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Legalize it!!!
(Reggae agora é patrimônio imaterial da humanidade)
Roberto Queiroz

Os jamaicanos podem festejar à vontade e com merecimento!!!

Na quinta-feira (29 de novembro) o reggae foi declarado patrimônio imaterial da humanidade pela UNESCO. Eu, que não conhecia tanto assim sobre o ritmo (na verdade, minha primeira lembrança sobre a jamaica sempre foi a do filme de 1993 Jamaica abaixo de zero, de Jon Turteltaub, sobre a participação da equipe de bobsled - trenó, para os leigos - jamaicana nas olímpiadas de inverno) decidi apurar fatos para realizar este humilde artigo e conhecer mais sobre o gênero musical que fez muito sucesso por aqui, principalmente nos anos 90.

Primeiramente: qual o significado da expressão reggae? Tem quem diga que vem de rege-rege (no inglês: “rags or ragged clothing”), ou seja, "trapos ou roupas esfarrapadas", pela associação com as regiões pobres do país. Entretanto, há os que defendam que tenha relação com a forma como o som é produzido quando tocado na guitarra, para cima e para baixo.

Polêmicas e discordâncias à parte, o reggae surge na jamaica na década de 1950 por influência do movimento rastafári que defendia a ideia de que os afrodescendentes deveriam ascender e superar sua situação de extrema pobreza através do engajamento político e espiritual e vê na música de seus primeiros expoentes - Delroy Wilson, Bob Andy, Burning Espear e Johnny Osbourne, e as bandas The Wailers, Ethiopians, Desmond Dekker e Skatalites - sua força motriz. Contudo, pelo fato da grande maioria das estações de rádio pertencerem a homens brancos, quase não se ouvia o ritmo musical nas estações e por isso seu auge só viria acontecer duas décadas depois, muito pela força musical e política de artistas como Bob Marley (para muitos, o pai do gênero) e Jimmy Cliff.

Como expressão musical o reggae é uma mistura de vários estilos e gêneros: da música folclórica da Jamaica aos ritmos africanos, do ska ao calipso... Já conversei certa ocasião (refiro-me à época da faculdade) com um grande admirador do gênero que me disse, apaixonadamente, ser o reggae o maior caldeirão cultural e político que ele já viu em toda a sua vida. E toda vez que ouço nas rádios online canções como "Legalize it", "I can see clear now", "I shot the sheriff", "No woman, no cry", "Get up, stand up", entre tantos outros hits, me dou conta de que ele está absolutamente certo.

As letras de suas canções pregam o amor, sem no entanto deixar de abordar questões sociais (como pobreza a desigualdade social) e temas religiosos, problemas típicos de um país com uma grave divisão social. Não à toa muitos brasileiros conhecem a jamaica mais por seus corredores de atletismo do que por sua história política, social e musical. Grandes nomes da música mundial abraçaram o reggae, chegando a fazer versões próprias de músicas canções eternizadas na jamaica. Dentre eles, Eric Clapton, Rolling Stones, Peter Tosh, Paul Simon, UB40, dentre outros.

No Brasil, a região norte foi a primeira a abraçar o gênero, principalmente em São Luís, capital do Maranhão. Todavia, na década de 1970 cantores como Gilberto Gil e Jorge Ben (hoje Benjor) foram gigantescamente influenciados pelo ritmo e nos anos 80 foi o rock - através das canções da banda Paralamas do Sucesso - que decidiu se unir ao gênero. Já o auge do reggae por aqui se deu na década de 1990 com o sucesso de vários músicos e bandas, dentre eles Cidade Negra, Alma D'Jem, Tribo de Jah e Nativus.

(Pausa para uma memória nostálgica: quando Jimmy Cliff começou a tocar "Reggae night" nas rádios brazucas foi uma febre tão grande que até a modinha das camisas listradas e hipercoloridas pegou por aqui. Saudosos tempos esses!).

Porém, mesmo após tudo o que eu disse sobre o tema até aqui, como dissociar o reggae de Bob Marley? Ele não só é o grande expoente do gênero, como transformou sua música numa espécie de mantra, praticamente religioso. Por sinal, é bom comentar: Marley foi um grande fã do Brasil (esteve por aqui, inclusive) e de nosso futebol, chegando a dizer que Paulo César Caju, craque da seleção de 1970, era o melhor jogador que ele já vira atuar num campo de futebol até então. E como negar a relevância de sua banda, The Wailers, até os dias de hoje no cenário musical mundial? Como legado, fica sua discografia exuberante e seus filhos, que também seguiram a carreira do pai nos palcos.

Em 11 de maio (data do falecimento de Bob Marley) comemoramos por aqui o dia nacional do reggae. Só por aí já dá para termos uma ideia de nossa ligação com a música jamaicana e tudo o que ela representa.

Encerro minha reflexão por aqui falando abertamente da felicidade que representa esse reconhecimento ao estilo musical, principalmente em tempos de revolta e de racismo acentuado como vemos nos dias de hoje. Que a atitude da UNESCO ressoe por outros lugares e instituições, pois precisamos urgentemente rever essa onda conservadora, castradora e inútil que anda tão na moda atualmente.

Vida longa ao reggae, meus caros leitores!


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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