas vidas.

Nossa prenhês do hexa que começou naquele dia, vai ser uma longa gestação. Quem sabe de oito anos. Quem sabe de doze anos. Não faz mal. Estamos sempre jogando. Estamos sempre no jogo. Somos apaixonados, loucos, completamente deslumbrados e aficcionados por uma bolinha. Não podemos viver sem ela. Vamos passar nossos próximos quatro anos correndo atrás dela como fizemos até hoje. Porque desistir, se é tão bom correr atrás de uma bolinha?

E que venha 2010. E que venha quem vier, já estamos prontos. Já estamos treinando a respiração para o parto do hexa. Não é mesmo
Dunga?

Ninguém segura um País apaixonado por futebol. Ninguém segura um País apaixonado por uma bolinha desde o útero materno. Ninguém segura um País que já aprende a "chutar" a bolinha na barriga da mamãe. E, caso raro, chutamos e chutamos e depois corremos atrás dela gritando prá todo mundo:

- Joga prá mim. Joga prá mim. É minha.

Mas deixa essa assunto prá lá também. Podemos discutir isso num outro dia e quem sabe em outra escrivaninha.

E para pôr uma bola, digo, um ponto final nesta história: Ninguém segura um País, um povo que não se entrega nunca, que não cansa de lutar. Nem diante das situações mais difíceis.

Somos gigantes pela própria natureza, com o futuro espelhando nossa grandeza.

Somos impávidos diante das adversidades!

Um colosso de nação!

E se a guerra se ergue, se apresenta, um filho da mãe gentil, Brasil, não foge à luta! Jamais!

Vai lá Brasil! Corre atrás da bola da tua vida.

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