"Quem cala, consente"
Disse um amigo meu
Ao pôr-me consciente de que
Meu coração ainda é teu
Muito fala essa gente
Que te amo como vesano
Oblativo azafamado
Com o passar dos anos
Terão eles razão,
Esses que afirmam que te idolatro?
É que tento fugir
Todavia encontro-me contigo, ainda que de raspão
E cola em mim quase a certeza de que não consigo
Amar-te é estar doente sem querer ser medicado
Pois não anseio o milagre de querer ter-te ao meu lado
Novamente, como dantes, como era doce e quente
Porque ver-te à distância é-me o suficiente
"Quem cala, consente"
Disse o amigo e irmão meu
Ao tentar fazer-me cair
Desse você que é feito céu
Ouvi dizer que te amo
Na voz dum povo que me quer ver feliz
Eles declaram-me letárgico por não seguir minhas intenções
Que meu orgulho é meu abismo, o erro da contenção
Devo pedir tua amizade
E desculpar-me mais uma vez
Como se o teu perdão involuntário
Me livrasse da escassez
Essa carência de reaver a companhia
De quem com a minha estupidez se divertia
E ainda que parecesse ridículo
Seguia-me na insanidade
Este sal de lembranças que tenta escorrer dos olhos
Cai no prato de comida e tende a matar o apetite
Oferece-me o retrato das tostas que partilhávamos
Faz querer voltar no tempo e no espaço em que nos amávamos
"Quem cala, consente"
Disse o também meu primo
Quando alguém quis saber se ainda te amo
E não dei nem um pio.
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