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O nome da Rosa
O Filme
Bianca de Moura Wild

O nome da rosa – Indicado para as disciplinas de filosofia e história no caso de demonstração do período vigente no filme.


William de Baskerville (Sean Connery) um monge franciscano e Adso (vivido pelo então desconhecido Christian Slater) como um noviço a acompanhar seu mestre, prática das mais comuns naqueles tempos ( idade média) se esforçam para solucionar uma série de assassinatos que estão ocorrerendo num mosteiro medieval localizado na Itália.
Dispondo de recursos "sofisticados" para época, pois a seqüência em que William cobre seus instrumentos é muito significativa pois peças como o astrolábio e o quadrante que eram utilizadas pelos mouros e desconhecidas da maioria dos cristãos tem participação na trama e representam indicativos dos caminhos modernos seguidos pelo personagem de Sean Connery, para os padrões da época, utilizando-se de uma coerência muito parecida com a de Sherlock Holmes muito tempo antes do nascimento do criador do imortal detetive, e fundamentando seus julgamentos nos princípios aristotélicos num momento em que os artífices da filosofia grega eram pouco ou totalmente desconsiderados, William de Baskerville compõe um dos grandes personagens da literatura e do cinema. Constitui-se igualmente numa grande aula de história e de filosofia.
As perspectivas se abrem desde o princípio da trama, pois estamos respirando os ares de um mosteiro fincado em uma montanha, administrado e controlado pelos monges Beneditinos e que recebe a ilustre visita de monges franciscanos. O clima sombrio da localidade, a aparência doentia de muitos dos frades e monges que surgem no decorrer da história, o tom escuro de muitas das seqüências, propositalmente trabalhado por conta do competente diretor Jean-Jacques Annaud, o mesmo de"Círculo de Fogo", a rejeição a conceitos considerados avançados por parte da grande maioria dos monges que circulam no mosteiro e a presença destacada da Inquisição a partir da metade do filme nos possibilitam compreender um pouco do que foi a Idade Média, também chamada idade das trevas ou da escuridão.
Uma das qualidades do filme dentre muitas, está na representação de época, com a equipe sendo auxiliada pelo notável historiador Jacques Le Goff, o que confere ao filme maior credibilidade no que se refere à utilização do mesmo como recurso didático. O figurino, as locações, além do fato do filme ter sido feito num autêntico mosteiro medieval, a ambientação, as músicas, os objetos disponibilizados e mesmo a fotografia em tons lúgubres, escuros, dando-nos uma impressão de umidade nos locais de filmagem, se tornam referências para que possamos apresentar o domínio cristão no medievo.
A trama central gira em torno dos assassinatos descritos no início desse artigo, conferidos pelos beneditinos a forças ocultas, a ação demoníaca que teria dominado alguns dos jovens monges daquela casa de Deus. É conveniente observar que conceitos como Deus e as forças do bem se confrontando com o diabo e o mal eram predominantes nesse período devido ao enorme poder da Igreja Católica, a grande força remanescente desde a época em que os romanos e seu grande império ruíram, ainda no remoto século V; um dos maiores veículos de difusão dessa crença foram os trabalhos do filósofo cristão Santo Agostinho, em especial sua obra sobre a Cidade de Deus e a Cidade dos Homens.
No período em que se passa a ação, a igreja já passava por algumas dificuldades devido ao ressurgimento de cidades e de rotas de comércio, além da concessão aos leigos para freqüentar as nascentes universidades, é dessa época um dos trabalhos que antecedem o Renascimento Cultural e que são considerados como fundamentais para as transformações que se operam na transição do mundo medieval para o moderno, ou seja, a obra clássica do italiano Dante Alighieri, "A Divina Comédia". O surgimento da Inquisição e a forma como essa instituição da igreja foi se tornando cada vez mais dura na sua perseguição aos hereges comprovam os temores por parte da cúpula do mundo cristão.
A diferença de atitude do recém-chegado William contrasta com a atribuição a forças do além dos beneditinos e nos lança numa investigação em busca de provas, de evidências dos crimes, o que pode ser considerado como uma antecipação de posturas investigativas que passaram a ser adotadas no mundo da modernidade, quando do surgimento de correntes filosóficas e científicas apoiadas no empirismo e no racionalismo.
O confronto entre os franciscanos e os representantes da Inquisição, com ênfase para o personagem Bernardo Gui, interpretado pelo premiado ator F. Murray Abraham, nos coloca novamente frente a frente com a questão do Bem e do Mal, apenas que interiorizados na instituição que se considera, por excelência, a representação terrena dos dotes celestiais e de sua mensagem de bondade.
"O Nome da Rosa" nos permite transitar por diversos temas e fases da história, nos leva inclusive aos fatores que levaram ao surgimento da Reforma do século XVI, além das já mencionadas outras possibilidades de estudo. Leva-nos a transitar pela filosofia antiga, medieval e antever a moderna além de averiguar o poder da igreja durante a idade média e a sua forte opressão. Abre perspectivas para buscar na literatura do período as fontes de compreensão dessa fase tão rica que é o período medieval. Além do que, a trama policial criada por Umberto Eco dá sustentação para um grande filme de suspense, logo entretendo e ao mesmo tempo elucidando muito fatos lidos nos livros mas não muito comentados, as atrocidades e barbáries cometidas pela igreja, a proibição da leitura de obras filosóficas esclarecedoras durante o período da idade me´dia etc



Biografia:
Possui graduação em Ciências Sociais pela Fundação Educacional Unificada Campograndense (2007). Atualmente é bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia, atuando principalmente nos seguintes temas: antropologia, diversidade sexual, orientação sexual, televisão brasileira e tvs privadas. Tem experiência em projetos de desenvolvimento local e nos seguintes temas: Modo de produção escravista ou escravocrata, Etnicidade, sexualidade, orientação sexual, diversidade sexual, identidade(s), conflito identitário.
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