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A MORTE DE ZÉ MACHADO À GOLPES DE MANDIOCA
Valdecir dos Santos

Numa pequena cidade
Do interior do estado
Conheci um certo homem
Por nome de Zé Machado

Vivia o tempo todo
Pelas ruas da cidade
Perturbando a vizinhança
E toda a sociedade

Acordava bem cedinho
E saía a procurar
Um lugar onde pudesse
Suas mágoas afagar

Em cada bar que chegava
Pedia uma cachaça
O vendeiro então servia
Pra evitar uma desgraça

Ele não tinha família
Mãe e pai não conheceu
Amigos não restam mais
Porque o que tinha morreu

O coitado era solitário
Desgostoso então vivia
Por perder um casamento
Com uma tal de Maria

Diz o povo da cidade
Que ela o deixou no altar
No dia que ele esperava
Que eles fossem se casar

Depois daquele episódio
O homem perdeu o juízo
Pois o amor que ele perdeu
O deixou no prejuízo

Daquele dia em diante
Não queria fazer nada
Em cada bar que passava
Bebia uma marvada

Chegava pela manhã
No empório São Romão
Ali já pedia uma
Temperada com limão

Não demorava o sujeito
E outra, logo pedia
Dizia para o vendeiro:
Homenagem à Maria
E ali ficava horas
Tomando suas cachaças
E quando ficava bêbado
Começava a achar graça

Muitas coisas diziam
Os outros que lá estavam
Mas não sabia o coitado
Que ele era debochado

Quando lá para as dez horas
Já estava encharcado
De tanto se embriagar
No empório do Geraldo

Dali saía ele andando
Sem rumo, sem direção
Mas, logo ele avista
O boteco do Simão

Que ficava logo ao lado
Do mercadinho avenida
Sem perder tempo, depressa
Ele pede uma bebida

O moço que era empregado
Não quer pra ele vender
Aproveita e dá conselhos
Que ele pare de beber

Zé Machado fica brabo
E, logo quer estranhar
O vendeiro o manda embora
Ou, então, vai apanhar

O bebum já corajoso
Não exita em encarar
O pobre do empregado
Que a polícia foi chamar

Mas nesta hora é difícil
A polícia encontrar
Se depender de algum deles
Machado vai apanhar

Ele insiste em pedir pinga
Para quem está ao lado
Mas ninguém lhe dá ouvidos
Ele então sai chateado

Nisso, já é meio dia
E o coitado vai abrindo
A alameda Alagoas
Tropeçando ou caindo

O Zezinho já cansado
Já meio desconsolado
Para e senta no meio fio
E, ali, fica encostado

Esperando que alguém
Passe e pare ao seu lado
E aproveita a ocasião
Para, então, dar-lhe um trocado

Mas isso não acontece
Ele sai desanimado
Então vai pro bar da frente
De um sujeito apavorado

E, ao chegar, logo, à porta
Olha pro moço assustado
E lhe pede uma cachaça
Pois está com resfriado

Diz estar com muita pressa
Ele exige sem demora:
Já está ficando tarde
Eu precisa ir-me embora

Um outro bebum do lado
Escuta desconfiado
A conversa do José
E fica muito intrigado

Aonde já se viu um cabra
Como este Zé Machado
Vir desafiar o dono
Deste salão arrumado?

O tal bebum quis fazer
Uma média com o Pedrão
Esse era o nome do dono
Daquele nobre salão

Mas Pedrão era um bom homem
Muito bom de coração
Já serviu muita cachaça
Pra todo tipo de peão

E não perderia, é claro
Essa nova ocasião
De poder ver o duelo
Da polícia e o Lampião

Pôs um copo sobre a mesa
E disse pro anfitrião
O primeiro que pegar
Vai ganhar um garrafão

O dono do bar, sorrindo,
Pediu que erguessem a mão
Quando contasse até três
Que tomassem a decisão


Houve um tremendo alvoroço
Ali, naquele lugar
Pois todo mundo queria
Saber quem ia ganhar

Depois de ter dado a ordem
Os camaradas, então,
Ao mesmo tempo, puseram
Sobre o copo suas mãos

Derramaram sobre a mesa
E, também, pelo salão
Como água espalhada
Pinga solta pelo chão

Começaram a brigar
Semelhante a um cão
Nunca tinha visto aquilo
Onde andei neste sertão

Naquele exato momento
Apareceu ali, do nada,
Um moço que sobre as costas
Trazia uma grande enxada

Dizia que estava vindo
De trabalhar pela roça
E, consigo, também vinha
Um saco de mandioca

Descansou aquele saco
Bem próximo da entrada
Encostou-se no balcão
E pediu uma gelada

Um dos bebuns percebeu
Que o saco de mandioca
Deixado foi por seu dono
Bem próximo àquela porta

E tratou logo, depressa
De pegar uma bem grande
Usando-a como uma arma
Desferiu golpes de sangue

Tirando a vida do pobre
Zé Machado, cachaceiro
Vivendo sempre a mercê
Do destino traiçoeiro

Levou uma mandiocada
Por causa de um aguardente
Que acabou com a sua vida
Tão fácil, tão de repente

Ficando só a saudade
Que um dia ele queria
Construir uma família
Com sua linda Maria

Por causa de uma ilusão
Que envolveu seu coração
Embrenhou-se na cachaça
E morreu na solidão.


Biografia:
Valdecir dos Santos – Docente na Rede Estadual de Ensino de MS Pós-Graduado em Língua e Literatura Professorvaldecir.santos@gmail.com
Número de vezes que este texto foi lido: 52886


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