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AS SOGRAS
Roberto Machado Godinho

Resumo:
Roberval, professor neurótico, se vê obrigado a receber em seu humilde apartamento as suas três sogras. Para sua infelicidade, ainda tem que conviver com uma mãe esclerosada no mesmo espaço. As "senhoras" vão mudar toda a rotina da casa. Vale a pena conferir.

Personagens:

Roberval – É um professor neurótico que vive sempre estressado. Além de aturar alunos adolescentes, é obrigado a conviver com a mulher, a sua mãe e a suas três sogras enfiadas em seu apartamento.

Leila – Esposa de Roberval. É uma mulher prática e dinâmica. É ela que administra os conflitos da família.

Rosa – Sogra de Roberval. É uma mulher inteligente e atraente, porém é muito insegura .

Sandrão – Companheira de Rosa. É uma mulher extremamente possessiva. Ela se considera sogra de Roberval.

Margarida – É a segunda mulher do pai de Leila. Ela também se acha sogra de Roberval. . Tem uma atração pela Sandrão, companheira de Rosa.

Violeta - É a mãe de Roberval. É completamente sem censura. Já dá sinais de esclerose. Vive atrapalhando a vida do casal. É separada, mora com a filha mais nova, porém adora viver enfiada na casa do filho. Tem uma admiração muito grande pela Rosa.














CENA 1

(Roberval entra em cena, sua mulher se encontra sentada no sofá da sala.)

Roberval – Boa noite querida!

Leila – Boa noite!

Roberval – Meu dia foi um inferno. Eu...

Leila – Não precisa falar. Já sei! Estressou-se na escola com os alunos.

Roberval – Como adivinhou?

Leila – Você fica sempre com essa cara de bunda, quando se estressa com a mamãe ou com seus alunos. Como mamãe não está com a gente, não foi difícil adivinhar.

Roberval – Eu não estou mais aturando adolescente. Só de pensar que ainda faltam muitos anos para me aposentar, fico mais nervoso.

Leila – Só faltam mais três anos para você se aposentar.

Roberval – Uma eternidade!

Leila – Não faça drama querido.

Roberval – Drama! Você não imagina o sufoco que é dar aula para aluno que não tem a menor consideração pelo seu trabalho.

Leila – Não exagera. Lembre-se! Eu também sou professora.

Roberval - Aposentada!

Leila – Ah Roberval! Aposentei-me este ano.

Roberval – Se eu também tivesse a sorte de ter nascido mulher, também já estaria aposentado. Não sei por que professora tem o direito de se aposentar com 25 anos de trabalho e o professor só com 30 anos.

Leila – Porque você não muda de sexo? Hoje em dia, com o avanço da medicina, é possível.

Roberval – Você pensa que eu não cogitei isto. Cheguei até a comentar esta possibilidade com o agente pessoal lá da escola.

Leila – Não estou acreditando no que acabei de ouvir.

Roberval – Verdade!

Leila – E o que o agente pessoal falou?

Roberval – Que é possível. Desde que eu faça uma cirurgia para mudança de sexo.

Leila – Então porque você não faz?

Roberval – Eu teria que mutilar. Você sabe...

Leila – Eu sei! Mas qual é o problema?

Roberval – O problema é que eu não vivo sem ele.

Leila – Eu não posso falar o mesmo. Há muito tempo já acostumei a viver sem ele.

Roberval – O que a senhora quis insinuar?

Leila – Naaada! Esquece Roberval! Vamos mudar de assunto.

Roberval – Melhor mesmo.

Leila – Querido, eu tenho duas novas para te contar depois do jantar. Uma boa e uma... Não tão boa.

Roberval – Conte agora. Do jeito que você falou... Eu fiquei curioso.

Leila – Tudo bem! Para não deixá-lo ansioso...

Roberval – Fala logo criatura!

Leila – Este ano, não vamos precisar viajar para Juiz de Fora para passar Natal com a mamãe.

Roberval – Não? Que maravilha... O que fez você mudar de plano?

Leila – O e-mail que recebi da companheira da mamãe.

Roberval – Da Sandrão?

Leila – De quem mais poderia ser?

Roberval – Sei lá... Sua mãe poderia ter trocado de mulher. Afinal, sua mãe éééé...

Leila – É o que?

Roberval – É ainda uma mulher muito atraente.

Leila – Esperto! Eu sei que não era isto que você ia dizer seu... Seu preconceituoso!

Roberval – Eu? Preconceituoso? Não me faça rir.

Leila – E você não me faça chorar.

Roberval – Desculpe meu amor. Prometo não fazer mais insinuações maliciosas.

Leila – Promete?

Roberval – Juro que prometo.

Leila – Jura mesmo?

Roberval – Ajoelhado.

Leila – Não precisa. Basta um beijo. (Os dois se beijam)

Roberval – Agora, mate a minha curiosidade. O que Sandrão escreveu no e-mail?

Leila – A não tão boa notícia. Elas virão para o Rio passar as festas de final de ano com a gente. Elas chegarão neste Sábado.

Roberval – Amanhã! Puta que pariu!

Leila – Calma meu amor. Assim que passar o dia de Ano Novo, elas irão embora.

Roberval – Acorda Leila! Ainda estamos em Agosto.

Leila – Querido! Eu sei. Mas é minha mãe. Que posso eu fazer?

Roberval – Você, eu não sei, mas eu posso tomar veneno de rato ou me jogar do vão central da ponte Rio-Niterói.

Leila – Não faça drama. Saiba que eu aturo a caduca da sua mãe o ano todo. E numa boa!

Roberval – Não é verdade!

Leila – É sim! Sua irmã ,quando fica de saco cheio, despacha a velha pra cá.

Roberval – Não é sempre.

Leila – Você tem razão. É só nos finais de semana. Ainda por cima, eu que não sou católica, tenho que levar a velha para assistir as missas de domingo. O sofrimento maior é na semana santa. Overdose de igreja na sexta, no sábado e no domingo de páscoa. Acho que é por isso que eu odeio ovos de chocolate.

Roberval – Minha mãe é doente. Você tem que compreender. Eu também tenho que dar a minha cota de sacrifício.

Leila – Então dê! A partir de agora, aos domingos pela manhã, ao invés de ficar sentado com a bunda no sofá, lendo seu maldito jornal, você é quem vai levar a velha à missa e ficar escutando o sermão daquele padre asqueroso... E trate de levar um guarda-chuva. O padre só fala cuspindo. Ah! A sua querida mamãe, por estar ficando surda, só se senta na primeira fila, de cara para o cristo crucificado.

Roberval – É mesmo?

Leila– Sim!

Roberval – Mi fu!

Leila – Já estamos conversados. Agora vai tomar seu banho.

Roberval – Está bem. Estou precisando relaxar.

Leila – Não demore muito debaixo do chuveiro. Já vou começar a providenciar o jantar.

Roberval – Seu pedido é uma ordem.

(Os dois saem de cena)



CENA 2

(Toca a campainha e Leila entra em cena para abrir a porta da sala)

Leila – Mamãe! Quanta saudade.

Rosa – Eu também estava morrendo de saudade. (as duas se abraçam)

Leila– Entre! Cadê a Sandrão?

Rosa – Está subindo as escadas com as malas. Neste prédio, o elevador só é objeto de decoração. Nunca funciona!

Leila – Por que a senhora não interfonou da portaria? Eu pediria ao Roberval para descer e pegar as suas bagagens.

Rosa - Aquele imprestável? É exigir muito. Ele não é capaz nem de levantar a bunda do sofá para abrir a porta para uma visita.

Leila – Mamãe! Não é verdade. O Roberval é um amor de pessoa.

Rosa – Só se for para você. Mas esquece! Estou cansada. Preciso urgentemente de um banho para me relaxar.

Leila– Fique a vontade. Vou providenciar uma toalha para senhora.

(Entre em cena a Sandrão, arrastando as malas.)

Sandrão – Porra! Acabei de pagar todos os meus pecados.

Leila – Coitada! Você deve estar morrendo de cansada.

Sandrão – Deu para notar?

Leila - Subir sete andares carregando estas malas, não é pra qualquer um.

Sandrão - Não é mesmo! Tem que ter culhões!

Leila – Sandrão... Seja bem vinda! Vou buscar um copo de água pra você.

Sandrão – Gelada! Por favor! Minha gata.

Leila – Com licença! Volto já.

(Leila sai de cena)

Rosa – Meu amor! Sente-se aqui no sofá pra descansar.

Sandrão - Tô precisando! Prédio velho é uma merda.

Rosa – Eu já falei para o Roberval alugar um apartamento melhor em um prédio mais novo.

Sandrão - E ele?

Rosa – Disse que mudará para um apartamento melhor assim que professor passar a receber um salário digno.

Sandrão – Vai morrer aqui!

Rosa – O pior... É que minha filha não merece.

(Leilavolta da cozinha com um copo de água)

Leila – Aqui Sandrão! Está geladinha.

Sandrão – Valeu gata!

Leila – Mamãe, eu coloquei a sua toalha lá no banheiro. Eu ficarei fazendo sala para a Sandrão.

Rosa – Já vou... Mas e o seu marido?

Leila – Ainda está dormindo.

Rosa – Já são 11 horas!

Sandrão – O puto é bom de cama!

Rosa – Você quer dizer... Bom de sono.

Leila – Mamãe!

Rosa – Não está mais aqui quem falou. Já estou indo pro banho.

(Rosa sai de cena)

Leila – Sandrão, mamãe e Roberval vivem se espetando. Mas no fundo... Eles se adoram.

Sandrão – Da parte dela já deu pra perceber.

Leila – E Juiz de Fora?

Sandrão – Um frio do caralho!

Leila – Do jeito que você fala, parece não gostar de lá.

Sandrão – Para falar a verdade... Não gosto mesmo! Apesar de já ser uma grande cidade, ainda é muito provinciana. Todo muito se intromete na sua vida. Só estou lá por causa da Rosa. Afinal, com a sua mãe, eu viveria até no inferno.

Leila – Que bonito! Você ama mesmo a minha mãe.

Sandrão – Rosa é tudo pra mim. É uma mulher incrível. Não sei como o seu pai foi capaz de perdê-la.

Leila – Temperamentos diferentes.

Sandrão – Às vezes a química não bate.

Leila – Pode ser, mas vamos mudar de papo?

Sandrão – Desculpe-me. Assunto de família é delicado.

Leila – Muito! Mas e aí? Você gosta do Rio?

Sandrão – Eu sou carioca. Da Tijuca.

Leila – Legal! Então como você conheceu mamãe?

Sandrão – Se eu falar você vai rir.

Leila – Por quê?

Sandrão - Foi num baile da terceira idade. Lá em Juiz de Fora.

Leila – Rá ...Rá ....Rá... Baile da terceira idade? Minha mãe nem gosta de dançar.

Sandrão– Eu sei! Eu também não? Matilde, uma amiga, que eu já peguei, foi que me levou pro baile. A sacana adora frequentar estes bailes só para dar umas esfregas nos homens. Ela me disse que fica excitada quando consegue deixar velho de pau duro.

Leila– Cada fantasia. Mas continue, eu estou gostando do babado.

Sandrão – Matilde também é amiga de sua mãe de longas datas. Sabendo que eu gosto de mulher, ela armou o encontro da gente num destes bailes bregas.

Leila – Que barato!

Sandrão – Aí... Saímos para o abraço!

Leila – Mamãe nunca me contou esta história.

Sandrão – Ela é muito reservada. Eu que sou escancarada. Falo tudo que vem na minha cabeça. Depois dos cinqüentanão dá mais pra censurar nada.

Leila – Já deu para perceber.

(Roberval acorda e entra em cena de pijama)

Roberval – (olhando para Leila sem se dar conta da presença de Sandrão.) Bom dia amor!

Leila - Bom dia!

Sandrão – Bom dia meu genro!

Roberval – (tom irônico) Bom dia sogrona!

Sandrão – Já é quase meio dia. Você dorme pra caralho.

Roberval – Só para acordar bem descansado para receber minha Sogra. Ou melhor... Minhas sogras.

Sandrão – Você é espirituoso.

Roberval – Juro que é só com as minhas queridas sogras.

Leila – Roberval vai tomar o seu café. Mas não come muito. Daqui a pouco, sairemos todos para almoçarmos fora.

Roberval - Quem vai pagar o almoço?

Leila – Você. É claro!

Roberval – Eu? De todo mundo?

Leila – Sim!

Roberval - Eu sou professor, não sou banqueiro.

Leila – Azar seu. Vai pagar sim! Sandrão e mamãe são visitas.

Sandrão – De forma alguma Leila. Detesto ser bancada por homens. Ainda mais professor. Só vive duro.

Leila – Roberval, você escutou esta?

Roberval – Sim! Sou duro, mas não sou surdo.

Leila – Então vai tomar seu café, para melhorar este seu humor.

Roberval – Com licença!

Sandrão - Toda!

Leila – Sandrão, você gostaria de tomar um banho antes de sairmos para almoçar.

Sandrão – É tudo o que eu quero.

Leila – Enquanto mamãe não sai do banheiro. Vou lhe mostrar a casa. Preparei o quarto de visitas para vocês duas ficarem mais a vontade.

Sandrão – Com cama de casal? Brincadeirinha

( As duas saem de cena dando risadas.)


CENA 3

(Leila e Roberval se encontram no sofá da sala enquanto Sandrão e Rosa descansam da viagem no quarto.)

Roberval – Aquelas duas não estão demorando muito no quarto? Já são duas horas?

Leila – Elas estão descansando um pouco. A viagem foi cansativa. Elas já não são brotinhos.

Roberval – Eu acho que elas estão é tirando o atraso. (Roberval faz gesto obsceno)

Leila – Roberval!

Roberval – Sua mãe é chegada e Sandrão tem muita testosterona para queimar.

Leila - Deixe de falar bobagem! Testosterona é hormônio masculino.

Roberval – Eu sei! Foi só foi para enfatizar que a Sandrão bota muito homem no chinelo.

Leila – Inclusive você.

Roberval – Você vai ver logo mais... Na cama! Vou dar três!

Leila – Rá... Rá... Rá...

Roberval – Qual a graça? Está duvidando?

Leita – Não! Você vai dar três tentativas, depois virar de lado, dormir e roncar feito um porco.

Roberval – Pode me esculachar. À noite, na cama, você vai sentir toda a minha virilidade.

Leila – Deus te ouça!

Roberval – Eu não preciso da ajuda de Deus.

Leila – Mas quem sabe... Do Viagra.

Roberval – Engraçadinha! Vamos mudar o rumo da prosa.

Leila – Foi você que começou.

(toca a campainha)

Roberval – Quem será?

Leila – Deve ser alguém conhecido. O porteiro não interfonou.

Roberval – Mamãe!

Leila – Dona Violeta! Ninguém merece.

Roberval – Você não vai abrir a porta?

Leila – Deixa de se folgado! A mãe é sua. Levante a bunda deste sofá e vai abrir a porta antes que ela quebre a campainha de tanto tocar.

Roberval – Tô indo!

(Roberval levanta com bastante desânimo e abre a porta)

Violeta – Que demora em abrir uma porta.

Roberval – Eu estava no banheiro.

Violeta – Cagando?

Roberval – Não mãe! Escovando os dentes.

Violeta – Escovou mal! Ainda está com o hálito horrível! Acho que é dente podre.

Roberval – Eu irei ao dentista na semana que vem.

Violeta – Acho bom! Sua mulher deveria cuidar melhor de você.

(Leila grita do sofá)

Leila – Eu sei cuidar do meu marido melhor que a senhora pensa.

Violeta – Ah Querida! Desculpe-me. Eu não te vi escondida atrás do sofá. Boa tarde!

Leila – Boa tarde dona Violeta, (fala irônica) Quanto tempo à gente não se vê.

Violeta – É mesmo. Por mim, eu viveria aqui com vocês. Mas a minha filha caçula não deixa.

Leila – (em voz baixa) Graças a Deus

Violeta – Eu não escutei direito minha querida.

Leila – (em voz baixa novamente) Surda e inconveniente.

Violeta – Não escutei de novo. Acho que estou perdendo um pouco da audição

Leila – A senhora não está ficando surda. Sou eu que estou meio afônica.

Violeta – Faz gargarejo com casca de romã.

Leila – Vou seguir o seu conselho. Sogrinha!

Roberval – Mamãe, a senhora já almoçou?

Violeta – Já! Vocês não?

Roberval – Ainda não. Sairemos para almoçar fora.

Violeta – Eu posso acompanhar vocês?

Leila – A senhora não prefere ficar aqui descansando e assistindo TV.

Violeta – Não, eu não estou cansada. Na TV não tem nada que presta. Só gosto de assistir a minha novela das oito e o tal Big Brother. Só rola baixaria.

Leila – Quanta intelectualidade!

Roberval – Mamãe, no carro não vai caber à senhora. A Rosa e a Sandrão vão com a gente.

Violeta – A Rosa está aqui e vocês nem me avisaram? Que falta de consideração! Vocês sabem que eu gosto muito da Rosa. Só não suporto aquela sapatão que vive com ela. Além de esquisita é muito mal educada.

Leila – Dona Violeta! A minha mãe tem muita consideração pela senhora. Por isto eu exijo que respeite a companheira dela.

Violeta – Pela Rosa, eu vou me segurar.

Roberval – Obrigado mamãe.

Violeta – Com tantas mulheres sozinhas no mundo, a Rosa merecia alguém melhor.

Roberval – Mamãe! Stop!

Violeta – Meu filho, você anda muito nervoso. Quer que eu prepare agora um chazinho de erva doce pra você?

Roberval – Mais tarde mamãe! Agora vamos todos sair para almoçar. Só estamos esperando as minhas sogras saírem do quarto.

Violeta – Eu vou até lá.

Leila- Eu não aconselho. Elas devem estar ocupadas.

Roberval – É mesmo! As duas devem estar se vestindo.

Violeta – Então vou aguardar a minha querida amiga aqui na sala.

Leila – Acho bom!

Violeta – Meu filho, se a gente se apertar no carro, não cabem os cinco?

Leila – Seria um grande desconforto.

Violeta – Eu perguntei para o meu filho!

Leila – Desculpe minha sogra. (irônica) Roberval, responde para a mamãe.

Roberval – É... Se apertar bem.

Violeta – Obrigada meu filho!
     
Leila – Eu não acredito! Que homem frouxo.

Roberval – Querida! Releva.

Leila – Não tenho outra opção. Tudo bem! Vou adorar me sentir como uma sardinha em lata.

Roberval - Obrigado querida por sua compreensão. Eu te amo!

Leila – Também te amo. (para a plateia) Faz parte do pacote que vem com o casamento.

Roberval – (desconversando) Leila, você não acha que elas estão demorando muito no quarto. Já estou ficando com fome.

Leila – Eu também. Vou lá ao quarto chamá-las.

(Leila sai de cena)

Roberval – Mamãe, a senhora tem de pegar leve. A Rosavai ficar muito chateada se a senhora ficar espetando a Sandrão.

Violeta - Tudo bem! Pela Rosa farei um sacrifício. Vou pegar leve com aquela sapatão.

Roberval – Mamãe!

Violeta – Lésbica!

(Leila, Rosa e Sandrão entram em cena)

Rosa – Violeta, quanto tempo. Você vai bem?

Violeta – Muito bem! Só estava morrendo de saudade de você. Estava até pensando em viajar para Juiz de Fora só para visitá-la.

Rosa - Eu também estava com muita saudade de você. Amanhã poderemos ir à missa das oito, juntas.

Violeta – A sua companheira irá com a gente?

Sandrão – Não! Pode ficar sossegada Violeta. Eu não sou chegada a uma igreja.

Violeta – Além de lésbica, você é ateia?

Leila – Dona Violeta!

Sandrão – Deixe-a. Sou lésbica, porém acredito em Deus. Só não tenho religião.

Violeta – Já deu para perceber.

Rosa - Não querendo interromper... Já não está na hora da gente sair para almoçar.

Roberval – Vão descendo. Eu vou pegar a chave do carro que está no meu quarto.

Todas ao mesmo tempo – Vamos!

(Todos saem de cena.)




CENA 4

(Todos entram em cena após o retorno do almoço.)

Roberval – Gostaram do restaurante?

Rosa – Adorei, a comida estava ótima.

Sandrão – O filé com fritas que eu comi estava divino.

Leila – Eu também gostei muito. É tão bom sair da rotina.

Violeta – Achei o lugar horrível. E a comida muito salgada.

Leila – Salgada... Mas a senhora caiu dentro. A senhora tem certeza que já tinha almoçado antes?

Violeta – Minha nora querida... Eu ainda não estou esclerosada. Só provei da comida. Quis me certificar se a comida do restaurante prestava.

Leila – Provar é comer quase um quilo?

Violeta – Você está exagerando. Eu só provei. E não aprovei.

Rosa – Interrompendo... Vou para o quarto tirar uma sonequinha. A Viagem foi cansativa. Mais tarde a gente se fala.

Sandrão – Eu te acompanho. Também estou com um pouco de sono.

Roberval – Mamãe, a senhora também não quer descansar um pouco?

Violeta – Não! Prefiro ficar aqui na sala na companhia agradável de vocês.

(Rosa e Sandrão saem de cena.)

Leila – Roberto, você fica fazendo sala para sua mãe. Eu vou para o nosso quarto descansar um pouco.

Roberval – Está bem, ficarei conversando com a mamãe. Bom descanso !

(Leila sai de cena)

(Violeta, sentada no canto do sofá, faz gesto para Roberval deitar no seu colo.)

Violeta – Deite aqui no colinho da mamãe. Eu te farei uns cafunés enquanto a gente bate um papo.

Roberval – Está bem mamãe. Não existe coisa melhor que colinho de mãe para relaxar.

(Roberval deita no sofá e recosta a cabeça no colo da mãe.)

Violeta – Queridinho da mamãe, estou sentindo você tenso, estressado... Problemas conjugais?

Roberval – Não mamãe. Eu e Leila estamos numa boa.

Violeta – Então é a Sandrão?

Roberval – Não! A senhora precisa parar de pegar no pé da Sandrão.

Violeta – Aquela sapatão é uma desbocada. Eu tenho pena da Rosa. Ela merecia uma companheira melhor.

Roberval – Companheira melhor?

Violeta – Rosa é uma mulher bonita, elegante, fina. Enfim, ela tem educação de berço. Já a Sandrão é feia, é...Vulgar. Qualificando-a melhor, eu diria que ela é uma mulher masculinizada.

Roberval – O que a senhora quer dizer com masculinizada?

Violeta – Mulher que se comporta como homem. E homem grosseiro! Se ela tivesse saco, viveria coçando-o em público.

Roberval – Mamãe, responda-me com sinceridade. A senhora sente alguma atração pela Rosa?

Violeta – Como assim? Atração? Eu gosto muito da Rosa. Como amiga!

Roberval – Só como amiga?

Violeta – Sim!

Roberval – Mesmo?

Violeta – Filho, aonde você quer chegar? Você acha mesmo que seu sinto atração física pela Rosa?

Roberto – Acho? Quando a senhora fala dela, os seus olhos chegam a brilhar.

Violeta – Você está enganado. Eu só tive atração física por uma mulher na minha vida. Foi na minha adolescência.

Roberval – Então me conta. Quem foi esta mulher?

Violeta – Foi o meu grande amor.

Roberval – Mamãe, então a senhora já teve um caso com uma mulher.

Violeta – Não! Não tive não. Foi um amor platônico. Imagine! Há 60 anos, duas mulheres juntas... Numa cidade do interior. Seu falecido avô me daria uma surra de chicote se me visse andando de mãos dadas com uma mulher. Beijando então... Ele me mataria, ou pior. O papai me despacharia para um convento de freiras.

Roberval – O vovô não faria isto. Ele foi uma pessoa tão doce.

Violeta – Acorda meu filho! Naquela época, perder o cabaço antes do casamento, ter relacionamento com outra do mesmo sexo... Era pena de morte!

Roberval – Não exagera mamãe!

Violeta – Não estou exagerando. Naquela época, as mulheres eram massacradas pelos homens.

Roberval – Mas o papai era diferente. Já tinha outra cabeça.

Violeta – De bagre! Se ele prestasse, eu estaria com ele até hoje. Seu pai é machista da cabeça aos pés. Eu mereço ir pro céu. Consegui aturá-lo por mais de 20 anos. Antes de eu meter o pé na bunda dele, eu deveria tê-lo coroado com um bom par de chifres.

Roberval – Quanta mágoa.

Violeta – Vamos mudar de assunto. Não quero falar do seu pai. Só de pensar nele, me dá dor de barriga.

Roberval – Está bem mamãe. Então me fala deste seu amor platônico.

Violeta – Ah! Hortência...

Roberval – Era o nome dela?

Violeta – Sim! Hortência era uma mulher lindíssima. Acho que me apaixonei por ela quando a vi pela primeira vez, tomando banho no riacho que passava por trás da nossa casa. Eu, da janela do meu quarto, ficava comendo-a com os olhos. Ela de camisola branca... Quando saia da água, o tecido branco colava no seu corpo escultural Dava para ver tudo. Os pêlos pubianos, os bicos rosados dos seios. Ah!...Que lindos seios! Eu ficava toda excitada. Toda molhadinha. Até hoje eu sonho com aqueles seios apontados para os meus olhos.

Roberval –E aí ... A senhora tocava uma siririca!

Violeta – Respeite sua mãe!    Masturbação é pecado.

Roberval – Desculpe-me mamãe!

Violeta – Não quero falar mais do meu passado. Acho que vou me deitar. Descansar um pouco.

Roberval – A senhora terá que deitar no meu quarto. O quarto de visitas já está ocupado pela Rosa e a Sandrão.

Violeta – Coloque a Sandrão para dormir aqui no sofá da sala que eu me deito com a Rosa.

Roberval – Eu não posso fazer isso.

Violeta– Pode sim. A Sandrão é nova. Eu que não aguento mais o desconforto deste sofá.

Roberval – Mamãe, a senhora vai fazer o seguinte: Vai dormir no meu quarto, com a Rosa. Eu me viro aqui no sofá. Está bem?

Violeta – Bem não está. Nora e Sogra na mesma cama? Sei não!

Roberval – Mamãe, a Leila não morde.

Violeta – Mas eu mordo. Brincadeirinha!

Roberval – O seu humor corrosivo é de dá inveja.

Violeta – Você acha mesmo?

Roberval – Eu e toda a torcida do flamengo.

Violeta – Bobinho!

Roberval – Agora, vai descansar. Logo mais, eu te acordo para o jantar.

Violeta – Então... Fique com Deus. Sua mãezinha vai descansar os ossos.

Roberval –. Eu também vou tirar um ronco aqui no sofá.
Violeta – Durma em paz.

Roberval - Bons sonhos!

Violeta – Deus te ouça!
     
(Violeta sai de cena e Roberval se estica no sofá.)


CENA 5

(Toca a campainha e Roberval pula do sofá.)

Roberval – Porra! Maldita campainha. Quem será agora?

(Leila entra em cena.)

Leila – Roberval deixe que eu atendo. Deve ser o entregador de pizza.

Roberval – Acho que não! Se fosse o entregador de pizza, o porteiro teria interfonado.

Leila – Então só pode ser a...      

Leila e Roberval – Dona Margarida!

Roberval – Eu não mereço. Mais uma sogra.
(Leila abre a porta.)

Margarida – Surpresa!

Leila – Dona Margarida! A senhora não morrerá tão cedo.

Roberval – (falando para a plateia.) Esta velha não morrerá nunca.

Margarida – Você disse alguma coisa? Meu genro querido.

Roberval – Nada! Só pensei alto.

Margarida – Vocês não vão me convidar para entrar.

Roberval – (novamente falando para a plateia) É preciso!

Margarida – Não escutei!

Roberval – Pensei alto novamente! Agora peguei essa mania.

Leila – Entre e fique a vontade. (em tom de ironia). A casa é sua

Margarida – Leila, você é um amor.

Leila – E as suas bagagens?

Margarida – Deixei lá na portaria. O elevador está enguiçado.

Leila – Na verdade... Ele vive enguiçado. Já virou peça de decoração do prédio.

Margarida – Por que vocês não se mudam para um prédio melhor?

Roberval – Eu sou professor!

Margarida – Então... Vai morrer aqui.

Roberval – Talvez não! Ainda vou ganhar no bolão da mega sena um dia.

Margarida – Você até pode ganhar. Receber o prêmio é que vai ser difícil.

Leila – Será?... Não! O Roberval é um homem de sorte.

Roberval – Verdade! Sou muito sortudo. Eu sou o único homem que tem três sogras enfiadas em minha casa.

Leila – E eu, sou a única mulher que tem uma sogra, enfiada no meu quarto. E que vale por três.

Margarida – Vocês dois têm um censo de humor invejável.

Roberval – Também acho. Estou até pensando em largar o magistério para me dedicar só a escrever comédias para teatro.

Margarida – Vai fundo! Você leva jeito. Só vai continuar na pobreza.

Roberval – Obrigado pelo incentivo!

Leila – Homem! Você já falou demais. Vai até a portaria pegar as malas da sua sogra.

Roberval – Está bem! Mas vou logo avisando: O meu plano de saúde não dá direito ao tratamento fisioterápico.

Leila – Roberval!

Roberval – Não precisa gritar no meu ouvido. Já estou indo!

(Roberval sai de cena.)

Margarida – Seu marido está precisando de um tratamento. Ele anda muito estressado. Ele pode ter um enfarto. Sabia?

Leila – Eu não terei esta sorte. Mas mudando de assunto. Cadê o papai? A senhora sempre viaja com ele.

Margarida – Nós brigamos. Aí eu resolvi passar uns tempos aqui com vocês, É só até os ânimos se esfriarem.

Leila – Eu lamento, mas a senhora terá que ir para um hotel. .

Margarida – Quer dizer que eu não sou bem-vinda nesta casa.

Leila – De forma alguma! É que o asilo já está cheio. Superlotação de Sogras. Não há mais leitos disponíveis. Todas as camas estão ocupadas.

Margarida – Se é por falta de cama, não é problema. Sempre carrego na minha mala um colchonete para eventual emergência.

Leila – É mesmo?

Maragarida - Eu sou uma mulher prevenida.

Leila – Então, a senhora não se importa de dormi aqui na sala com o Roberto.

Margarida – Ele ronca?

Leila – Só quando bebe cerveja.

Margarida – Então resolvido! Cortamos a bebida dele. Eu monto meu acampamento aqui mesmo.

Leila – (falando baixo) Eu não mereço!

Margarida – Não escutei?

Leila – Eu disse que aqui é o seu novo endereço.

Margarida – Você é um anjo!

Leila – Pena que cortaram minhas asas. Eu queria voar para bem longe,

Margarida – Não entendi. Mas deixa pra lá. Você disse que a casa está cheia?

Leila – Sim! Mamãe e Sandrão estão dormindo no quarto de visitas, e a mãe do Roberval está dormindo no meu quarto.

Margarida – A Rosa esta aqui? O santo dela não cruza com o meu.

Leila – (irônica) Será por quê?

Margarida – Ela acha que eu roubei o marido dela.

Leila – E não roubou?

Margarida – Não! Quando eu conheci o seu pai, eles já estavam separados.

Leila – Estava mesmo?

Margarida – Tava! Mas se ela o quiser de volta, eu devolvo aquele traste com o maior prazer.


Leila – Tarde demais. Mamãe não vai querer a mercadoria de volta.

Margarida – Por quê?

Leila – Já está muito usada. E fora do prazo de validade. E mãe agora está comprometida.

Margarida – (cara de espanto) A Rosa arranjou um novo companheiro?

Leila – Companheira!

Margarida – (boquiaberta) Companheira?

Leila – Sim! O seu nome é Sandra! Porém, ela só gosta de ser chamada de Sandrão.

Margarida – A Rosa me surpreendeu. Não sabia que ela gostava de mulher.

Leila – Mamãe é introvertida, mas tem a cabeça bem aberta. Ela ama intensamente... E sem preconceito!

Margarida – Querida, eu posso te fazer uma confissão? Você guarda segredo?

Leila – Levarei comigo pro túmulo. Conte-me!

Margarida – Eu também sinto atração por mulheres. Quando nova, antes de conhecer seu pai, eu vivi um romance com uma aeromoça da Varig. Ela era louca por mim e eu por ela.

Leila – Então por que você não continuou o relacionamento com ela?

Margarida – Para viver uma relação homossexual na década de cinquenta, a mulher tinha que ser muito corajosa. Eu tive muito medo de enfrentar a pressão da sociedade. Aí tudo acabou.

Leila – Você não tem mais contato com a aeromoça.

Margarida – Não! Depois que conheci seu pai, nunca mais nos encontramos.

Leila – Que pena! Ainda bem que as coisas estão mudando.

Margarida – Você acha?

Leila – Lentamente, mas estão. É que o preconceito está enraizado em muitas pessoas. As mudanças são lentas.

Margarida– Você tem razão. Mas por favor.

Leila – Fique tranquila. Este papo morreu aqui.

Margarida – Confio em você. Agora, estou louca para conhecer a Sandrão.

Leila – Assim que ela acordar, eu te apresento. Porém quero te dar um aviso: Mamãe é muito ciumenta e Sandrão é extremamente possessiva.

Margarida – Vou saber me comportar. (risos)

(Roberval entra em cena com duas enormes bagagens na costa.)

Leila – Você demorou!

Roberval – Tá de sacanagem! Estou com uma mudança nas costas.

Margarida – Coitado! Por que você não pediu a ajuda do porteiro para subir com minhas malas.

Roberval – Porque ele não pode largar a portaria no seu horário de trabalho. São normas do condomínio.

Leila – Roberval! Pare de reclamar. A Margarida é nossa visita. E vai dormir com você aqui na sala.

Roberval – Eu mereço. Joguei pedra na cruz.

Margarida – Fique tranquilo meu genro. Eu não ronco.

Roberval – Já eu, ronco feito um porco.

Margarida – A Leila vai cortar a sua cerveja, e aí eu vou poder dormir tranqüila.

Roberval – Leila! Você não vai cortar a minha bebida? Vai?

Leila - Vou! E não será nenhum sacrifício para você. Pelo contrário, a abstinência da cerveja vai ajudá-lo a perder esta pança horrorosa.

Roberval – Dona Leila Beatriz! Fique sabendo que minha pança não me incomoda. Eu cago e ando para a estética.

Leila– Pois eu me incomodo! Eu casei-me com um homem esbelto e agora vivo com um... Um... Um Bagulho!

Roberval – Bagulho é a...

Margarida– Vamos parar! Que coisa feia.

(Sandrão entra em cena.)

Sandrão – Que barraco este que está rolando aqui na sala. Pô! Assim eu não consigo cochilar em paz.

Leila – É o Roberval que está um pouco exaltado. Mas deixa pra lá. Sandrão, eu quero te apresentar Dona Margarida, a mulher do meu pai.

Sandrão– Prazer! Sandrão... A sua disposição!

Margarida – O prazer é todo meu. A Leila me falou que você é a nova companheira da Rosa.

Sandrão – Nova não! A primeira e única.

Margarida – Desculpe-me, expressei-me mal.

(Rosa entre em cena atirando.)

Rosa - Expressou-se mal é uma ova. Você jorrou veneno. Conheço-te de longa data, Margarida da Cunha Bueno!

Leila – Mamãe, não vai começar...

Rosa – Não vou começar nada. Essa fulaninha que não é flor que se cheira.

Margarida– Você também não é nenhuma santa.

Roberval – (gritando) Querem parar! Esta casa está virando um inferno.

Leila– Calma Roberval!

Roberval – Você me pede calma? Além de asilo, a nossa casa está virando um hospício.

Leila – Não exagera homem! As coisas vão se arrumar assim que a poeira se assentar.

Roberval – Eu vou lá pra cozinha. Vou ver ser ainda tem cerveja na geladeira.

Sandrão – Eu te acompanho.

(Roberval e Sandrão saem de cena.)

Rosa – Desculpe-me, minha filha. É que eu perco a linha perto desta lambisgóia.

Margarida – A recíproca e verdadeira.

Rosa – O que ela está fazendo aqui. Ela não deveria estar em Brasília com aquele traste do seu pai?

Leila – Margarida brigou com papai. Ela vai passar uma pequena temporada aqui em casa.

Rosa – Meu Deus! Eu vou ficar esbarrando com esta mulher pela casa. Eu não vou aguentar.

Margarida – Eu digo o mesmo.

Leila – Vocês já são duas senhoras maduras. Já está na hora de passar uma borracha no passado e pararem de brigar.

Rosa – Vai ser impossível. Esta mulherzinha é espinhosa.

Margarida – Não sou eu que me chamo Rosa.

Rosa – Não me provoca! Sua piranha velha.

Margarida – Pode me chamar de piranha e qualquer outro sinônimo. Mas se me chamar de velha novamente, eu meto a mão na sua cara. Sua... Sua... Deixa pra lá.

Leila – Que vergonha! Duas senhoras distintas batendo boca ? Que baixaria na minha casa! Vocês vão acabar me enlouquecendo.

Rosa – Desculpe-me minha filha. Pelo seu bem eu vou tentar me controlar.

Margarida – Eu também te peço desculpas! Eu quero paz.

Leila– É isso aí. A partir de agora, vocês vão me prometer que se comportarão de forma civilizada nesta casa.

Rosa e Margarida – Eu prometo! (risos)

Leila – Dona Margarida, a senhora não quer tomar uma ducha antes da gente sair para jantar?

Margarida – Gostaria muito... Minha querida.

Leila– Então, vai indo para o banheiro. Eu levarei uma toalha limpinha para a senhora.

Margarida – Agradecida!

(Margarida sai de cena.)

Rosa – Minha filha, eu vou sair para jantar só com a Sandrão. Eu posso ter uma indigestão comendo na mesma mesa que a Margarida.

Leila – Mamãe!

Rosa – Perdão! Por você, vou me segurar.

Leila– Agradeço a sua compreensão.

Rosa – Vou voltar para o meu quarto. Tenho que arrumar minhas coisas.

Leila – E eu vou levar uma toalha para a Margarida.

Rosa – Vai logo, antes que aquela lambisgóia pegue uma pneumonia.

Leila – Mamãe, a senhora não tem jeito. (risos)

(As duas saem de cena)


CENA 6


(A cena se inicia com o Roberval sentado no sofá da sala com um guarda chuva na mão, falando para a plateia.)

Roberval – É hoje que pago meus pecados. Acordar cedo num domingo de Sol para ir a igreja com uma mãe esclerosada para escutar um padre fazer sermão cuspindo na gente. É dose!

(Leila entre em cena.)

Leila – Ó homem! O que você está fazendo aí sentado no sofá, com um guarda-chuva na mão e falando sozinho. Pirou de vez?

Roberval – Ainda não! Eu estou esperando mamãe acordar para levá-la à igreja. Não foi o que combinamos?

Leila - Sim! Mas não vai ser mais preciso.

Roberto – A velha desistiu?

Leila – Não seu bobo! Ela e a mamãe resolveram assistir a missa das 7 horas. Enquanto mamãe permanecer aqui em casa, dona Violeta terá companhia para ir à igreja. Este ano você ficará livre desta obrigação.

Roberval - Graças a Deus!

Leila – Você deveria dizer: Graças a Rosa!

Roberval – Acabo de descobrir que sogra serve para alguma coisa.

Leila – Seu ingrato! Você deveria beijar os pés da mamãe. Ela te livrou de um grande fardo. Aturar sua mãe não é fácil. Nem durante a missa a velha dá sossego. Ela te aluga o tempo todo.

Roberval – E agora? O que eu faço com este guarda-chuva.

Leila – Enfia naquele lugar.

Roberval – E sou eu o estressado!

Leila – Me poupe, tá bom! Ainda nem são 8 horas.

Roberval – E dona Margarida?

Leila - Acordou cedinho para caminhar no Aterro do Flamengo.

Roberval – Ela foi sozinha?

Leila – Não! A Sandrão foi com ela.

Roberval – Babou! Sua mãe não vai gostar de saber que a sua mulher está andando com sua arqui-inimiga.

Leila – Mamãe é uma mulher madura!

Roberval – Madura, porém... Insegura!

Leila- Você tem razão! Será que existe a possibilidade de rolar um clima entre a Sandrão e a Margarida.

Roberval – A Sandrão gosta de mulher e Margarida ainda dá um caldo. A sorte da sua mãe é que a Margarida só gosta de homem.

Leila – Meu amor! Você está inteiramente enganado. A dona Margarida também tem atração por mulher.

Roberval – Como você descobriu que ela tem atração pelo sexo feminino?

Leila – Ah! Bem... Não descobri nada. Intuição!

Roberval – Intuição?

Leila – Intuição sim! Nós mulheres temos a sensibilidade que falta nos homens.

Roberval – Vou fingir que acredito.

Leila – Vocês homens, só enxergam bunda e seios em uma mulher. Não se preocupam com os nossos desejos íntimos. Sexo não se resume na introdução de um pênis na nossa vagina ou em nosso ânus. É algo muito mais profundo. O sexo entre duas mulheres é algo infinitamente mais prazeroso. Nós aprendemos a descobrir todo o nosso corpo, enquanto vocês só focam no que está entre as pernas. Ufa! Desabafei.

Roberval –( boquiaberto.) E que de-sa-ba-fo!

(A campainha toca.)

Leila – Você vai ficar aí parado com esta cara de bunda?

Roberval – Não... Não!

Leila– A campainha está tocando. Mexa-se e vá abrir a porta, homem!

Roberval – ( Para a plateia) Salvo pelo gongo.

Leila – Você escutou?
     
Roberval – Em alto e bom som! O seu pedido é uma ordem.

(Roberval abre a porta, ainda meio atordoado.)

Margarida – Que demora em abrir uma porta. Roberval, você está passando bem?

Roberval – Mais ou menos

Sandrão – Você está esquisitão. Parece que viu fantasma. Tá com uma cara de bunda!

Leila– Ele está com esta cara porque não está acostumado a dormir no sofá.

Margarida – Roberval, você quer trocar comigo? Eu te cedo o meu colchonete.

Roberval – Agradeço a sua gentileza, mas não é necessário. Já estou me acostumando com o sofá.

Leila - O difícil vai ser ele voltar a se acostumar com a nossa cama de casal. Não é meu amor?

Roberval – Pega leve querida. Já fui a nocaute.

Sandrão – (olhando fixamente para Margarida) Minha flor... O melhor é a gente ir lá para o meu quarto. Vamos que vou te mostrar uns acessórios que eu trouxe lá de Juiz de Fora?

Margarida – Acessórios? Fiquei curiosa!

Sandrão – Então vamos! Flor.

Margarida – Com licença! Já voltamos.

( Assim que Sandrão e Margarida saem de cena, Roberval e Leila se olham e falam ao mesmo tempo.)

Roberval e Leila - Acessórios?... Flor?

(Toca a campainha e Leila se levanta do sofá para abrir a porta.)

Rosa – Bom dia minha filha.

Leila– Até que fim! Que missa longa!

Rosa - A missa terminou às 8 horas. É que eu e Violetaresolvemos bater pernas.

Leila – Posso saber para onde foram as duas?

Violeta - Fomos até o Shopping. Aí a Rosa resolveu dar uma passadinha na livraria .

Leila – Não precisa falar mais nada. Mamãe ficou debruçada nos livros.

Violeta– Foi difícil tirá-la de lá. A Rosa é tarada por livros.

Leila – E você Violeta... Gosta de livros?

Angélica – Livros não. Eu gosto é de folhear revistas de fofocas.

Rosa – O importante é gostar de ler.

Violeta – Na sala de espera do meu neurologista, eu passo horas vendo Caras e Capricho.

Leila – (irônica) Ler Caras deve ser bem...Interessantíssimo! .

Dulce – Extremamente! Eu também adoro ler a revista Caras.

Leila – Não acredito? Desde quando mamãe?

Rosa – Desde quando eu descobri que existe nora que adora depreciar a sogra na presença dos outros.

Roberval – Valeu Sogrona! Foi dez!

Leila – Eu só estava querendo...

Rosa – Basta filha! Vamos mudar o rumo da prosa. A Sandrão já voltou?

Leila – Acabou de chegar da rua com a Margarida. As duas estão lá no seu quarto.

Rosa – Fazendo o quê?

Roberval– (fazendo gesto)Vendo “acessórios” .

Rosa – Com licença! Eu fiquei curiosa... Vou até lá ver os tais acessórios.

Violeta – Eu também fiquei curiosa. Vou junto com você.

Rosa – Então, vamos!

(Violeta e Rosa saem de cena)      

Roberval – Acho que o bicho vai pegar. Ou melhor... O bicho já pegou!

Leila – Você está doido para ver o circo pegar fogo.

Roberto _ Eu?

Leila – Não se faça de sonso! Você tinha que falar dos “acessórios”? Ainda fazendo gesto de entre aspas? Você pisou na bola!

Roberval – E se eu tivesse feito um gesto assim... (Roberto faz gesto obsceno)

Leila – Eu te mutilava com uma faca bem afiada!

Roberval – Você teria coragem? (Roberval protege com as mãos seu órgão genital)

Leila – Você não sabe do que uma mulher enfurecida é capaz de fazer.

Roberval – Acho que vou continuar dormindo no sofá da sala por um bom tempo.

Leila – Para a sua segurança... É bom mesmo!

Roberval – Leila, será que vai rolar um barraco entre as velhas?

Leila – Sei lá! Não vou ficar aqui pra ver. Tô indo agora pro mercado.

Roberval – Espere, eu te acompanho. Lembrei-me que a cerveja acabou.

(Leila e Roberval saem de cena.)



CENA 7


(Margarida e Violeta entram em cena e Rosa e Sandrão permanecem no quarto).

Margarida – Violeta, eu amei os acessórios produzidos pela   Sandrão.

Violeta – São criativos!

Margarida - O que você acha deste colar de pedras que ela me presenteou?

Violeta – Achei lindo! Mas não é um pouco extravagante para uma mulher da sua idade?

Margarida – Você está me achando com cara de velha?

Violeta – Não! Eu acho até que você está bem conservada para a sua idade. Nem parece que já chegou aos 80 anos.

Margarida – Mas ainda eu não cheguei aos 80.

Violeta – Viu? Eu acertei.

Margarida – Ainda farei 69!

Violeta – Idade sugestiva. (risadas das duas)

Margarida – Violeta, Você ainda pensa naquilo?

Violeta – Naquilo, o quê?

Margarida – Sexo criatura!

Violeta – Quase todos os dias. Só não pratico.

Margarida – Há muito tempo?

Violeta – Bota tempo nisso.

Margarida – Não querendo ser indiscreta, mas sendo. Quanto tempo faz você não tem relações com um homem?

Violeta – Ah!... Não me lembro. Meu filho ainda era solteiro.

Margarida – Não acredito!

Violeta– Verdade!

Margarida – Como você conseguiu viver sem sexo esse tempo todo?

Violeta - Eu me entupo de Rivotril todos os dias.

Margarida – Que loucura. Eu já não consigo viver sem sexo.

Violeta - O ex da Rosa ainda dá no couro?

Margarida– Você quer dizer... Meu marido. Claro!

Violeta – Como a gente se engana.
Margarida – Não entendi?

Violeta– Com aquela cara.

Margarida – Que cara?

Violeta - De brocha!

Margarida – Você está enganada. O meu marido ainda é bem potente?

Violeta – Não acredito.

Margarida - O problema é seu!

Violeta – Então por que você anda arrastando as asas pro lado da Sandrão?

Margarida – De onde você tirou isso? Você está maluca?

Violeta – Sou doida, tomo remédios de tarja preta, porém eu não sou surda e nem cega. Você come a Sandrão com os olhos.

Margarida – Mentira!

Violeta – Mentira, uma ova!

Margarida – Eu estou perdendo a minha paciência.

Violeta – Vai me bater? Vai?

Margarida – Não! Mas vontade eu tenho.

(Neste instante, entram em cena Rosa e Sandrão)

Rosa– O que está acontecendo?

Violeta – Rosa, minha amiga! Abre os seus olhos. A Margarida tá dando em cima da Sandrão.

Margarida – Que absurdo!

Violeta – Absurdo nada! Ela já roubou o seu marido, e agora que brigou com ele, quer roubar a sua companheira.

Margarida – Rosa, não dê ouvidos para esta louca varrida.

Rosa – Por que não? Você não presta mesmo.

Sandrão – Entre eu e a Flor não rola nada?

Rosa – Flor? Quanta intimidade.

Violeta – Até colar ela ganhou da Sandrão.

Rosa – Ganhou? Sandrão, você mentiu pra mim? O colar não foi vendido?

Sandrão – Agora babou de vez!

Rosa – Me explica essa história direitinha. Estou com a pulga atrás da orelha.

Sandrão – Para início de conversa. Não rola e nem rolou nada entre eu e a Margarida.

Rosa – E nem rolará!

Sandrão – Claro que não. Só tenho olhos para você. Porque é a mulher da minha vida.

Rosa – Entãopor que mentiu?

Sandrão – Você é ciumenta e tem bronca da Margarida . Menti para você não ficar aborrecida comigo. E ponto final!

Rosa – Ponto final, não! Como você acha que eu estou me sentindo agora?

Violeta – Traída!

Margarida – Cale a boca sua jararaca!

Rosa– Cale a boca você! Violeta acertou!

Sandrão – (Olhando para Violeta) Não coloca lenha na fogueira Violeta. É sacanagem!

Violeta – A sacanagem é da Margarida. Rosa é minha amiga. Não merece levar outro chifre.

Margarida – (falando com malícia)Só amiga?

Violeta – Sim! Que eu tenho grande admiração.

Margarida – Acho que admiração não é a palavra correta.

Violeta – Venenosa! E ainda tem a coragem de me chamar de Jararaca. Vai se olhar no espelho sua velha peçonhenta.

Margarida parte para cima de Violeta. As duas se embolam pelo chão. E Rosa entra no meio. Sandrão tenta apartar a briga, mas não consegue. Neste instante, Roberval e Leila entram em cena.

Leila – Meu Deus do céu!

Roberval - O pau tá comendo solto!

Leila – Roberval! Faça alguma coisa.

Roberval – Vou chamar a polícia.

Leila – Que polícia homem?

Roberval – Civil e militar.

Leila – Não é hora pra gracinhas. Faça alguma coisa.

Sandrão – (olhando para os dois) Vão ficar parados aí batendo boca? Venham me ajudar.

(Com muito custo, Sandrão, Leila e Roberval , conseguem apartar a briga)

Leila – Que coisa horrível! Três senhoras saindo às tapas.

Margarida – Roberto... (apontando para a Violeta )Foi a sua mãe que começou.

Rosa – Mentirosa! Foi você que partiu para cima da Violeta. Eu só entrei na briga pra proteger a minha amiga.

Margarida – (olhando para Violeta ) Essa doida varrida me provocou... Ela me chamou de velha peçonhenta.

Rosa – Ela só falou a verdade. Você é peçonhenta. E é velha!

Margarida – Você que é uma rosa murcha e espinhenta .

Rosa – Murcha e espinhenta é a pu...

Roberval – (gritando) Querem parar!

Leila – Calma homem! No grito não se resolve nada.

Sandrão – Nem na porrada!

Leila – Vou à cozinha preparar um refresco de maracujá.

Roberval – Refresco de maracujá?

Leila - Para acalmar os ânimos.

Roberval – Chá de erva doce com Lexotan seria mais apropriado.

Leila – Engraçadinho!

(Leila sai de cena).

Roberval – Agora! Vê se vocês vão se portam como quatro velhas civilizadas.

Todas Sogras – Velhas?!

Roberval – Retificando... Senhoras maduras.
     
Sandrão – Eu tô fora! Ainda sou gato.

Rosa – Fora nada! Você foi o Pivô da briga.

Sandrão – Eu não fiz nada. Não rolou nada entre eu e a Margarida. Este fuzuê todo só por causa de um colar e uma caminhada no Aterro do Flamengo.

Rosa – Não! Foi porque você mentiu pra mim. Estou insegura.

Sandrão –. Insegura! Larguei tudo para viver ao seu lado... Minha cidade, meu emprego, meus amigos, enfim... Apostei tudo no nosso amor... Aí vem você e me diz, na lata, que eu te deixei insegura.   (pausa) Estou voltando pra Tijuca!

(Sandrão sai de cena)

Violeta – Rosa vai atrás dela. É a mulher da sua vida.

Leila – Vai mamãe... Obedeça a minha sogra.

Margarida - (Olhando para Rosa) O que você está esperando mulher? Eu já estou satisfeita com seu ex-marido.

Roberval – Sogrona! Mete o pé. Mas corre, senão a senhora só vai conseguir alcançar a Sandrão lá na Tijuca. (risos)

Rosa – Gente! Obrigada pela força. Fui! (mais risadas)

(Rosa sai correndo de cena)

Margarida – Eu quero pedir desculpas. Não pretendia causar tanta confusão.

Violeta – Eu também peço desculpas!

Leila– Esquece... No fundo, tudo não passou de um mal entendido.

Roberval – Em uma casa com tantas sogras. Tudo pode acontecer.

(Toca a campainha e Leila vai atender. Entra em cena com duas malas na mão a ex-sogra de Roberto)

Leila – Surpresa Querido! A mãe da sua ex-mulher chegou.


Roberval – Ex-sogra? Eu não mereço... (Roberval cai desmaiado no sofá e as cortinas se fecham)


                      Fim

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