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Elas decidiram que agora basta!
(O assédio no star system hollywoodiano)
Roberto Queiroz

Quando James Ellroy publicou nos EUA o romance Tablóide Americano, guardadas as devidas proporções ele estava fazendo um inteligente paralelo com hollywood. E eu sempre achei - desde a época em que passava as madrugadas sentado na sala vendo meus VHS - que a meca do cinema mundial era uma terra de ilusões e corrupções. A expressão "vendendo a alma ao diabo" cabe como uma luva aqui. Podem me julgar o quanto quiserem os bobalhões alucinados que acham que hollywood é sinônimo de franquias e esse duelo babaca entre Marvel e DC!

O fato é: quem adentra essa cenário deveria (em tese) saber em que chão está pisando.

Infelizmente, teoria e prática não são palavras sinônimas e desde os áureos tempos do mainstream cinematográfico norte-americano - quando Marilyn Monroe, Elizabeth Taylor, Gina Lollobrigida, Lana Turner e tantas outras musas enlouqueciam a cabeça dos fãs macho alfa - a figura feminina na indústria de cinema sempre foi fetichizada, erotizada em excesso, carnavalizada ao extremo, fazendo parecer intencionalmente que a elas não poderia criar qualquer outra imagem que não fosse primeiramente a de objeto sexual.

Daí para o assédio é menos do que um pulo.

Vou ao dicionário (como sempre faço toda vez que quero elucidar um tema) e procuro por definições para o verbo assediar. Encontro entre ínumeras opções "estabelecer cerco; impor sujeição; sitiar; perseguir com propostas; sugerir com insistência; ser inoportuno; molestar". É, eu sei... Não parece (não é) nada bonito. Principalmente para o lado do sexo outrora chamado de frágil.

Pois bem: o tempo passou, os faroestes se foram, Clint Eastwood e Gary Cooper deixaram de ser os reis de hollywood, Rock Hudson morreu de Aids, Liz Taylor não é mais a bela Cleópatra (nem viva mais está), Jane Fonda não lembra mais a eterna ativista que um dia interpretou Barbarella, a geração easy rider dos anos 70 continua por aí, mas interessada em outras coisas, Sharon Stone não tem mais idade para cruzar as pernas sem calcinha como fez em Instinto Selvagem... E a nova geração de mulheres decidiu abrir a boca. Agora. Neste momento. Antes tarde do que nunca.

Os tempos atuais, de empoderamento feminino e racismo voltando com força aos EUA, com direito a Ku Klux Klan e marcha dos supremacistas brancos barbarizando nas ruas, ajudam? Claro que sim! Mais torto do que esse início de século XXI, impossível. Porém, mais do que isso: o mercado de cinema americano vive (e precisa viver, na marra) o seu maior revés em toda a história. E a despeito dos que não acreditam, isso é sinal seríssimo de evolução de parte dessa sociedade.

Tudo começou quando mais de 30 atrizes (Angelina Jolie, Uma Thurman, Gwyneth Paltrow, entre muitas outras) acusaram o produtor de cinema mais bem-sucedido da atualidade, criador da Miramax, Harvey Weinstein, de assédio. E como um estopim, um pavio que precisava ser aceso antes que a notícia perdesse fôlego, outras atrizes decidiram também abrir a boca e acusar outros machões que acham que mulher mesmo tem que se submeter a vontade deles, nobres e respeitáveis homens de poder do mainstream. Resultado: deu merda.

E quando digo DEU MERDA (assim mesmo, em maiúsculas) entendam da pior maneira possível. Uma grande torneira fétida foi aberta mostrando todo o esgoto que se esconde por trás do mundo fascinante do cinema. O ator Kevin Spacey, um dos poucos da lista de acusados, a ser denunciado por um ator (que era apenas um garoto na época), vive seu inferno astral. A série na qual interpretava o protagonista, House of Cards, foi cancelada, bem como a homenagem que seria feita a ele no próximo Emmy Internacional. Ele tentou escamotear todo o caso assumindo-se homossexual, mas a meu ver só complicou ainda mais o seu próprio lado.

O que mais me irritou nos acusados (procurem as fotos deles no IMDb, o banco de dados sobre cinema na internet) é a sensação de estarmos diante de notórios cafajestes, pilantras declarados que usam sua pose e seu poder para se outorgarem donos da verdade, colocando-se assim acima do bem e do mal. Muitos puristas do sexo masculino - preparem-se para eles, a internet está infestada dessa raça! - dirão que tudo não passa de uma grande conspiração contra Harvey por ser o grande nome da indústria hoje e por ser Kevin um ator consagrado, vencedor de 2 Oscars. Sem contar a velha máxima dos haters de difamar os sexo oposto com aquela velha frase "isso é coisa de mulher frustrada, mal-amada, que não tem mais o que fazer da vida". E é preciso também combatê-los, pois esse é um tipo de influência virtual que anda muito na moda ultimamente. A sociedade anda gostando demais de idolatrar os ignorantes e os esnobes.

Contudo, é preciso que abramos os olhos para os oportunistas que esperam por oportunidades como essa para se promover ou difamar antigos desafetos. Esse é um outro tipo de escória que aparece sempre nos piores momentos.

Enfim... Os casos relatados (foquei em Harvey Weinstein e Kevin Spacey porque foram os que mais chamaram atenção - até agora) darão lugar a outros e a polêmica promete tornar-se tão grande quanto a greve do Sindicato dos Roteiristas ocorrida em 2008. De certo mesmo: hollywood e as produtoras televisivas devem se preparar para rever contratos, cancelar projetos e existe a possibilidade do tema virar um filão ou gênero (assim como aconteceu depois do 11 de setembro e as inúmeras produções que vieram a tiracolo tentando vender a América como pobre coitada e sobrevivente do caos). Afinal, meus amigos, não há tragédia que não vire negócio na terra do Tio Trump.

Então, o que esperar?

Depois da Mulher Maravilha, de Patty Jenkins, e toda a repercussão que gerou, que as feministas - elas de novo! - rodem a baiana, promovam um rebu gigantesco e que a política do velho star system machista, dominado pelos Judeus que comandam a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, toma vergonha na cara pelo menos uma vez na vida e comecem a cercear direitos e abusos. De preferência, para ontem.

P.S: após terminar de escrever este artigo novos casos surgiram (dentre eles, um envolvendo até mesmo o vencedor do Oscar Dustin Hoffman). E pelo caminho que a coisa tomou, parece que ainda vem mais bomba por aí. Resta saber quais repercussões isso terá em futuros projetos hollywoodianos. Fiquemos no aguardo!


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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