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SONHOS DE UMA NOITE DE VERÃO NA AMAZÔNIA
LICA NEAIME

Resumo:
Um casal de namorados descobre que a moça está gravida, mas como as famílias não aceitam o namoro fogem para Manaus.Procuram a Mãe do Mato que visa das dificuldades do caminho. Lá, em Manaus se perdem um do outro e terão que passar por três provas difíceis para poder ficar juntos novamente.

SONHOS DE UMA NOITE DE VERÃO NA AMAZÔNIA

CENA 1
(NONATO PESCA. TEMPO. MARIA OBSERVA COM TRISTEZA.)
MARIA_ Solte essa piranha, amor. Ela é tão novinha ainda, no futuro vai nos dar um cardume inteiro. Agora, não tem serventia pra nada, amor.Joga no rio de novo...
NONATO_ Que houve? Você está tão calada hoje, meu amor. Está estranha. Só falou pra soltar a piranha, não disse uma só palavra a manhã inteira. Esta bem, solto a piranha, é pequena demais mesmo. O que você tem?
MARIA_ Nonato, eu acho que estou grávida, falei com Márcia, Andréa e Filomena. Todas confirmaram as minhas suspeitas
NONATO_ Suas amigas não entendem nada de gravidez. Vamos falar com a Mãe do Mato. Ela pode dizer coisas belas...
MARIA_ ...E coisas terríveis.
(CAMINHAM)

CENA 2
NONATO_ Por aqui, cuidado com as raízes. A casa dela é cercada por seringueiras, como se fosse um muro de proteção. Silencio.
MARIA_ Tá cheio de insetos aqui. Olha já fui picada mil vezes no corpo todo.
NONATO_ Até parece que você não está acostumada com isso. Aqui na Floresta Amazônica o que não falta são insetos, de todas as cores, de todos os tamanhos, de todas as formas. Já disse, silencio!
(DO MEIO DAS RAIZES GIGANTESCAS APRECE UMA VELHA, MUITO VELHA E MAGRA, COMO SE FOSSE UMA RAIZ FALANTE. FLUTUA NO AR, MAS OS JOVENS NÃO PERCEBEM, SÓ O PUBLICO)
MÃE DO MATO_ Podem se assentar, meus filhos. Eu estava esperando vocês. Demoraram um pouco, é verdade, acho que com a idade estou ficando mais ansiosa. Pode falar, moço Nonato.
MARIA_ É que eu acho que....
MÃE DO MATO_ Eu disse moço Nonato. Moça Maria fica calada.
MARIA_ Desculpe, Mãe do Mato. Como é que ela sabe meu nome?
NONATO_ Eu e a Maria estamos namorando faz seis meses e ela acha que está grávida, Mãe. Mas o pai dela não pode me ver nem coberto de ouro. E eu não tenho condição de casar agora. Ganho pouco como seringueiro, não tenho nem uma estrada só pra mim, ajudo o pai. A senhora sabe, né?
MÃE DO MATO_ Sei. (PEGA UMAS FOLHAS AMASSA E SOCA NO PILÃO) Esfrega nos olhos, Nonato. Você também Maria. (ELES OBEDECEM)
NONATO_ Tô vendo a cidade grande. Tem umas máquinas esquisitas que soltam fumaça e correm muito.
MÃE DO MATO_É a desgraça, o progresso. Cuidado.
MARIA_ Tô vendo minha filha nascer. É uma menina com a cara do pai, cabelo pretinho como as asas da graúna. Olhos de tição brilhante. Parecem duas pedras do rio. Não é filha do boto não, é filha de gente, graças a Deus.
MÃE DO MATO_ Então, você está grávida mesmo. E a criança vai nascer. Nada de fazer besteira, façam as coisas como se deve. Já viram o suficiente, podem partir. Cuidado com a floresta á noite, principalmente na hora da Ave-Maria, às seis horas da tarde.
NONATO_ Mas....
MÃE DO MATO_ Eu disse: podem partir.
MARIA_ Vamos que esse lugar me dá medo, Nonato.
(CAMINHAM)
FILOMENA_ Maria! Nonato! Que bom encontrar vocês. Quero convidá-los para meu casamento. No próximo sábado as quatro da tarde, depois da tempestade que sempre cai nesse horário. Se você estiver mesmo grávida, querida, poderia aproveitar e casar junto comigo. Meu pai vai dar um churrasco. Já mandou matar um boi, dois cabritos e uma tartaruga gigante. E vai ter muito peixe frito também. Vocês podem aproveitar a festa. Estou colhendo frutas para enfeitar a mesa e fazer refrescos. Tchau.
MARIA_É uma idéia, não acha? Casarmos juntos com Filomena e Martinho.
NONATO_ Eu não me caso no mesmo dia que essa cobra, de jeito nenhum. Lembra que ela deu em cima de mim, mesmo sabendo que já estava namorando você. E seu pai não ia deixar. Lembre-se que seu pai me odeia.
MARIA_É mesmo...
NONATO_ Mas... podemos fugir! Eu vi a cidade grande na minha visão. É pra lá que nós vamos. Vamos ser felizes, só nós dois e nossa filhinha.
MARIA_ A Mãe do Mato falou em desgraça.
NONATO_ Mas falou também em progresso. Vamos Maria, vamos ser felizes juntos.
MARIA_T á bom, vou escrever uma carta pra mãinha, e depois que a criança nascer a gente volta, tá?
NONATO_ Tá! A gente se encontra hoje às seis da tarde naquela capoeira perto da casa da Mãe do Mato. É a hora que todos vão à igreja pra Ave Maria, não fica ninguém na margem do rio. Leva pouca coisa, só uma trouxa com roupa e um pouco de comida. Tchau. Não fica preocupada, tudo vai dar certo. Eu levo uma canoa pra fuga.
MARIA_E se a Mãe do Mato for a o Matinta Perera? Pode brincar com a gente, enganar, fazer armadilha...
NONATO_ Ela não voa como pássaro, o Matinta não toca os pés no chão. Se for, é e pronto.
(SAI. VE-SE UM ROSTO ATRAS DE UMA ARVORE ESPIANDO. MARIA CONTINUA CAMINHANDO.)


CENA 3
BOTO _Que vontade de namorar que me dá quando ponho os pés na terra firme! Pena que sinto tanta dor nas pernas....
IARA_ Namora comigo, boto! Que eu também sou das águas...
BOTO _Sai pra lá Iara, que de água já estou farto. Gosto mesmo é de moça donzela, levo pro mato e levo a virgindade dela comigo. Moça bobinha, inocente, se deita sem nem se aperceber. Faço tudo com elas e desapareço.
IARA_ E deixa filho solto no mundo sem pai e deixa a pobre moça falada, até expulsa de casa, Você não presta boto safado!
BOTO_ Vem comigo Iara, e vou te mostrar maravilhas jamais imaginadas pelos simples mortais.
IARA_ Vem comigo, boto e te darei um pouco de juízo nessa tua cachola oca.
BOTO_ Não quer vir comigo?Vou levar a moça grávida pra meu reino das Águas Doces, moça bonita, eu gosto muito dela. Adeus. Perdeu sua chance de ser feliz comigo, de viver aventuras nunca dantes imasginadas. Tchauzinho, trouxa....
(BOTO SAI. IARA CHAMA A LUA QUE DESCE DO URDIMENTO)
IARA_ Mãe Jaci, Lua dos apaixonados, desça daí do céu e vem ajudar sua filha das águas claras.
JACI _ Pode falar minha filha, sua mãe do céu vem te socorrer. Fala, Iara!
IARA_ Eu quero o boto pra meu marido. Ele não presta, mas eu gosto dele mesmo assim. Por favor, tira essa Maria do meu caminho, pra o boto olhar pra mim apaixonado.
JACI _ Posso até dar um jeito na Maria. Mas nada garante que o boto vai se apaixonar por você, Iara, mãe d’água. Cuidado com as coisas que pede. Pode pedir a coisa errada, querida.
IARA_ Eu tenho certeza que vou ser feliz com esse malandro, tenho certeza, é só tirar as moças solteiras e essa Maria do meu caminho....
JACI _ Mas sempre vão haver muitas moças solteiras pelo rio acima e rio abaixo. Não posso controlar todas elas, nem você pode fechar os olhos dele pra todas elas.
IARA_ Faça a sua parte que eu cuido da minha. Isto é, vou garantir que o boto olhe só pra mim.


CENA 4
MARIA_ Ainda bem que mainha e painho não estão em casa agora. Só uma muda de roupa e comida. Essa saia está boa, a camiseta, o chinelo de dormir? Não precisa. Um pouco de arroz com feijão e farinha. O Nonato come muito, é melhor levar a panela toda. (COLOCA AS PANELAS NA SACOLA) Agora vou deixar um bilhete. Vejamos. “Painho e mainha. Desculpe essa filha que lhes ama muito, mas vou atrás da minha felicidade, vou pra cidade grande, lá não tem tanto preconceito como aqui na Floresta. Estou grávida, mas estou muito feliz. Vou morar com o Nonato. Desculpe painho, mas gosto dele de verdade. O senhor não gosta dele, mas eu o amo e isso que importa. O amor.
ROSTO ESPIANDO ESCONDIDO_ Mas será que ele gosta de você de verdade? O amor é muito complicado. A pessoa pensa que gosta, mas não ama. Vamos ouvir...
MARIA_ A Mãe do mato disse que vou ter uma menina e ela é linda, de olhos negros de tição e cabelos como a asa da graúna. Eu volto assim que minha vida estiver resolvida na cidade grande. A benção de sua filha que lhes ama muito. Maria.” Tá bom, não preciso explicar mais nada....Adeus, um dia eu volto.... (CAMINHA NA MATA ATÉ A BEIRA DO RIO) É aqui que Nonato combinou de me encontrar com uma canoa.Já está anoitecendo e aqui me dá medo (SONS DA MATA, PIOS, RUIDOS DE GALHOS QUEBRADOS, ETC).Viajar de noite não é bom, a gente podia encostar num canto do rio, dormir e seguir viajem pela manhã.A lua está surgindo.Que beleza, é um bom sinal. Uma luz nessa escuridão.(BOTO SE APROXIMA,MUITO ELEGANTE, SENTE DOR NAS PERNAS MAS DISFARÇA)
BOTO_ Boa noite, Maria. Nonato disse que estaria aqui esperando. Mas ele não conseguiu trazer a canoa até aqui. Pediu pra te levar até ele. Deixe que eu carregue sua sacola.
MARIA_ Obrigada, moço, mas o senhor não é daqui. Não lhe conheço.
BOTO_ Sou primo de Nonato. Vim conhecer a mata dos seringueiros, sou da cidade grande. Venha, ele está lhe esperando. Estou com muita dor nas pernas, levei um tombo feio ao descer do barco, vamos logo. (MARIA FICA INDECISA, MAS SEGUE O MOÇO)
BOTO_ Nonato falou que está esperando um filho dele. Que vão morar bem longe daqui. Ofereço minha casa para viverem uns tempos na cidade grande.
MARIA_ Muito obrigada, eu aceito o oferecimento.
BOTO_ Aceita mesmo?
MARIA_ Aceito. Muito obrigada de coração. (BOTO FAZ UM PASSE MÁGICO E ELES SE ENCONTRAM NO REINO DAS ÁGUAS DOCES. SERES MUITO COLORIDOS COMO PEIXES FAZEM AS MUDANÇAS DE CENÁRIO) Onde estamos? Que lindo aqui.
BOTO_ Aqui é minha casa. O Reino das Águas Doces. Você aceitou e cá estamos.
MARIA_ E Nonato? Vamos voltar, por favor. Aceitei só se ele viesse junto, por favor. Você é o boto. Me enganou, seu malvado, mentiroso.Devia ter adivinhado, com dor nas pernas...só podia ser o boto.Que tola eu fui.
BOTO_ Não adianta me bater, querida. Vai viver aqui até que....
MARIA_ Até o que?
BOTO_ Até que seu bebê nasça e só depois de cumprir todas as três tarefas que eu determinar.
MARIA_ Três tarefas? Pode dizer que eu faço.


CENA 5
NONATO_ Maria está demorando tanto...falei pra trazer pouca coisa e vir rápido. Nossa, a Lua está descendo...... Jaci, vejo seu rosto na Lua, Jaci a deusa indígena. Que linda.
JACI (VESTIDA DE NOIVA INDIGENA)-Moço bonito, você fica comigo? Meu noivo, o Sol, me abandonou no altar, não quis casar comigo. (CHORA)
NONATO_ Sim, que noivo cruel. Eu estou fugindo para poder ficar com minha namorada, mas ela está demorando. (ABRAÇA JACI) Não sabia que a Lua e o Sol iam se casar....
JACI _ Isso foi há muitos milênios atrás. Por isso fiquei morando bem longe dele, aquele malvado.
NONATO_ Milênios? E você continua chorando? Com tantos astros lindos no firmamento para casar com você. Veja Marte, o planeta vermelho. Plutão o planeta anão, Saturno com seus anéis brilhantes. Alí está Vênus tão linda e brilhante. Nenhum deles lhe interessa?
JACI_ Não! Você me ajuda a bolar um plano pra atrair o Sol novamente?
NONATO_ Sim, claro!
JACI _ Diz que vai me ajudar... que vai ficar comigo.
NONATO_ Sim, eu vou te ajudar, vou ficar com você até que um plano seja bolado.
(MUDANÇA PARA O REINO LUNAR. SERES PRATEADOS FAZEM AS MUDANÇAS DE CENÁRIO) Ei, onde estamos?
JACI _ No meu reino, o Reino Lunar. Veja, aqui foi onde os astronautas pousaram com a nave espacial. Eu fiquei escondida aqui, só espiando. Se eles fizessem algo contra a Lua eu era capaz de.... mas deixa isso pra lá. Eles não tem vindo mais. Você disse que ia me ajudar...
NONATO_ Nosso trato não dizia que você ia me trazer pra morar na Lua! Você me enganou. Assim não te ajudo e pronto.
JACI _ Se não me ajudar vai ficar preso para sempre.
NONATO_ Eu te ajudo, se me prometer que me devolve pra Terra, pra minha Maria.
JACI _ Ai, Maria de novo? Você não poderia se apaixonar por mim?
NONATO_ Acho que não, desculpe, mas sou sincero.


CENA 6
(REINO DAS ÁGUAS DOCES)
BOTO_ Eis o Reino das águas Doces. Veja, aqui é o Rio Solimões, ali o Rio Negro, adiante o Rio Xingu, ali o Madeira, bem aqui em cima está Manaus.
MARIA_ Você falou em três tarefas. Diga logo pra eu cumprir e ficar livre de uma vez. Se eu cumprir todas, você me deixa livre, não é verdade? Diga logo, espero que sua palavra tenha valor, como todo homem que se preza.
BOTO_ Eu não sou homem, querida. É só na aparência. Mas tenho uma só palavra como todo peixe que se preza. A primeira tarefa. Recolher todo lixo das águas, e colocar naquela sala ali para não sujar as águas.
MARIA_ É pra já. Uma garrafa boiando aqui, um pneu caído ali. Papel, vidros, embalagens de plástico. Nossa, é muito lixo, não vou dar conta de limpar todo o Reino das Águas Doces.
BOTO_ Azar o seu, adeus! Volto amanhã bem cedo. Você tem a noite inteirinha para fazer isso. Adeus. Se não realizar a tarefa já sabe, fica minha prisioneira para sempre. Até amanhã. (BOTO SAI. MARIA CHORA, PARA E REZA)
MARIA_ Minha Nossa Senhora dos Aflitos , me ajudai nesse momento tão difícil.Tenho que recolher todo o lixo desse Reino e não sou capaz de realizar essa tarefa em uma só noite.Tudo culpa dessas pessoas que acham que o rio é lixeira e jogam tudo aqui dentro?Por favor, vos peço que me ajude a sair daqui e rever o pai da minha filha. Piranha!O que faz aqui?
PIRANHA_ (ENTRA FLUTUANDO, BRILHA MUITO) Hoje cedo você salvou minha vida, menina. Hoje à noite eu vou te ajudar. Não se preocupe. Vou chamar minhas companheiras e em poucas horas todo o lixo estará nesse compartimento. Deita e descansa, precisa cuidar bem da criança que levas no ventre. Nada de tristezas e angustias, faz mal pro bebê. (MARIA DEITA E IMEDIATAMENTE COMEÇAM A SER ATIRADOS TODO O LIXO NO COMPARTIMENTO ATÉ ENCHÊ-LO.) Acorda, Maria. Essa tarefa já esta realizada.. Para a próxima tarefa, peça um burrico que esta preso na entrada da sua cidade,.
MARIA_ O burrico do seu Mané. Mas ele é fraco e velho.... não pode ser de grande ajuda.
PIRANHA_ Apenas faça o que te peço. Confia em mim. Ele corre como o vento dentro da água. Basta que lhe dê um afago e um beijo. Ele gosta muito de você que sempre o tratou com amor e respeito. Não se intimide nunca com o boto. Estarei sempre lhe ajudando, mesmo que não me veja.
(BOTO ENTRA, ESPERANDO VER A TAREFA INCOMPLETA. LEVA UM SUSTO E TEM CRISE HISTÉRICA)
BOTO_ O que é isso? Você conseguiu limpar tudo? Não é possível. Então, vejamos a próxima tarefa. Um peixe-boi está preso numa rede de pesca, próximo da foz do Amazonas, perto da ilha de Marajó. Quero que vá salvá-lo, antes que o levem pra fora do país. Um navio europeu está pronto para recolher a rede. Dou-te duas horas para salvar o peixe boi.
MARIA_ Está certo, mas como fica muito longe, peço que me traga o burrico do seu Mané, que está amarrado numa cerca na entrada da minha cidade, para me carregar até lá.
BOTO_ Aquele burrico velho e magricela? Está bem. (PASSE MÁGICO) Ele está vindo logo ali. Bom proveito. Mas desta vez vou ficar vigiando pra ver se cumpre mesmo a tarefa.
MARIA_ Fique à vontade. É só me dar o burrico Sereno e esperar as duas horas do prazo.
(ENTRA BURRICO VELHO E CANSADO. MAS AO SER ACARICIADO POR MARIA REJUVENECE E SE FORTALECE. MARIA SOBE NO BURRICO QUE SAI CORRENDO COMO O VENTO)
BOTO_ Nossa! Ele parece velho, mas voou como o vento em terra firme. Vamos esperar... Estou exausto e não vou correr atrás deles. (DEITA. FAZ SINAL E UMA SEREIA VEM SERVIR-LHE ALGO PARA COMER. DORME NINADO POR ELA.)

CENA 7
NONATO_E então? Que tenho que fazer para voltar para a Maria?
JACI _ Esqueça essa moça tola, engravidar nesses tempos modernos, só se for muito tola. Deixa-a pra lá, venha ser feliz na Lua onde nada pode te entristecer. Aqui é só felicidade, Nonato.
NONATO_ Não! Felicidade é ser dono da própria vida é fazer o que queremos. Trabalhar para crescer, formar uma família, ver os filhos crescendo. É isso que quero pra mim. Essa é a felicidade que desejo, envelhecer junto dos meus, das pessoas que amo e que me amam.
JACI _ Eu te amo mais que qualquer mortal. Fica comigo. Ou eu começarei a minguar até desaparecer.
NONATO_ Não! Já disse, quero voltar lá pra terra, onde quero viver e morrer em paz.
JACI _ Aqui não precisa morrer, pode ser eterno. Fica.

CENA 8
(BOTO DORME NOS BRAÇOS DA SEREIA. MARIA VOLTA COM O BURRICO. ACORDA-O)
MARIA_ Pronto, minha missão está cumprida. Soltei-o bem a tempo. O navio já estava a rebocá-lo para águas internacionais, onde ninguém ia perceber o roubo. Agora, cuide bem dele, antes que não haja mais nenhum da espécie por aqui. Solte-me agora.
BOTO_ Ainda não, minha querida! Tem certeza que não quer viver comigo para sempre nesse reino? (TENTA BEIJA-LA)
MARIA_ Tenho! Quero voltar lá pra cima. Já podia ter ficado lá em cima, mas não podia abandonar o peixe-boi, por isso voltei.
BOTO_ Muito bem, você tem palavra. Pela sua honestidade vou mandá-la lá pra cima, sem pedir a ultima tarefa e a sua filha que vai nascer.. Adeus. Tome uma barbatana da minha cauda. Se algum dia precisar de mim é só chamar. Peça o que precisar e terá sem ter que me pagar nada. Vai!

CENA 9
JACI _ Está bem, vou mandá-lo lá pra baixo, vai precisar descer a escada de Jacó. Se cair, vai morrer, mas se conseguir descer vai ser feliz com a sua Maria. Pode descer a escada começa ali. (ESCADA DE CORDA SURGE DO URDIMENTO)


CENA 10
(PASSE DE MÁGICA. MARIA ESTÁ EM MANAUS)
MARIA_ Nossa, a cidade grande! Céus! E o que faço agora? Com essa barriga grande não vou nem poder arranjar emprego. Vou pescar e vender peixe frito. (PEGA A BARBATANA) Preciso pescar muito peixe e peço a ajuda do reino das águas doces. (PEGA UM GALHO AMARRA UMA LINHA E SE SENTA PARA PESCAR. OS PEIXES SE ATIRAM SOBRE ELA, QUE OS RECOLHE E TIRA AS ESCAMAS)


CENA 11
NONATO_ (DESCENDO A ESCADA) Nossa, essa escada não acaba nunca, minhas pernas já estão ficando doloridas. Mas preciso ter muito cuidado para não cair e morrer, logo agora que vou reencontrar a Maria. Graças a Deus, fiquei livre daquela louca. Mas, estou descendo na cidade grande, como a Mãe do Mato falou. Que bom, me poupa a viagem de vir. Nossa, as máquinas que correm, elas estão cheias de gente dentro. As pessoas se deixam engolir por uma máquina? Elas parecem felizes. (PARA UM TRANSEUNTE) Por favor, senhor, como faço pra conseguir um emprego aqui na cidade grande?
HOMEM_ O senhor compra um jornal, procura o que quer, pega o ônibus e vai até o emprego, leva currículo, foto, documento, CIC, RG, titulo de eleitor, carteira de vacinação, chapa do pulmão e faz a entrevista. Depois espera ser chamado. Pode demorar alguns dias ou meses.... Pelo jeito você não é daqui, né?
NONATO_ Não senhor. Preciso conseguir emprego pra casar com a minha Maria e cuidar da nossa filha que vai nascer logo, logo.
HOMEM_ Eu vou te ajudar, rapaz. Você não deve ter dinheiro pra comprar jornal, tirar documentos, pagar o ônibus. Venha comigo que vou te levar até o cais, é aqui perto, lá eles sempre contratam carregador de mercadorias, precisa ser jovem e forte assim como você. Venha, me siga.
(NONATO FICA MEIO RESSABIADO, MAS SEGUE O HOMEM ATÉ O CAIS ONDE MARIA PESCA E VENDE PEIXES).


CENA 12
HOMEM_ Por aqui, vou te apresentar o gerente daqui.
NONATO_ Um momento, moço, estou vendo a Maria. Só um minuto que vou falar pra ela me esperar. (MULTIDÃO DE PESSOAS ATRAPALHA O REENCONTRO)
MARIA_ Peixe frito na hora, quem vai querer? Pode escolher no isopor e eu frito em três minutinhos. Peixe frito. Ai, meu Deus, minha Nossa Senhora dos Aflitos. Achei o seu pai, filhinha.
(MUDANÇA DE LUZ. FOCO SÓ NOS DOIS TUDO O MAIS DESAPARECE MUSICA ESPECIAL PARA O REENCONTRO. ELES CORREM EM CAMERA LENTA E SE ABRAÇAM. MARIA TRAZ A FILHA EMBRULHADA E AMARRADA AO PEITO)
MARIA_ Olha sua filha, Nonato já nasceu! Pensei que nunca mais ia te ver de novo, já procurei pelos quatro cantos da cidade.
NONATO_ Que linda, olhos de tição e cabelos da cor das asas da graúna. O sorriso lindo da mãe, a boquinha e as sobrancelhas são do pai.
HOMEM_ Rapaz, vamos logo, que tenho hora pra voltar pro meu serviço. Você quer ou não quer o emprego?
NONATO_ Já volto, amor. Não saia daí. Tô indo, moço, só um segundinho, que minha filha já nasceu. E preciso tratar do casório também. (SAI COM O HOMEM. VOLTA E ABRAÇA MARIA. BOTO, IARA E JACI ENFEITAM OS DOIS PRO CASAMENTO)

FIM
SUGESTÕES, CRITICAS, AUTORIZAÇÕES:
texto de LICA NEAIME
TEL: (11) 37313666
END:R. Gastão do Rego Monteiro, 368_ Jardim Bonfiglioli- Capital _S.P.
CEP:05594-030
E-MAIL:licaneaime@ig.com.br
Como não sou filiada à SBAT todos os meus textos são registrados na BIBLIOTECA NACIONAL e autorização para montagens ou leituras podem
ser feitas diretamente com a autora ou no Departamento Jurídico da Cooperativa Paulista de Teatro


Biografia:
Formada pela em Artes Cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da USP, atriz, bailarina, cenógrafa, figurinista, bonequeira, entre tantas outras atividades. Ganhou os prêmios: Molière, Mambembe, Governador do Estado e Mutirão, por textos infanto-juvenis. Dramaturgia. Ganhou os prêmios: Molière, Mambembe, Governador do Estado e Mutirão, por textos infanto-juvenis. SUGESTÕES, CRITICAS, AUTORIZAÇÕES: texto de LICA NEAIME TEL: (11) 37313666 END:R. Gastão do Rego Monteiro, 368_ Jardim Bonfiglioli- Capital _S.P. CEP:05594-030 E-MAIL:licaneaime@ig.com.br Como não sou filiada à SBAT todos os meus textos são registrados na BIBLIOTECA NACIONAL e autorização para montagens ou leituras podem ser feitas diretamente com a autora ou no Departamento Jurídico da Cooperativa Paulista de Teatro Os alunos da Escola Célia Helena têm prévia autorização de montagem apenas me informando a data da estréia e da temporada.
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