Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Acefalia aguda
Caliel Alves dos Santos

Resumo:
O descréditos das instituições públicas acirram os preconceitos e opiniões acríticas e a-históricas


     Muitos adolescentes brasileiros nascidos na primeira década deste século, e outros tantos jovens adultos da década de 90, se portam como verdadeiros doutores em História e Ciência Política. Pseudocríticos baseando suas vagas opiniões em velhos preconceitos, medos sepultados já há muito tempo e memórias deturpadas por pessoas que nem sequer puderam estudar História. Sem fundamentos empíricos e teóricos, não há História.
     Essa História, ciência da reconstrução do passado através dos vestígios deixados pelo homem no tempo e no espaço, é diferente da história, sucessão de eventos humanos em ordem cronológica e assimilável. O infante — geralmente aquele que filava as aulas de humanas, por considerarem-nas muito chatas ou irrelevantes para a formação profissional —, não saberá defini-la, pois não tem formação na área.
     Não saberá dizer também: Como se deu a conjuntura político-econômico de 1964? O que é uma Ditadura Militar? O que é um golpe de Estado? Como o Tenentismo contribuiu para a formação do “Superleviatã”? Qual o papel da extrema-esquerda na radicalização nas alas golpistas? Você já leu os atos adicionais e institucionais promulgadas pelo Executivo centralizador? O que é um político biônico? Etc.
     Você, que provavelmente deixará um ataque nos comentários desse texto e não uma crítica racional, não tem formação na área de História ou qualquer das Ciências Humanas. Não leu nem sequer um livro de História do começo ao fim e não viveu entre 1964 e 1985.
     Você caro leitor(a), provavelmente não viveu num período onde o salário diminuía na mesma proporção em que banqueiros enriqueciam com empréstimos bilionários com dívidas internas e externas. À censura. Uma época onde democracia se resumia a um bipartidarismo forçado onde o governo controlava ambos os partidos, seja com ideologia ou o braço forte da lei. A inflação galopante que elevava o preço dos alimentos. A precarização e privatização do ensino com a Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Onde homossexuais não podiam servir ao Exército, considerados doentes mentais. Época em que prisões arbitrárias, sem amparo legal tinham o aval do Estado. Onde assassinos são heróis. Golpistas democratas. Submissos das potências estrangeiras patriotas. Um tempo e que tortura era política pública e terrorismo de Estado ação de legalidade constituinte. Você, é um mero produto desse período.
     Antes que venham as acusações, eu não sou filiado a partido político. Não sou sindicalista. Não milito em quaisquer ONGs. Nem pratico esportes radicais!
     Minha legitimidade para falar de Ditadura Militar? Bem, digamos que sou graduando em História. Tenho mais legitimidade do que você, ou um youtuber, um blogueiro, qualquer influencer ou “personalidade da mídia”. E o melhor de tudo, meu argumento se fundamenta em princípios teóricos e empíricos, de pessoas que estudaram décadas para chegar à conclusão de suas pesquisas, sejam elas quais forem.
     Mais que uma crítica, lanço aqui um desabafo. Eu tenho muita vergonha de pertencer a uma geração que tem como único objetivo viver em alucinado egotismo. Pessoas que tem como única preocupação adquirir curtidas de pessoas tão acéfalas quanto aqueles que postam fotos entupidas de Photoshop. Crianças mimadas carentes de atenção.
     Sinto nojo de uma nação que escolheu candidatos conservadores, que acusam os próximos dos crimes que eles mesmos praticam nas surdinas como os bons hipócritas que o são. De um país que trocou o seu desenvolvimento para ver o seu processo de conquista ruir como um castelo de cartas marcadas. Uma pátria que tem como único objetivo devorar os seus sonhos de seus filhos e filhas. Se incitar o ódio de héteros contra LGBT+, de homens contra mulheres, de jovens contra adultos, de sulistas contra nortistas, de brancos contra negros... de brasileiros contra brasileiros.

Vou deixar aqui referências o suficiente para aqueles que cultivam a ignorância, amorteça o seu despreparo perante a realidade:

LEI Nº 4.024, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1961
Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4024-20-dezembro-1961-353722-publicacaooriginal-1-pl.html> acesso dia 26/03/2019 às 23:29 Hrs

LEI Nº 5.692, DE 11 DE AGOSTO DE 1971
Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5692-11-agosto-1971-357752-publicacaooriginal-1-pl.html>   acesso dia 26/03/2019 às 23:40 Hrs

Reforma tornou ensino profissional obrigatório em 1971
Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/03/03/reforma-do-ensino-medio-fracassou-na-ditadura>    acesso dia 26/03/2019 às 23:48 Hrs

Os currículos de História e Estudos Sociais nos anos 70: entre a formação dos professores e a atuação na escola
Disponível em: <http://snh2007.anpuh.org/resources/content/anais/Elaine%20Louren%E7o.pdf > acesso em 26/03/2019 às 00:02 Hrs

"O desafio de ensinar História durante o regime militar"
Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/o-desafio-de-ensinar-historia-durante-o-regime-militar-ehc3qh8l0viwed9l42wawrz9q/> acesso dia 27/03/2019 às 11:25 Hrs

OS ESTUDOS SOCIAIS E A REFORMA DE ENSINO DE 1º E 2º GRAUS: A “DOUTRINA DO NÚCLEO COMUM”
Disponível em: <http://www.snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1439700335_ARQUIVO_OSESTUDOSSOCIAISEAREFORMADEENSINODE1E2GRAUS.pdf> acesso dia 27/03/2019 às 11:43 Hrs

Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/documents/186968/485895/Estudos+sociais+no+1%C2%BA+grau/4e96a598-50ec-491d-ab72-4ce2c50a9f3d?version=1.3> acesso dia 27/03/2019 às 12:00 Hrs

Decreto nº 66.600, de 20 de Maio de 1970
Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-66600-20-maio-1970-408046-publicacaooriginal-1-pe.html> acesso dia 27/03/2019 às 12:07 Hrs

ARNS, Dom Paulo Evaristo. Brasil: nunca mais. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985.
BANDEIRA, Moniz. O governo João Goulart e as lutas sociais no Brasil (1961-1964). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.
BRITO, Maurício. Capítulos de uma história do movimento estudantil na UFBA (1964- 1969). Salvador: EDUFBA, 2016.

CARDOSO, Lucileide Costa. Criações da memória: defensores e críticos da ditadura (1964-1985). Cruz das Almas-BA: UFRB. 2012.

DANTAS NETO, Paulo Fábio. Tradição, autocracia e carisma: a politica de Antonio Carlos Magalhães na modernização da Bahia (1954-1974). Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Ed. UFMG; IUPERJ, 2006.

DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do estado, ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis-RJ: Vozes, 1987.

FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.). O Brasil republicano: volume 4: o tempo da ditadura: regime militar e movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

_____; REIS, Daniel Aarão (org.). Nacionalismo e reformismo radical (1945-1964). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. (As Esquerdas no Brasil, v. 2).

_____; GOMES, Angela de Castro (org.). 1964: o golpe que derrubou um presidente, pôs fim ao regime democrático e instituiu a ditadura no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.

FICO, Carlos. Além do golpe: versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Rio de Janeiro: Record, 2004.

_____. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, no. 47, p. 29-60, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbh/v24n47/a03v2447.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2019.

_____. O golpe de 1964. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio Vargas, 2014.
_____. Ditadura militar brasileira: aproximações teóricas e historiográficas. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 9, n. 20, p. 05 ‐ 74. jan./abr. 2017. Disponível: <http://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180309202017005>. Acesso em: 13 mar. 2019.

FIGUEIREDO, Argelina Cheibub. Democracia ou Reformas? Alternativas democráticas à crise política: 1961-1964. São Paulo: Paz e Terra, 1993.

GASPARI, Elio. A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
JOSÉ, Emiliano; MIRANDA, Oldack. Lamarca: o capitão da guerrilha. São Paulo: Global, 2004.

LEME, Caroline Gomes. Ditadura em imagem e som: trinta anos de produções cinematográficas sobre o regime militar brasileiro. São Paulo: Ed. UNESP, 2013.

LIMA, Thiago Machado de. Pelas ruas da cidade: o golpe de 1964 e o cotidiano de Salvador. Curitiba: CRV, 2018.

MENDONÇA, Sônia Regina de; FONTES, Virgínia Maria. História do Brasil recente: 1964- 1992. São Paulo: Ática, 1994.

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As universidades e o regime militar: cultura política brasileira e modernização autoritária. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.

NAPOLITANO, Marcos. O regime militar brasileiro: 1964-1985. São Paulo: Atual, 1998.

_____. O golpe de 1964 e o regime militar brasileiro. Revista Contemporánea: história y problemas del siglo viente. Montevideo, v. 2, p. 209-218, 2011. Disponível em: <http://www.geipar.udelar.edu.uy/wp-content/uploads/2012/07/Napolitano.pdf>. acesso em: 13 mar. 2019.

_____. 1964: História do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014.
PAES, Maria Helena Simões. A década de 60: rebeldia, contestação e repressão política. São Paulo: Ática, 2001.

REIS FILHO, Daniel. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. São Paulo: Jorge Zahar: 2000, p. 33-73.

_____. Ditadura e democracia no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.


Biografia:
Caliel Alves nasceu em Araçás/BA. Desde jovem se aventurou no mundo dos quadrinhos e mangás. Adora animes e coleciona quadrinhos nacionais de autores independentes. Começou escrevendo poemas e crônicas no Ensino Médio. Já escreveu contos, noveletas, resenhas e artigos publicados em plataformas na internet e em algumas revistas literárias. Desde 2019 vem participando de várias antologias como Leyendas mexicanas (Dark Books) e Insólito (Cavalo Café). Publicou o livro de poemas Poesias crocantes em e-book na Amazon.
Número de vezes que este texto foi lido: 52940


Outros títulos do mesmo autor

Resenhas ZAGENIA – DEGUSTAÇÃO Caliel Alves dos Santos
Contos (RE)FABULOSO Caliel Alves dos Santos
Contos O NEFALISTA Caliel Alves dos Santos
Artigos QUEM QUER SER UM CAMPIONE? Caliel Alves dos Santos
Resenhas SINESTESIA MONOCROMÁTICA Caliel Alves dos Santos
Poesias CAPITÃES DO MATO DO SÉC. 21 Caliel Alves dos Santos
Poesias SEX APPEAL Caliel Alves dos Santos
Resenhas UNIVERSO IMAGÍSTICO – DEGUSTAÇÃO Caliel Alves dos Santos
Artigos DOSSIÊ – COMO PROMOVER E PUBLICAR MANGÁS NO BRASIL Caliel Alves dos Santos

Páginas: Primeira Anterior

Publicações de número 131 até 139 de um total de 139.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
MIL E UM CORAÇÕES - orivaldo grandizoli 52801 Visitas
Um - ANDERSON CARMONA DOMINGUES DE OLIVEIRA 52801 Visitas
Depois de você... - Lis de Vênus 52801 Visitas
pesadelos - Bia Costa 52801 Visitas
Os Escravos Divinos - Kedson Cabral 52801 Visitas
Amar é pecado - Lara Lemos 52801 Visitas
Iniciante - Renato da Silva varella 52801 Visitas
EU MAIS A ROSA - orivaldo grandizoli 52801 Visitas
Filha da mãe viciada - Hellen Guimarães 52801 Visitas
A gravata azul - JESSICA QUEIROZ COUTINHO 52801 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última