Caminhava eu por aquela miniatura de shopping que é o Novo Millenium, na Barra. Não sou grande fã de shopping centers, mas é interessante como volta e meia acabo perambulando por um, seja lá por qual razão for. Hoje procurava algum lugar que vendesse refrigerante razoavelmente gelado a um preço um pouco menos extorsivo.
Em sentido oposto ao meu, logo após a rampa que fica ao lado da ótica, vinha um senhor, já um tanto além da meia- idade. Camisa pólo listrada, bermuda, calçando mocassins sem meia... perfeito exemplar de indivíduo merecedor da alcunha de “coroa”. Uma senhora (a esposa, suponho) andava a seu lado, enquanto ele conversava animadamente ao celular.
Justo ao passar ao meu lado, e em alto e bom som, pergunta o senhor dos mocassins a seja lá quem fosse do outro da linha:
- “Já comeu?” (pausa) Dois pratos? Nossa... eu já comi a comida que estava no prato, mas o prato eu nunca comi não.”
Não pude evitar uma careta de desgosto... É fácil imaginá-lo naquelas festas ou almoços de uma família imensa, perguntando a cada cinco minutos se “É pavê ou pacumé?”, “Isso é torta ou é reta?” ou qualquer coisa do gênero. Realmente fico muito feliz por minha família ser tão pequena.
Afastei-me o mais rápido que pude, sentindo uma pontada de vergonha alheia. Sim, eu sinto essa inexplicável sensação por atos alheios cometidos por pessoas aparentemente incapazes de sentir vergonha por elas próprias. Nos tempos atuais é quase uma maldição.
Meados de 2016
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