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CANTO CHAMADO RABERUAN
CANTO CHAMADO RABERUAN
MARCIANO VASQUES

Resumo:
O artigo fala de um artista da região de São Miguel Paulista, na Zona Leste da periferia de São Paulo. Fala da infância, dos amigos, e da arte do compositor, um dos fundadores do histórico MPA (Movimento Popular de Artes) que reuniu músicos, artistas plásticos e poetas vanguardistas da região e ainda hoje é referência em São Miguel Paulista, onde permanece na ativa.

     

CANTO CHAMADO RABERUAN



“Nesse mundo eu posso dar/
Meu vagabundo coração/
Pra você morar”
                                                                                                                                               Raberuan

      Orgulhosamente nascido em Ermelino Matarazzo, onde, entre outras jóias da sua vida: encontrou o parceiro primeiro Sacha Arcanjo; participou da fundação do histórico e respeitado MPA (Movimento Popular de Arte) em São Miguel Paulista, região irmã de Ermelino e encontrou amigos inesquecíveis, como Akira Yamasaki e outros tantos, o cantor e militante cultural chamado Raberuan falou sobre a sua imensa vida, numa ensolarada manhã na Casa de Cultura Antônio Marcos, em São Miguel Paulista.
      De Chico Cardoso, homem intimamente entrelaçado com a terra e seus verdes, sempre com seu cachimbo e sua cachacinha, o caboclo andarilho, autor de letras e canções como “Pela estrada de ferro”, “Jeito de estrela” e “Galope selvagem” herdou o amor que viceja em seu tórax poético.
      Foi em Minas Gerais, nas andanças com ele, o baianinho pequeno, seu padrinho de batismo, que o menino Raberuan, aprendiz da leitura do mundo, sentiu desde cedo que uma geração passava para outra o gosto pelo bom humor, pela poesia, pelo biscoito doce e o salgado feito na base da vida, cheiro de terra pura, irmã, e canto brotando na alma em vigor do pequeno de sandália a se apropriar da beleza do mundo. Aos sete anos de idade, Raberuan sentia o batismo da poesia.
     A semente da consciência nascendo na "casa véia", e o garoto preparando-se para saber que "o que mata o homem é a falta de memória".
     O oficineiro, o ferramenteiro, o metalúrgico, o engraxate e o poeta. Não há distância entre eles, pois todos são ângulos da alma do artista, para quem o fazer é único. O biscoito, o fubá, a casa humilde, a rua larga e aberta da feira, e a poesia, que disfarçada de letra musical leva o canto aos que têm ouvidos de apurar.
     A consciência da necessidade da arte nasceu nos cortiços onde tomou gosto pela poesia, pela música e pelos temperos: formas da arte das quais jamais se separou. Locais onde encontrou a gente tão querida, com seus braços abertos e sorrisos espontâneos, e que ajudaram a construir o seu coração.
     Seu original canto sempre falou do incômodo, sempre incomodou justamente por fazer o ouvinte pensar, por regar os ouvidos com a água do riacho da poesia, sempre quis dar voz aos sem vozes, focar o que ninguém está vendo, tornar visível o imperceptível, mas também divertir, acariciar. Assim é arte de um rio de sensibilidade, de um "escorpiano indomável"...
     Sua vida descreve um arco de memoráveis momentos, entre os quais um trabalho por ele desenvolvido no sertão baiano, com meninos.
     Ajudou a criar um grupo de crianças denominado "Querubins de São Gabriel", em 2001, que abriu uma cantoria local. (Evento que dura três dias e que reúne artistas da terra do companheiro Sacha Arcanjo). Mais ou menos sessenta crianças cantando.
     Orgulha-se ao saber que hoje são mais de duzentas.
     Outro de seus momentos é o reencontro com Akira em Itaquaquecetuba: o amigo que o resgatou para a vida artística e produziu o seu primeiro CD.
     Os olhos do artista, num brilho singular, expressam gratidão.
     Guerreiro da canção, é também um romântico por excelência, e interrompe a conversa diversas vezes para cantar. Às vezes fala, às vezes canta. Seu canto assemelha-se a um sereno e caudaloso rio. Para ele, o amor é bolero, e a amizade é um belo sinônimo do amor. Jamais se desvencilhou, nem quis, do amor passional, arrebatador, a fúria das paixões, o eterno adolescer em amor.
     O que ele sempre quis e o que o move por aí é sua necessidade inerente de colaborar com a difusão do acesso ao carinho. Expor, com seu coração de cantador, o acervo amoroso que rege a sua música. Talvez inverta o verso de Milton Nascimento, pois a sua consciência diz que o povo tem que ir aonde o artista está. E ele está nas ruas de São Miguel, aberto à generosidade do mundo; não está nas rádios, mas sim nos olhos e nos ouvidos que edificam o querer:
     Querer cantar, querer poetizar, querer ser Raberuan.
     Não se mercantiliza, não abandona a simplicidade do seu canto genuíno, não esquece seus insondáveis tesouros, feitos de amigos, amores e memória, cultivados nas ruas da periferia de São Paulo, onde um dia inaugurou os primeiros bailes, cantando ao lado de outros jovens, onde um dia encontrou outro metalúrgico, com quem edificou belezas musicais, falando da seca, do sofrimento, mas também da beleza do nordeste. Espalhando uma tinta nova no jeito de cantar a vida, desde que há quarenta anos atrás "deu-se a liga" entre ele e o compositor parceiro, que a cada novo instante põe no encontro. É assim ser Raberuan.


                                                                                                                      MARCIANO VASQUES


Biografia:
Marciano Vasques é escritor, natural de Santos, e autor de Literatura Infantil. Publicou diversos livros, entre os quais "Uma Dúzia e Meia de Bichinhos", "Griselma", "Arco-Íris no Brejo", "Espantalhos", "Rufina", "Uma Aventura na Casa Azul" e "As Duas Borboletas". É também autor teatral.
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