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A voz da nossa gente
Luiz Eudes

Dona Venância tinha uma vida modesta e tranquila, até o dia que Dona Maria Alta de Jesus, sua comadre e presidente do Apostolado da Oração, levou a sua filha para cantar no coral da Igreja. Apesar de ser estreante, a pequena Maria Lídia, com apenas dez anos, brilhou como coralista profissional. Voz de soprano, afinada com o barítono dos adultos. Não teve mais sossego a partir de então. Na sua porta sempre havia alguém a lhe roubar a paz, para alegria de Dona Venância, que assistia, embevecida, ao assédio de todos aos serviços cantantes da sua filha. O padre era o principal requisitante, para acompanhar-lhe na celebração da missa em latim, mas sempre havia gente à sua porta o dia inteiro, noite adentro.
     Um dia, as coralistas de ocasião resolveram criar um coral de verdade para animar as celebrações e como não poderia deixar de ser, a pequena Maria de Venância foi convidada para fazer parte. Batizaram de Coral Nossa Senhora do Amparo. Na primeira apresentação, foi um sucesso. As pessoas só tinham olhos para aquela menina linda que cantava como um rouxinol. Foi sua apoteose e, do coral da Igreja, passou a animar os bailes do Junco.
     E a menina cresceu, ganhou um lindo rosto e um corpo com formas arredondadas e sua voz vibrava cada dia mais bonita, causando admiração em todos. Foi convidada para secretariar os trabalhos do Apostolado da Oração, promover as festas, liderar o coral e organizar lotações de romeiros para Nossa Senhora das Candeias e Bom Jesus da Lapa. Eram viagens alegres, apesar do itinerário estafante: passavam dias nas estradas em cima de um pau-de-arara, num cansativo ir e vir. Porém, ninguém desanimava, ante a voz que se ouvia.
     E ela não foi apenas a cantora das novenas, procissões, romarias e missas. Foi também uma professora séria e competente e, em reconhecimento, os governantes batizaram com o seu nome uma das escolas do município.
     E foi movido pela lembrança de um tempo ido e vivido que um ilustre junquense, ao participar de uma missa em comemoração ao aniversário da cidade, rememorou e externou como se iniciavam as celebrações no seu tempo de coroinha e cantou:
     - Introibo ad altare Dei...
     E uma voz respondeu no meio da multidão:
     - Ad Deum que letificat juventuti meam...
     Um belo rosto negro se descortinou entre soluços, lágrimas e um sorriso emocionado. Era Maria de Venância, uma voz que vinha do tempo das missas em latim, para de novo encantar a nossa gente.


Biografia:
Luiz Eudes é autor de Noite de Festas e Tempo de Sonhos
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