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ILHA DE GUARATIBA: DE ESPAÇO A LUGAR
MARCIO LUIS FERNANDES

UNIVERSIDADE MOACIR SREDER BASTOS (UNI-MSB)
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

















ILHA DE GUARATIBA: DE ESPAÇO À LUGAR












POR
MARCIO FERNANDES







RIO DE JANEIRO


NOVEMBRO DE 2003
ILHA DE GUARATIBA: DE ESPAÇO A LUGAR











MARCIO FERNANDES
CURSO: GEOGRAFIA
TURMA: 46061














Monografia de final de curso apresentado como requisito à obtenção do título de graduação com licenciatura plena em geografia do Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos, sob a orientação do Professor Khalil Antônio Dib.








Rio de Janeiro, novembro de 2003.


CENTRO UNIVERSITÁRIO MOACYR SREDER BASTOS




FOLHA DE APROVAÇÃO



FERNANDES, Márcio Luis. Ilha de Guaratiba: De Espaço a Lugar. Rio de Janeiro: Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos, departamento de Ciências (Geografia), 2003, 54 pág. Monografia de final de curso de licenciatura em geografia.







APROVADA POR




_______________________________

Khalil Antônio Dib
Professor – Orientador









Monografia aprovada em novembro de 2003

DEDICATÓRIA




Tenho por certo que aquele que em mim começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus ( FILIPENSES 1:6)



Dedico este trabalho àquele que é fiel para completar a obra que começou.
Àquele que em todos os momentos esteve comigo, suprindo todas as minhas necessidades.
Àquele que foi meu maior incentivador e a fonte de toda a minha inspiração.
Àquele que era, que é, que sempre será e que há de vir.
Dedico este trabalho a Deus, por Jesus, autor e consumador da minha fé.


Não somos o que devíamos ser; não somos o que queríamos ser; não somos o que poderíamos ser; mas, graças a Deus, não somos mais o que éramos. (PASTOR MARTIM LUTHER KING)

AGRADECIMENTOS


     Quero agradecer a Deus, por mais uma etapa vencida.
     À minha mãe pela dedicação, compreensão e ajuda, sem a qual tudo seria bem mais difícil.
     À minha família e familiares pelo suporte e inúmeros incentivos.
     Aos companheiros de sala de aula, em especial Marcelo, Bruno, Daniel e Luís Cláudio, pelo exemplo solidário e amigo, prestado nos últimos três anos e espero, para o resto da vida.
     Aos professores, em especial Khalil e Álvaro pelo exemplo profissional e pessoal.
     Aos moradores de Ilha de Guaratiba, por ajudarem a transformar um espaço indiferenciado em um lugar aprazível e agradável.

RESUMO


Os eventos adquirem existência, funcionalizam-se não só por sua possibilidade histórica, mas também porque o lugar, em sua singularidade, oferece a eles a ocasião. Desta maneira, o lugar, ao permitir, via espaço, que os eventos existam em momentos históricos precisos, converte-se, em sua especificidade, na oportunidade para a realização das possibilidades do mundo. As palavras de Milton Santos (2002) salientam a relevância dos lugares para que os eventos ocorram, tomando assim o seu lugar do espaço. O objetivo deste trabalho é a abordagem das inúmeras mudanças ocorridas no espaço de Ilha de Guaratiba no que tange a valorização de seu solo e a conseqüente especulação imobiliária, assim como a análise dos impactos causados por essa mudança na população residente, numa perspectiva da relação “espaço” e “lugar”.

















SUMÁRIO


Folha de rosto       i
Folha de aprovação       ii
Dedicatória       iii
Agradecimento       iv
Resumo       v
Sumário      vi
Introdução       8
Aspectos Metodológicos       9
Capítulo I: Espaço e Lugar na Geografia Humanística       13
I. 1 – De Espaço à Lugar       13
I. 2 – De Lugar à Espaço       14
I. 3 – Experiências Íntimas com o lugar       15
I. 4 – A Força do Lugar       17
I. 5 – Tempo no Espaço Experiencial       18
I. 6 – Tempo e Lugar       19
Capítulo II: A Dinâmica Espacial       21
II. 1 – Os Eventos       21
II. 2 – As Práticas Espaciais       23
II. 3 – Os Processos de Mudança       24
II. 4 – Espaço e Mudanças de Hoje       25
II. 5 – O Externo e o Interno       26
II. 6 – O Novo e o Velho       28
II. 7 – Do Espaço ao Lugar       28
II. 8 – O Lugar no Espaço       29
Capítulo III: Ilha de Guaratiba e suas Características       31
III. 1 – Ilha de Guaratiba: Um Breve Histórico       32
III. 2 – Ilha de Guaratiba em seus Aspectos Naturais       34
III. 3 – Aspectos Econômicos de Ilha de Guaratiba       35
III. 4 – Espaço e Sociedade em Ilha de Guaratiba       36
III. 5 – Ilha de Guaratiba Hoje       42
Capítulo IV: Ilha de Guaratiba: De Espaço à Lugar       44
IV. 1 – Os Fatores Externos e Internos       46
IV. 2 – A Transformação do Espaço de Ilha de Guaratiba       49
IV. 3 – O Surgimento dos Condomínios       50
IV. 4 – A Influência dos Novos Moradores       51
IV. 5 – A Influência do Lugar sobre os Novos Moradores       53
IV. 6 – A Relação com o Lugar       54
Conclusão       56
Referências Bibliográficas       58



























INTRODUÇÃO


     “Na experiência, o significado de espaço freqüentemente se confunde com o de lugar.“Espaço” é mais abstrato do que “lugar”. O que começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor.
     As idéias de “espaço” e “lugar” não podem, nesse caso, ser definidas uma sem a outra. Além disso, se pensamos no espaço como algo que permite movimento, então lugar é pausa; cada pausa no movimento torna possível que localização se transforme em lugar.” ( TUAN, 1983 )
     Ilha de Guaratiba, sub-bairro de Guaratiba no município do Rio de Janeiro, vem passando por mudanças em seu espaço, principalmente a partir dos últimos quinze anos, no que tange a especulação imobiliária.
     O local que sempre foi considerado como de passagem, visitado por donos de sítios, hípicas e casas nos finais de semana, passa por um rápido e crescente processo de valorização imobiliária, devido, em grande parte, à suas amenidades, raras em nossa cidade e pela conseqüente qualidade de vida que proporciona a seus moradores.
     Essa monografia tem como proposta um questionamento sobre os fatores que vêm contribuindo para que tais transformações ocorram, fazendo com que um “espaço” tradicionalmente de passagem, visitado por donos de sítios nos finais de semana, se torne um “lugar” de habitação fixa para inúmeras pessoas e famílias oriundas, principalmente de bairros nobres da cidade.
     Será abordada a questão da afinidade e afetividade dos moradores (antigos e novos) com o lugar e a visão dos mesmos em relação as mudanças ocorridas no espaço de Ilha de Guaratiba.
     Entender as mudanças ocorridas em Ilha de Guaratiba no que tange a valorização imobiliária do sub-bairro à luz do aparecimento de inúmeros condomínios, antes inexistentes, numa perspectiva da relação “espaço” e “lugar” é o objetivo central desta monografia.
     Na primeira parte da monografia, formada pelos dois primeiros capítulos, o “espaço” e o “lugar” serão conceituadas segundo a abordagem humanística (capítulo 1) e a dinâmica espacial será enfocada, juntamente com seus inúmeros eventos e práticas espaciais (capítulo 2).
     Na segunda parte (capítulo 3), Ilha de Guaratiba será caracterizada em todos os seus aspectos e, finalmente, na terceira e última parte (capítulo 4), os inúmeros dados coletados e pesquisados serão analisados e sintetizados com o objetivo de responder às indagações objetivadas por esse trabalho.


ASPECTOS METODOLÓGICOS

     Para alcançar os objetivos desta monografia visitei e entrevistei vários moradores do bairro (moradores antigos e novos) além de algumas imobiliárias e especuladores imobiliários.
     Foram visitadas as bibliotecas da UERJ, da UFRJ e da XXVI R.A. (Guaratiba), alguns sites na Internet e todos os pontos e ruas do bairro com o intuito de coletar dados para uma melhor abordagem do lugar.
     As conversas informais com moradores foram muito úteis para a elucidação de alguns questionamentos, porém foi com as entrevistas feitas que se alcançou o objetivo maior. Para entrevistar os novos moradores e os antigos moradores, foram utilizados os seguintes questionários:

QUESTIONÁRIO (ANTIGOS MORADORES)

NOME: ________________________________________________________________________

IDADE:
________________________________________________________________________
ENDEREÇO: ________________________________________________________________________

O QUE VOCÊ ACHA DE SEU LUGAR?
________________________________________________________________________

QUAIS TRANSFORMAÇÕES VOCÊ PERCEBE QUE O LUGAR VEM SOFRENDO COM A CHEGADA DOS NOVOS MORADORES?
________________________________________________________________________

COMO VOCÊ VÊ ESSAS TRANSFORMAÇÕES?
________________________________________________________________________

EM QUE ESSE PROCESSO TEM INFLUENCIADO O LUGAR E SUA VIDA?
________________________________________________________________________

O QUE VOCÊ SENTE PELO SEU LUGAR?
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


QUESTIONÁRIO (NOVOS MORADORES)

NOME: _______________________________________________________________________
IDADE:
________________________________________________________________________
ENDEREÇO: ________________________________________________________________________
HÁ QUANTO TEMPO QUE MORA EM ILHA DE GUARATIBA?
________________________________________________________________________
DE QUE BAIRRO VOCÊ VEIO?
________________________________________________________________________

QUAL FOI O MOTIVO DA MUDANÇA?
________________________________________________________________________

PORQUE VOCÊ ESCOLHEU ILHA DE GUARATIBA PARA MORAR E NÃO OUTRO LUGAR?
________________________________________________________________________

O QUE VOCÊ ACHA DA LOCALIDADE?
________________________________________________________________________

QUAL É A SUA RELAÇÃO PESSOAL COM O SEU NOVO LUGAR?
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


I – ESPAÇO E LUGAR NA GEOGRAFIA HUMANÍSTICA


     Segundo MELLO (1990, p. 102), “a perspectiva humanística tem se esforçado em disciplinar o uso de dois de seus conceitos por serem os principais. São eles: espaço e lugar.
     Entre os geógrafos humanísticos há uma diferenciação brutal, com referência a esses conceitos. O espaço, qualquer porção da superfície terrestre, é amplo, desconhecido, temido ou rejeitado. O lugar, recortado afetivamente, emerge da experiência e é um mundo ordenado e com significado. (TUAN, 1983, p. 65). Assim o lugar está contido no espaço.”
     Para GOMES (2000), “Os lugares, entretanto, formam a trama elementar do espaço. Eles constituem, sobre uma superfície reduzida e em torno de um pequeno número de pessoas, as combinações mais simples, as mais banais, mas também talvez as mais fundamentais das estruturas do espaço: o campo, o caminho, a rua, a oficina, a casa, a praça, o cruzamento... Como diz muito bem o termo, pelos lugares, os homens e as coisas se localizam” (GOMES, 2000, p. 324).


“A contribuição do geógrafo humanista é fundamental e complementar, pois ele busca compreender o mundo humano estudando a relação entre os homens e a natureza, seu comportamento geográfico e seus sentimentos e idéias frente ao espaço a aos lugares” (GOMES, 2000, p. 329).


I. 1 – DE ESPAÇO A LUGAR


“O recém-chegado a um local, ou o morador há pouco tempo instalado em um bairro, se sente um “estranho no ninho”. O novo bairro é um espaço. Do mesmo modo é a rota percorrida pela primeira vez. Na volta a paisagem começa a se tornar mais familiarizada. Os prédios e as pessoas já não são tão misteriosas, como anteriormente, e o caminho percorrido parece que se torna menor. Seu percurso não é mais extenuante. O espaço já é quase lugar. Mas um ou dois trajetos são suficientes para categorizar o espaço como lugar?” (MELLO, 1990, p. 104)



     Segundo TUAN (1983, p. 204), um indivíduo pode se apaixonar à primeira vista por um lugar, tal qual por uma pessoa. Isto é bem possível, tendo em vista que a música, os romances, o cinema, os relatos e a imaginação transformam pontos não experienciados diretamente (espaços) em lugares.
     “O espaço é o estranho, o que incomoda, é a aventura. O lugar é a tranqüilidade, a segurança. Quando o espaço nos é inteiramente familiar, torna-se lugar” (TUAN, 1983, p. 83).


“O lugar é um ninho aconchegante. Pode ser assim conceituado a partir da permanência. Certos espaços só se tornam lugares após uma demorada experiência. O que inicialmente é feio “sem vida”, ou até mesmo odiado, com o tempo ganha fóros de lugar. Espaços se tornam lugares em razão de contato com outras pessoas e em trocas afetivas, econômicas etc.” (MELLO, 1990, p. 105)


I. 2 – DE LUGAR À ESPAÇO

     A passagem de lugar para espaço pode ocorrer por motivos de dor ou vergonha (MELLO, 1990, p. 104). TUAN (1983, p. 155) reporta que Santo Agostinho passou a rejeitar as terras percorridas por ele e seu amigo, quando da morte deste. A simples lembrança dos lugares de então lhe provocava desolação. Da mesma maneira, os pontos de encontros (lugares) dos enamorados quando do desenlace, causam desamor e desprezo, podendo ser caracterizado como espaços.
     Para Santo Agostinho, o valor do lugar dependia da intimidade de uma relação humana particular; O lugar em si pouco oferecia além da relação humana. Experiências como a sua são freqüentes. A seguir, um exemplo da moderna pesquisa sociológica. Neilson é um viúvo. Sua esposa morreu de parto, ao dar à luz seu sexto filho. Neilson trabalhava no setor de manutenção de uma grande empresa. Por trabalhar no segundo turno, ele podia levar suas crianças e estar em casa quando as crianças regressavam no começo da tarde. Sua irmã solteira mais jovem veio morar em sua casa, após a morte da esposa. Ela chegava em casa ao redor das cinco, preparava o jantar e punha as crianças para dormir e depois também se recolhia. Ela ainda dormia quando Neilson voltava do trabalho. Neilson regressava para uma casa cheia de gente, mas sentia-a vazia. “À noite, quando volto para casa do trabalho”, diz ele, “sinto-me vazio. Ao chegar em casa, sinto-me meio esquisito, um sentimento estranho de que estou entrando em uma casa vazia. Apesar de as crianças ainda estarem na casa, não é a mesma coisa”.
     Com a história abordada acima, TUAN (1983, p. 156) mostra que os lugares podem ser transitórios, além de pessoais.
     A casa de Neilson era um lugar enquanto sua esposa vivia, porém, com a sua morte, se transformou e passou a ser um espaço (ou deslugar).


I. 3 – EXPERIÊNCIAS ÍNTIMAS COM O LUGAR

     Segundo TUAN (1983, p. 163), as experiências íntimas, quer com pessoas ou coisas, são difíceis de comunicar. As palavras apropriadas são evasivas. As fotografias e os desenhos raramente parecem adequados. A qualidade do lugar e nossa experiência singular não ficam registradas na fotografia.
     Experiências íntimas são difíceis, mas não impossíveis, de expressar. Elas podem ser pessoais e sentidas profundamente. Uma poltrona ou um banco do jardim pode ser um lugar muito pessoal, porém nenhum dos dois é um símbolo privado com significados completamente obscuro para os outros. “As experiências dentro de um grupo humano se superpõem o suficiente para que vínculos individuais não pareçam notários e incompreensíveis”, conclui TUAN.
     Para GONÇALVES (2000, p. 15), o lugar, de maneira geral é um espaço sensato, isto é, apropriado ao nosso sentido, um espaço que nos convém, um espaço sensível. Mas também um espaço orientado, um espaço de orientação, que permite responder a pergunta: Onde estamos? Enfim, é um espaço que dá lugar ao sentido, ao bom senso, ao pensamento sensato.
     Nesta perspectiva, o lugar seria um espaço poético, no sentido em que poeticamente o homem habita sobre esta terra, mas também porque ele foi feito, construído, arquitetado.
     Um lugar é um espaço habitado ou habitável. Nesta perspectiva, é o habitar que define o lugar. Nesta perspectiva, o lugar se confunde com a noção de habitat, ou seja, ele está “carregado” de experiências íntimas.
     Segundo MELLO (1990, p. 102), os pertences, parentes, amigos e a base territorial experienciada fazem parte do acervo íntimo do indivíduo. Pausa, movimento e morada conferem ao mundo vivido a distinção de lugar. As experiências nos locais de habitação, trabalho, divertimento, estudo e dos fluxos transformam os espaços em lugares, carregam em si experiência, logo, poesia, emoção, sensação de paz e segurança dos indivíduos que estão entre ao “seus”, tem uma conotação de pertinência por pertencer à pessoa e esta a ele, o que confere uma identidade mútua, particular aos indivíduos. Assim o lugar é recortado emocionalmente nas experiências cotidianas.
     Conclui Mello dizendo que, para o homem comum o espaço, transformado em lugar, nas experiências cotidianas, é “carregado de valores simbólicos”.



I. 4 – A FORÇA DO LUGAR

     Para Santos (2002, p. 322) – No lugar – um cotidiano compartido entre as mais diversas pessoas, firmas e instituições – cooperação e conflito são a base da vida em comum. Porque cada qual exerce uma ação própria, a vida social de individualiza; e porque a contigüidade é criadora de comunhão, a política se territorializa, com o confronto entre organização e espontaneidade. O lugar é o quadro de uma referência pragmática ao mundo, do qual lhe vêm solicitações e ordens precisas de ações condicionadas, mas é também o teatro insubstituível das paixões humanas, responsáveis, através da ação comunicativa, pelas mais diversas manifestações da espontaneidade e da criatividade.
     É o lugar que oferece ao movimento do mundo a possibilidade de sua realização mais eficaz. Para se tornar “espaço”, o mundo depende das virtualidades do lugar. Nesse sentido pode-se dizer que, localmente, o espaço territorial age como norma, completa SANTOS (2002, p. 338).
     Em M.SANTOS, “o cidadão é o indivíduo num lugar” (CARLOS, 1996, p. 278). Para ele é também no lugar que o mundo da globalização doentia – que tudo quer homogeneizar – é contrariado, pois é nele que as diferenças se mantém, que o real triunfa, que o interno resiste ante as imposições desagregadoras das forças hegemônicas e, no limite, se potencializam as tensões entre a globalidade e a localidade. Portanto é no lugar e pela espera do vivido que se encontram as possibilidades de transformação e da mudança.


I. 5 – TEMPO NO ESPAÇO EXPERIENCIAL

     Segundo TUAN (1983, p. 132), temos um sentido de espaço porque podemos nos mover e de tempo porque, como seres biológicos, passamos fases recorrentes de tensão e calma. “O movimento que nos dá o sentido de espaço é em si mesmo a solução da tensão. Quando esticamos nossos membros, experienciamos simultaneamente espaço e tempo – o espaço como a esfera de liberdade da limitação física, e o tempo como a duração na qual a tensão é seguida de calma. A facilidade com que confundimos as categorias espacial e temporal é evidente na linguagem. Freqüentemente e comprimento é dado em unidades de tempo. A passagem do tempo, ao contrário, é descrita como “comprimento”. O tempo é ainda “volume”, como, por exemplo, quando as pessoas falam dos “grandes momentos” da vida, uma linguagem figurada que, segundo Langer, é psicologicamente mais precisa que dizer tempo emocional ou tempo atarefado. A vida diária na sociedade moderna quer que estejamos conscientes do espaço e do tempo como dimensões separadas e como medidas transformáveis da mesma experiência. Preocupamos-nos se há espaço para estacionar o carro, se chegaremos atrasados para um encontro e, até mesmo quando calculamos a distância do estacionamento ao escritório em termos de tempo, gostaríamos de ter reservado um espaço de tempo bem maior para o encontro.
     As pessoas diferem quanto a consciência de espaço e tempo e na maneira de elaborar um mundo espácio-temporal. Se a pessoa não tem um sentido de espaço bem articulado, seu sentido de tempo também não será bem articulado.
     “Há muito tempo e muito longe” são as palavras iniciais de muitas lendas e contos de fada. Associar um lugar remoto com um passado remoto é um modo de pensar. A associação apóia-se na experiência.”
     TUAN (1983, p. 146), conclui dizendo que o espaço e o tempo coexistem, se entremesclam e cada um deles é definido de acordo com a experiência pessoal.


I. 6 – TEMPO E LUGAR

     Segundo TUAN (1983, p. 198), saber como tempo e lugar estão relacionados é um problema intrincado que requer diferentes abordagens. “Vamos explorar três delas: tempo como movimento ou fluxo, e lugar como pausa na corrente temporal; afeição pelo lugar como uma função de tempo, captada pela frase: “leva tempo para se conhecer um lugar”, e lugar como tempo tornando possível, ou lugar como lembrança de tempos passados”.
     O lugar é um mundo de significado organizado. É essencialmente um conceito estático. Se víssemos o mundo como processo, em constante mudança, não seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar.

“Na sociedade moderna, a relação entre a mobilidade e uma sensação de lugar pode ser muito complicada. A maioria das pessoas alcançam uma posição relativamente estável na sociedade entre os trinta e quarenta anos de idade. Estabelecem uma rotina de casa, escritório ou fábrica e lugar de férias. Estes são lugares diferentes. Não se faz confusão entre o trabalho mais ou menos enfadonho no escritório e assistir televisão em casa; e as duas semanas de férias na praia são um acontecimento muito esperado. Os lugares de importância pessoal não mudam com o passar dos anos; a família vai para a mesma cidade todo verão. Com o tempo, a sensação de lugar se estende além das localidades individuais para uma região definida por essas localidades. A região, compreendida pelo lar, escritório e praia, torna-se por si mesma um lugar.” (TUAN, 1983, p. 202)



     O segundo tema (p. 203), intimamente relacionado com o primeiro, é “quanto demora para se conhecer um lugar?” O homem moderno se movimenta tanto, que não tem tempo de criar raízes; sua experiência e apreciação de lugar é superficial. “Sentir” um lugar leva tempo: se faz de experiências, em sua maior parte fugazes e pouco dramáticas, repetidas dia após dias e através dos anos. Com o tempo nos familiarizamos com o lugar, o que quer dizer que cada vez mais o consideramos conhecido. A afeição, por uma pessoa ou uma localidade, raramente é adquirida de passagem.
     “A sensação de tempo afeta a sensação de lugar” (p. 206). “A história tem profundidade e o tempo confere valor ao lugar” (p. 211).
     “Normalmente, leva-se tempo para se sentir afeição pelo lugar, no entanto, a qualidade e a intensidade da experiência é mais importante do que a simples duração” (p. 219).

II – A DINÂMICA ESPACIAL


     Segundo SANTOS (1997, p. 95), teorizar sobre a ciência geográfica equivale à procurar caminhos para entendermos o fenômeno geográfico. Uma situação geográfica, ou seja, o que um lugar é, num determinado momento, sempre constitui o resultado de ações de diversos elementos, que se dão em diferentes níveis. Esses elementos são variáveis, pois mudam de significação através de tempo.
     A história é sem fim, está sempre se refazendo. O que hoje aparece como resultado é também um processo; um resultado hoje é também um processo que amanhã vai tornar-se uma outra situação. O processo é o permanente devir. Somente se pudéssemos parar a história é que teríamos um estado, uma situação permanente.
     Toda situação é, do ponto de vista estático, um resultado, e do ponto de vista dinâmico, um processo. Numa situação em movimento, os atores não têm o mesmo ritmo, movem-se segundo ritmos diversos. Portanto, se tomarmos apenas um momento, perdemos a noção do todo em movimento, conclui SANTOS.


II. 1 – OS EVENTOS

     Em SANTOS (2002, p. 144), o lugar é o depositário final, obrigatório, do evento.
     Um evento é uma causa de outro avento (p. 160). Só a totalidade em movimento cria novos eventos. Mas a totalidade em movimento também inclui as ações tornadas possíveis em um lugar particular, a partir do qual acabam por influenciar outros lugares. E as ações não são indiferentes à realidade do espaço, pois a própria localização dos eventos é condicionada pela estrutura do lugar.
     Sartre (em SANTOS. 2002, p. 162), nos recorda que “os fatos não são aparições isoladas, eles se produzem conjuntamente na unidade superior de um todo. Eles estão unidos entre si por laços internos e a presença de cada um modifica os demais em sua natureza profunda”. Não apenas um evento sucede outro, como “um evento é causa de outro”.
     Não basta analisar eventos isoladamente (p. 163). Os eventos são individuais, mas não há eventos isolados. Eles são inter-relacionados e interdependentes e é nessas condições que participam de situações. Na realidade, somente há situações porque os eventos se sucedem, ao mesmo tempo em que se superpõem e interdependem.
     A interdependência dos eventos se dá em vários níveis. Todavia, dois desses níveis são os mais relevantes, ao menos do ponto de vista geográfico: o nível do mundo e o nível do lugar. Consideremos que o acontecer, isto é, os eventos, são conseqüência da existência dos homens sobre a Terra, agindo para realizar o mundo.
     SANTOS conclui (p. 164), dizendo que cada evento é um fruto do mundo e do lugar ao mesmo tempo.


II. 2 – AS PRÁTICAS ESPACIAIS

     Em Corrêa (2000, p. 35), “no longo e infindável processo de organização do espaço o homem estabeleceu um conjunto de práticas através das quais são criadas, mantidas, desfeitas e refeitas as formas e as interações espaciais”. São as práticas espaciais, isto é, um conjunto de ações espacialmente localizadas que impactam diretamente sobre o espaço, alterando-o no todo ou em parte ou preservando-o em suas formas e interações espaciais.
     No processo de organização de seu espaço o homem age seletivamente (p. 36). Decide sobre um determinado lugar segundo este apresente atributos julgados de interesse de acordo com os diversos projetos estabelecidos.
     O valor atribuído a um lugar pode variar ao longo do tempo (p. 40). Razões de ordem econômica, política ou cultural podem alterar a sua importância.
     Eis o espaço geográfico, a morada do homem (p. 44). Absoluto, relativo, concebido como planície isotrópica, representado através de matrizes e grafos, descrito através de diversas metáforas, reflexo e condição social, experienciado de diversos modos, rico em simbolismos e campo de lutas, o espaço geográfico é multidimensional. Aceitar esta multidimensionalidade é aceitar por práticas sociais distintas que, como HARVEY (1973), em CORRÊA (2000, p. 44), se refere, permitem construir diferentes conceitos de espaço.
     Torná-lo inteligível é, para nós geógrafos, uma tarefa inicial. Decifrando-o, como diz LEFÉBVRE (1974), em CORRÊA (2000, p. 44), relevamos as práticas sociais dos diferentes grupos que nele produzem, circulam, consomem, lutam, sonham, enfim, vivem e fazem a vida caminhar...

II. 3 – OS PROCESSOS DE MUDANÇA

     Passíveis de uma datação, as diversas formas que compõem o espaço são também suscetíveis de ser suprimidas (TRINIDADE em CARLOS, 1996, p. 135). Essas mutações podem dar-se por motivos estruturais ou funcionais, mas representam sempre uma resposta do espaço e de sua organização à dinâmica da sociedade. A mudança estrutural mantém íntima ligação com as formas. Quando velhas formas são alteradas para uma adequação às novas funções, significa dizer que a organização espacial existente não atende de maneira tão eficaz à dinâmica social de um novo momento histórico. Alteram-se, portanto, as formas e o uso do solo, levando o espaço a se adequar ao movimento que lhe dá dinamismo.
     “Sendo o espaço a expressão territorializada da sociedade, o maior ou o menor acesso a certos padrões de consumo se dá, em grande parte, pela segregação no espaço das diversas classes ou frações de classe” (TRINDADE em CARLOS, 1986, p. 136). Isso se verifica basicamente em decorrência da capacidade diferencial que cada grupo social tem de pagar pela residência que ocupa, cuja característica é definida não só pelo tipo-qualidade como pela localização.
     Como parte do processo de produção do espaço urbano, os agentes produtores desse espaço provocam mudanças no uso residencial, alocando e realocando no espaço as diversas classes sociais ao longo do tempo. Novos espaços residenciais são produzidos nas periferias distantes com amenidades, espaços esses que são destinados às classes de alto status. Participam decisivamente na produção desses mesmos espaços os proprietários fundiários e o capital imobiliário (p. 137).
     As inovações decorrentes da estrutura social estão sujeitas a variáveis diversas, podendo ou não ser aceitas imediatamente. Algumas vezes as inovações precisam passar por maior número de distorções a fim de se integrarem; em outros casos, elas se opõem de modo relativo às formas existentes, de maneira que estas últimas não se acham de todo integradas ao novo. Operam, assim, o novo e o velho, ainda que não sejam duas entidades separadas e autônomas.
     O dinamismo inerente ao espaço geográfico permite que os elementos que ele materializa sejam o resultado de adições e subtrações sucessivas implantadas pela sociedade (p. 139). A relação existente entre espaço, paisagem e espacialização nos indica os elementos integrantes desse dinamismo. Segundo SANTOS (1988) o espaço resulta de uma soma e de uma síntese da paisagem com a sociedade por meio da espacialidade. A paisagem é relativamente permanente e expressa no espaço um momento, a espacialização da sociedade, conclui TRINDADE (em CARLOS, p. 139).


II. 4 – ESPAÇO E MUDANÇAS DE HOJE

     Em SANTOS (1994) os eventos adquirem existência, funcionalizam-se não só por sua possibilidade histórica, mas também porque o lugar, em sua singularidade, oferece a eles a ocasião (FIGHEIRA em CARLOS, p. 270).
     Por isso os lugares acolhem eventos que resultam de impactos temporais diferentes, impactos que, não obstante, sempre representam seu tempo, quer dizer, seu presente. Por essa razão, os eventos, em seu vir a ser, realizam-se neste ou naquele lugar, porque trazem do mundo, enquanto essência, alguns atributos que permitem sua realização neste ou naquele lugar, mas não em outro(s). Daí seu caráter seletivo, pois é neste processo que os eventos, extraindo seu significado da trama social, se materializam em um ou outro lugar. Mas também os lugares, por sua vez, ao se singularizarem em sua realização, universalizam-se por sua essência, já que o significado de seu conteúdo provém dessa totalidade que é o mundo como possibilidade.
     Segundo FIGHEIRA (em CARLOS, 1996, p. 272) essa situação nos conduz a refletir sobre a relevância do espaço para garantir (ou não) a eficácia de um lugar e, por conseguinte sua competitividade, em relação a outros lugares. Neste sentido, poderíamos pensar que a integração ao processo global, de um lugar qualquer, dependeria mais de sua espacialização do que de outra coisa? Inquietudes como esta parecem reafirmar a importância que cabe não só as relações de poder, imprescindíveis para compreender como a globalização se realiza, mas também chamam a atenção para não se deixar de lado ao espaço, pois ele é essencial para a realização, cada vez mais eficaz, deste fenômeno que define o mundo atual.


II. 5 – O EXTERNO E O INTERNO

     Em SANTOS (1997, p. 96) o interno é tudo que, num momento dado, está já presente num lugar determinado. No interno, as variáveis têm a mesma dimensão do lugar, as dimensões se superpõem delimitadas pelo lugar. O interno é aquilo que, num momento dado, aparece como local. A escala do lugar confunde-se com sua própria existência. Mas as variáveis que formam uma situação são freqüentemente extralocais, portanto mais amplas que o lugar. A escala de variáveis é maior do que a escala do lugar. O externo é tudo isso cuja sede é fora do lugar e tem uma escala de ação maior do que o lugar, muito embora incida sobre ele.
     “Cada lugar tem, pois, variáveis internas e externas. A organização da vida em qualquer parte do território depende da imbricação desses fatores” (SANTOS, 1997, p. 97). As variáveis externas se internalizam, incorporando-se à escala local. Até o momento no qual impactam sobre o lugar são externas, mas o processo de espacialização é, também, um processo de internalização.
     A realidade do externo depende, todavia, do interno (p. 97). Nenhuma variável externa se integra numa situação, se esta não tem internamente as condições para poder aceitá-la. A presença local de certas condições aparece, pois, como indispensável à internalização de fatos externos. Dessa forma, as variáveis externas, num momento dado não podem inserir-se em todos os lugares.
     A internalização do externo não se dá de forma arbitrária, mas em lugares específicos, onde podem combinar-se as variáveis internas com as externas. “A combinação entre o externo e o interno depende de uma articulação entre essas diferentes variáveis, e daí cria-se um novo precipitado. Tudo o que existe num lugar está em relação com os outros elementos desse lugar. O que define um lugar é, exatamente, uma teia de objetos e ações com causa e efeito, que formam um contexto e atinge todas as variáveis já existentes, internas; e as novas, que se vão internalizar” (SANTOS, 1997, p. 97).


II. 6 – O NOVO E O VELHO

     “Tanto o novo quanto o velho são dados permanentes da história; acotovelam-se em todas as situações. Mas se os elementos de uma dada situação trabalham em conjunto, é o novo que aparece como dotado de maior eficácia” (SANTOS, 1997, p. 98).
     O novo não chega em todos os lugares e quando chega não é ao mesmo momento; por isso, o novo nem sempre chega quando é absolutamente novo.
     A chegada do novo causa um choque (SANTOS, 1997, p. 99). Quando uma variável se introduz num lugar, ela muda as relações preexistentes e estabelece outras. Todo o lugar muda.
     Uma mesma variável apresenta o novo e o velho, existe nela uma luta contínua entre estes dois agentes. Muitas vezes, o novo expulsa logo o velho, às vezes este resiste por muito tempo. Esta resistência não depende só dessa variável velha, mas do conjunto das variáveis, da combinação e relação que existem entre elas. SANTOS (1997, p. 99) conclui dizendo que é esta relação contextual que vai estabelecer como se dará a luta entre o novo e o velho.


II. 7 – DO ESPAÇO AO LUGAR

     “Para Milton Santos o espaço deve ser considerado como uma totalidade, a exemplo da própria sociedade que lhe dá vida” (FERREIRA em CARLOS, 1996, p. 176). O espaço deve ser considerado como um conjunto de relações realizadas através de funções e formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente. Isto é, o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que se manifestam através de processos e funções.
     “Com essa conceituação de espaço podemos avançar já no entendimento do lugar dizendo que este se insere numa totalidade mais ampla cujas categorias de entendimento para ele são: as estruturas, os processos, as formas e as funções” (FERREIA em CARLOS, 1996, p. 277). Tal como no espaço total, no lugar se encontram funções e formas herdeiras de processos e estruturas sociais do presente e também residuais do passado, definindo tempos diferenciados para cada lugar.



“O espaço total e o espaço local são aspectos de uma mesma e única realidade – a realidade total – à imagem do universal e dos particulares. Portanto, não é demais enfatizar que o lugar autonomizado, desarticulado da totalidade de relações que comandam o espaço total não serve senão a falsidade analíticas” (FERREIRA em CARLOS, 1996, p. 277)


II. 8 – O LUGAR NO ESPAÇO

     “Entendido o lugar dentro de um real que é inteiro, produto do movimento da sociedade total, ele aparece como uma decorrência de necessidades sociais que lhes são exteriores” (FERREIRA em CARLOS, 1996, p. 277). No limite, se o lugar não contém em si mesmo sua explicação, por conseguinte a mudança também não poderia partir de suas instâncias. Antes, ele seria mera manifestação local de determinações alhures produzidas. Contudo, há de se ver esse movimento dialeticamente, pois, assim como o lugar sofre determinações homogeneizantes que lhes são estranhas é, ao mesmo tempo, capaz de resistir a elas, manter a diferença e nela engedrar processos de mudança.
     Segundo Milton Santos (FERREIRA em CARLOS, 1996. p. 277), cada lugar é caracterizado por uma combinação de variáveis quantitativa e qualitativamente deferentes e de idades igualmente diferentes. Em suas palavras: “é a seletividade com que os diversos aspectos do moderno realizam o seu impacto sobre um lugar determinado que se deve a diferença entre os lugares; e a combinação particular de variáveis diversamente dadas constitui o tempo espacial próprio a um determinado lugar”.
     Para Milton Santos (p. 278) é no lugar que o mundo da globalização doentia – que tudo quer homogeneizar – é contrariado, pois é nele que as diferenças se mantêm, que o real triunfa, que o interno resiste ante as imposições desagregadoras das forças hegemônicas e, no limite, se potencializam as tensões entre a globalidade e a localidade. Portanto, é no lugar e pela esfera do vivido que se encontram as possibilidades de transformação e da mudança. Como diz o próprio Milton Santos, “(...) a menos que se faça tabula rasa dos bens culturais, a busca do mais-ser supõe primordialmente respostas locais” (FERREIRA em CARLOS, 1996, p. 279).

III – ILHA DE GUARATIBA E SUAS CARACTERÍSTICAS


     Ilha de Guaratiba é um sub-bairro de Guaratiba na zona oeste do Rio de Janeiro que, fazendo limite com a Barra de Guaratiba, é separado de Vargem Grande e do Recreio dos Bandeirantes pelo Maciço da Pedra Branca.
     O nome Ilha de Guaratiba originou-se por corruptela, do nome do inglês Wíllian que vindo na comitiva de D. João VI, em 1808, foi morar na parte mais interior da Barra de Guaratiba, onde hoje fica o sub-bairro Ilha de Guaratiba (PINTO, 1986). O autor relata que esse inglês era dono da maioria das terras do bairro e como os antigos moradores não conseguiam pronunciar corretamente o seu nome, acabaram por chamá-lo de Wílha, seu Wílhia de Guaratiba e por fim Ilha de Guaratiba, em homenagem ao inglês Wíllian, antigo dono das terras do lugar em questão.
     Sendo uma área de preservação ambiental, Ilha de Guaratiba sempre se caracterizou pelo predomínio de grandes áreas verdes, muitas delas ainda bem preservadas, e pelo “ar interiorano” que sempre foi uma de suas maiores características.
     Sua superfície é de 9 km² e sua população é estimada em 4.231 habitantes de acordo com o anuário estatístico da Cidade do Rio de Janeiro (1995).
     O clima ameno, o ar puro, a grande área verde, a tranqüilidade e o sossego, aliados às demais amenidades existentes, tem feito de Ilha de Guaratiba um lugar bastante valorizado além de um grande negócio para especuladores imobiliários. O resultado é a invasão que o bairro têm sofrido nos últimos anos e o grande aumento de sua população residente em inúmeros sítios e casas e em muitos condomínios instalados ultimamente.


III. 1 – ILHA DE GUARATIBA: UM BREVE HISTÓRICO

     Os registros da história de Guaratiba estão datados desde 1579, treze anos após a fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (PINTO, 1986). O lugar porém, já era habitado pelos índios Tupi-Guaranis. Inclusive, o nome Guaratiba originou-se do Tupi-Guarani, onde Guará (vermelho em Tupi-Guarani), nesse caso, representa o grande número de aves pernaltas que povoavam a região (os Guarás) e tiba significa (em Tupi-Guarani) abundância. Portanto, etimologicamente, Guaratiba significa abundância de Vermelho, ou melhor, abundância de Guarás.
     A rotina dos Tupis-Guaranis só veio a ser alterada com a chegada de Manoel Velloso, que, junto com a esposa, Jerônima Cubas, filha de Brás Cubas, veio morar na recém constituída sesmaria de Guaratiba com toda a sua família, e a partir de então, construiu e administrou engenhos de produção e exportação de açúcar e aguardente.
     A expansão de Guaratiba fazia-se rapidamente graças ao trabalho árduo dos descendentes de Velloso. Ao final do século XVIII, muitos engenhos multiplicavam-se. Entre eles, o Engenho Novo, o Engenho de Guaratiba e o Engenho do Morgado – hoje Engenho dos Mudinhos – que pertenceu ao padre João Pereira de Cerqueira. Para escoar a produção, parte dos manguezais foram derrubados para que o rio Portinho servisse de escoadouro para a produção.
     Em Pinto (1986) há relatos sobre o naufrágio de alguns barcos no rio Portinho nessa época, quando escoavam a produção de açúcar do Engenho do Morgado. Um outro fato interessante ocorreu na década de 50 do século XX quando o alambique dos mudinhos – antigo Engenho do Morgado – foi visitado por uma comitiva presidencial onde se faziam presente os presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubischek.
     O trabalho nos engenhos era desenvolvido por escravos, a maioria deles fornecidos pela família Breves, que residiam na Restinga da Marambaia. Segundo Pinto (1986) “a partir da descoberta do ouro e do diamante, a mão-de-obra escrava foi deslocada para as minas e o cultivo de cana de açúcar foi declinado”. Ainda no século XVIII, o café veio tomar posição nos espaços do lugar.
     O café provocou uma verdadeira devastação nas matas do Rio de Janeiro, e em Guaratiba, ainda hoje, verifica-se nas encostas, espécimes isoladas oriundas dessa época. Sua passagem e seu declínio trouxeram para o lugar características que sempre se notabilizaram como peculiares à Ilha de Guaratiba.
     Devido, em grande parte ao seu passado histórico, Ilha de Guaratiba sempre foi tida como o único remanescente rural de nossa cidade. A habilidade no trato da terra fez do lugar, durante décadas, um verdadeiro “cinturão verde”, grande produtor de hortifrutigranjeiros.
     Os alimentos produzidos em Ilha de Guaratiba eram vendidos no CEASA, no próprio local de cultivo e, principalmente, nas feiras livres da cidade. No bairro, o dia do descanso semanal era a 2ª feira, pois no domingo o dia era de feira.
     Com a decadência das feiras livres, devido a implantação de inúmeros sacolões em todos os bairros, a produção de alimentos em Ilha de Guaratiba também decaiu. Os produtores e feirantes viram-se na obrigação de mudar a função de suas terras. Muitos se descambaram para a produção de plantas ornamentais, porém muitos outros, optaram por vender parte de suas terras.
     Da venda dessas terras pelos antigos agricultores, seguiu-se uma grande transformação no espaço de Ilha de Guaratiba. Nos locais onde haviam plantações, passaram a ser construídas casas, sítios e até condomínios.


III. 2 – ILHA DE GUARATIBA EM SEUS ASPÉCTOS NATURAIS

     Ilha de Guaratiba é uma área de baixada com um verde amplo e exuberante, cercada em grande parte pelo Maciço da Pedra Branca, sendo uma área ainda muito preservada em seu aspecto sócio-ambiental.
     Quando se fala de área verde, Ilha de Guaratiba pode ser considerada privilegiada. No bairro encontram-se importantes áreas de preservação ambiental e significativos trechos de floresta natural.
     O Maciço da Pedra Branca, que começa junto ao mar, seguindo por escarpas, montanhas e grotões florestados contorna, praticamente, todo o bairro fazendo do mesmo uma verdadeira “ilha”, cercada de verde e de morros por todos os lados – com exceção da parte sul, onde fica o mangue.
     No município do Rio de Janeiro essa é a maior área coberta por floresta natural, já que a Floresta da Tijuca é, em parte, oriunda de reflorestamento. A flora predominante é herbácea e a fauna, exuberante, é também rica em aves migratórias ou que vêm ao lugar para nidificar.
     A prática de turismo ecológico é muito comum em Ilha de Guaratiba, principalmente nas áreas circunvizinhas ao Maciço da Pedra Branca onde as vias de acesso são muito utilizadas para a prática de “trilhas” em motos, bicicletas e em comitivas. Uma das vias mais utilizadas é a Estrada do Morgado que atravessa o Maciço e vai dar no bairro de Vargem Grande.
     Além do ambiente extremamente bucólico, Ilha de Guaratiba possui um clima ameno e um ar puro e agradável. Tais características, têm feito de Ilha de Guaratiba um verdadeiro oásis em meio a grande metrólope carioca.
III. 3 – ASPÉCTOS ECONÔMICOS DE ILHA DE GUARATIBA

     Ao longo de sua história, Ilha de Guaratiba sempre caracterizou-se pela sua aptidão agrícola. Nos séculos XVIII e XIX, respectivamente, o bairro foi grande produtor de açúcar e café. Mesmo com o fim desses ciclos, o bairro manteve sua aptidão agrícola e foi, por várias décadas, um dos maiores produtores de hortifrutigranjeiros de nossa cidade.
     Ilha de Guaratiba dependeu, durante muitos anos, da venda de seus produtos agrícolas, principalmente nas diversas feiras livres existentes na cidade. Grande parte da população local dependia exclusivamente da venda de seus produtos nessas feiras e com a decadência das mesmas, devido a expansão dos sacolões na cidade, os antigos produtores de hortifruti, passaram a produzir em suas terras plantas ornamentais.
     No bairro, atualmente, é grande o número de sítios produtores de plantas ornamentais e de chácaras que vendem esses produtos para toda a cidade e até para outros estados. Ilha de Guaratiba tem se destacado como o maior produtor de plantas ornamentais da cidade. Esse mercado tem crescido bastante e é hoje a base da economia local.
     Outro setor que têm crescido bastante nos últimos anos é o comercial. Isso se deve, principalmente, aos novos empreendimentos dos antigos feirantes que, por possuírem espírito empreendedor e experiência no setor comercial, passaram a investir na construção de inúmeros mini-mercados, padarias, açougues e sacolões.
     A indústria se faz representar por uma fábrica de iogurte de porte médio (BIG YOG) e por uma grande fábrica de produtos plásticos, a TUPERWARE. Essas empresas empregam muita gente do respectivo bairro.


III. 4 – ESPAÇO E SOCIEDADE EM ILHA DE GUARATIBA

     Em relação à sua localização geográfica, Ilha de Guaratiba pode ser considerado um lugar privilegiado. O bairro possui uma dialética interessante pois se encontra longe e ao mesmo tempo perto dos grandes centros e de áreas caras e/ou saturadas.
     O “isolamento” geográfico do bairro ocorreu devido, principalmente, ao “cercamento” do local ao norte e à leste pelo Maciço da Pedra Branca. À leste de Ilha de Guaratiba temos os bairros de Barra de Guaratiba e Grumari. Mais ao norte, atrás da serra da Grota Funda (Maciço da Pedra Branca), temos os bairros de Vargem Grande e Recreio dos Bandeirantes; ao sul, encontramos uma vasta área de manguezais ainda bem preservada e o bairro de Pedra de Guaratiba e, finalmente, à oeste, encontramos as “periferias de Guaratiba” e o bairro de Campo Grande.
     Ilha de Guaratiba é considerada, principalmente pelos especuladores imobiliários, como a ultima área de transição entre as novas zonas nobres da cidade (Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes) e as periferias saturadas. Tanto os especuladores imobiliários quanto a maioria dos seus moradores têm visto Ilha de Guaratiba como o “Novo Recreio” e consideram o lugar como o mais provável candidato a alcançar esse tipo de crescimento.
     Em Ilha de Guaratiba, como em qualquer outro lugar, não encontramos uma homogeneidade interna no que tange a distribuição populacional e a conseqüente seletividade espacial. No centro do bairro, conhecido como “Largo da Ilha”, e em seus arredores, se encontra a parcela da população mais “urbanizada”. Nesses pontos, as ruas são asfaltadas e bem iluminadas, além disso, nessas áreas se encontra boa parte do comércio do bairro e a área mais valorizada do lugar que é a estrada da Grota Funda. Nesta rua encontramos um dos maiores condomínios do bairro (Condomínio Residencial Pouso dos Guarás) além de inúmeras casas e sítios, a maioria destinada às classes média e alta.
     É na área central de Ilha de Guaratiba que as coisas acontecem. Encontramos aí, uma das duas escolas do bairro, quatro igrejas (uma católica e três evangélicas), os principais centros comerciais e, porque não dizer, a “elite guaratibana”. Os residentes dessa área possuem hábitos urbanos e são adeptos do crescimento vigente do lugar. Muitos deles sofrem influência direta dos bairros de Recreio dos Bandeirantes e, principalmente, Barra da Tijuca, onde trabalham a buscam o entretenimento nos seus diversos Shoppings Centers, parques temáticos, casas de espetáculos e danceterias.
     Num outro extremo se encontra a periferia do lugar. Nessa região, a mais interiorana de Ilha de Guaratiba, o estilo de vida se difere, e muito, ao das centralidades locais. Essa região é formada , sobretudo, por ruas de “chão batido” muito compridas, que distam, no mínimo, três quilômetros do “Largo da Ilha” e vão dar, todas elas, no sopé do Maciço da Pedra Branca, no extremo-norte no bairro.
     Nessa região encontram-se as mais belas paisagens de Ilha de Guaratiba, onde o verde é exuberante. A flora é composta por matas nativas com espécimes originários dos poucos resquícios de Mata Atlântica ainda existente e a fauna é rica, principalmente em sagüis, gambás e aves diversas. Os residentes desta parte interior de Ilha de Guaratiba, possuem hábitos e costumes distintos, em relação ao da área central. Muitas famílias dessa área ainda vivem do que a terra produz (coqueiros, ornamentais e frutíferas) e possuem uma característica ruralizada. Até hoje, Ilha de Guaratiba é considerada como “roça”. Essa fama do bairro se deve, principalmente, aos moradores dessa região.
     A população da área periférica de Ilha de Guaratiba é menos integrada ao bairro, principalmente em seus eventos mais comuns como festas sociais (aniversários e casamentos), reuniões de associação de moradores e festas públicas. Encontramos nessa área um povo bastante pacato, principalmente devido à tranqüilidade do lugar, onde o relacionamento interpessoal é muito valorizado. É nos cantões de Ilha de Guaratiba que a gentileza entre as pessoas é notória. Nesse lugar, as pessoas são muitos mais “próximas” umas das outras e o ambiente é bem aconchegante e familiar. Todos se conhecem e há um respeito muito grande e recíproco entre as famílias.
     A maioria dos residentes das partes seculares do bairro sempre sofreu e sofre, ainda hoje, uma influência muito grande do bairro de Campo Grande que dista 20 quilômetros de Ilha de Guaratiba.
     O bairro não possui nenhuma favela, no entanto, nos últimos três anos, formou-se um pequeno aglomerado de casa na parte oeste da Rua Professor Brant Hora, distando apenas 2 quilômetros da área central do bairro. Um outro evento relacionado à aglomeração humana desordenada deu-se às margens da Avenida das Américas, próximo a Serra da Grota Funda. A invasão desse ponto do bairro teve seu início a cerca de vinte anos, porém, o fato de a maioria daquelas terras ser de uso exclusivo das forças armadas, inibiu o crescimento ali da primeira favela de Ilha de Guaratiba.
     Em Ilha de Guaratiba é muito comum a posse de grandes e médias propriedades e é essa característica que determina o não surgimento de favelas e conjuntos habitacionais no bairro. Inclusive, a legislação vigente proíbe que em áreas de preservação ambiental, se estabeleça a implantação de loteamentos irregulares.
     Eis Ilha de Guaratiba, um espaço contendo vários lugares, onde cada um deles é “retratado” de forma ímpar pelos que os habitam e experienciam.



* no quadro acima podemos observar Ilha de Guaratiba em sua localização espacial, assim como seus respectivos bairros vizinhos, em relação ao Maciço da Pedra Branca.



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     Legenda:
         Ilha de Guaratiba
         Guaratiba
         Pedra de Guaratiba
         Barra de Guaratiba
         Grumari
         Recreio dos Bandeirantes
         Vargem Grande
* A ilustração acima mostra Ilha de Guaratiba em Guaratiba e seus bairros adjacentes





III. 5 – ILHA DE GUARATIBA HOJE

     Ilha de Guaratiba, hoje, passa por uma verdadeira metamorfose espacial no que tange o seu crescimento populacional e a conseqüente mudança da paisagem. Para SANTOS (1997, p. 37) “o fenômeno humano é dinâmico e uma das formas de revelação desse dinamismo está, exatamente, na transformação qualitativa e quantitativa do espaço habitado”. O bairro não para de crescer, e o que vemos hoje, é exatamente uma transformação qualitativa e quantitativa do espaço habitado.
     Segundo SANTOS (1997, p. 39), “a evolução da população não é apenas o resultado do excesso de nascimentos sobre o de morte, temos de levar em conta as migrações internas e externas, cada vez mais freqüentes. Mas também, as porções de território ocupadas pelo homem vão desigualmente mudando de natureza e de composição, exigindo uma nova definição”. Em Ilha de Guaratiba o crescimento se dá, principalmente, devido a “invasão” que o lugar tem sofrido nos últimos anos de novos moradores, oriundos de regiões caras e saturadas da cidade do Rio de Janeiro.
     Para SANTOS (1997, p. 40) “uma das características do espaço habitado é, pois, a sua heterogeneidade”. Ilha de Guaratiba se enquadra perfeitamente nesta afirmação do autor, pois de homogêneo, o lugar hoje não têm nada. A heterogeneidade local aumentou muito com o crescimento do lugar e a conseqüente reestruturação espacial.
     Atualmente, o projeto mais comentado no lugar é a construção de um túnel sob a serra da Grota Funda ligando o Recreio dos Bandeirantes à Ilha de Guaratiba, reduzindo a distância percorrida nessa travessia, dos atuais quatro quilômetros para algo em torno de 1,1 quilômetro. O projeto já foi licitado e está em processo de implantação, faltando apenas a assinatura do presidente da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), Paulo Coutinho, por se tratar de uma via que atravessará áreas protegidas por leis ambientais.


“O túnel da Grota Funda e seus anexos somarão 12 quilômetros de extensão. Só o túnel terá 1.104 metros de comprimento e três faixas de rolamento. Antes da entrada, no Recreio dos Bandeirantes, será construído um pedágio com 14 cabines (...). O consórcio vencedor da licitação é formado pelas empresas Construcop, de São Paulo, e Modern, dos Estados Unidos. O túnel foi orçado em R$ 72 milhões e visa melhorar as condições do tráfego e diminuir a distância e o tempo entre as baixadas do Recreio dos Bandeirantes e de Ilha de Guaratiba (Jornal “O GLOBO”, de 09 de agosto de 2002, 2 ed. P. 15).


     Em SANTOS (1997, p. 44) encontraremos respaldo para tudo o que está acontecendo hoje em Ilha de Guaratiba quando ele diz que: “Agora, o fenômeno se agrava, na medida em que o uso do solo se torna especulativo e a determinação do seu valor vem de uma luta sem trégua entre os diversos tipos de capital que ocupam a cidade e o campo”.
     Ilha de Guaratiba, que hoje experiencia um constante crescimento e um rápido processo de valorização, deve boa parte de sua valorização imobiliária e consequente crescimento a alguns “factóides” onde o principal deles, era o túnel da Grota Funda.
     O túnel da Grota Funda não é mais um factóide, é um fato, pois já se encontra em vias de implantação. Ilha de Guaratiba que é por muitos considerado “o novo Recreio”, ficará ainda mais próximo do crescimento proveniente daquele bairro e, provavelmente, provará uma valorização ainda maior e um crescimento procedente depois da implantação do túnel.

IV – ILHA DE GUARATIBA: DE ESPAÇO À LUGAR

     Nas relações de espaço e lugar, TUAN (1983, p. 6) salienta que “o que começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor”.
     Durante muito tempo, Ilha de Guaratiba foi um “espaço indiferenciado” que apenas servia de ligação entre Barra da Tijuca e Campo Grande. O local era de passagem, era uma “ponte” entre lugares, que os ligava, mas não fazia parte deles.
     Nessa época, o bairro não era valorizado nem por seus próprios moradores, que, na maioria das vezes, nutria pelo mesmo um certo desprezo.
     Algum tempo depois começaram a aparecer no bairro, principalmente nas ruas mais afastadas, arborizadas e ruralizadas, alguns sítios, onde seus proprietários, com suas famílias, vinham passar o final de semana. Era o típico “fim-de-semana na roça”.
     Com o tempo esses sítios foram se multiplicando e tomando boa parte das muitas ruas e estradas do bairro. Em pouco tempo, era tão grande o número de sítios no local, que Ilha de Guaratiba passou a ser identificada como “o bairro dos sítios”.
     Após os sítios, apareceram no bairro também as hípicas, uma vez que muitos dos donos de sítios possuíam cavalos, praticavam hipismo e tinham também o hábito de cavalgar.
     Com o aparecimento dos sítios e das hípicas, surgiam também no bairro os primeiros empregos, excetuando os da agricultura, que já existiam.
     Algum tempo depois, muitos dos donos de sítios que passavam neles apenas os finais de semana, se mudaram em definitivo para o bairro e passavam a fazer parte do convívio diário de Ilha de Guaratiba.
     À partir desse momento, o bairro começa a perder as características de “espaço indiferenciado e começa a se transformar em lugar à medida que é valorizado por seus novos moradores (TUAN, 1983, p. 6).
     Nesse ínterim, a saturação e o encarecimento de áreas circunvizinhas, aliados à crescente violência e aumento da criminalidade na Cidade do Rio de Janeiro, faz com que Ilha de Guaratiba se torne alvo dos especuladores imobiliários que ajudam, com suas propagandas, a transformar o bairro em um verdadeiro “paraíso” e o antigo “espaço indiferenciado” de Ilha de Guaratiba em um “lugar maravilhoso para se morar”.
     À partir dessa súbita valorização imobiliária o bairro começa a passar por um rápido e crescente processo de crescimento. Algumas ruas parecem verdadeiros canteiros de obra, surgem em toda parte inúmeros condomínios, o comércio começa a se expandir, as firmas começam a aparecer e a rotina local já não é a mesma de tempos atrás.
     Para os que passavam, Ilha de Guaratiba deixou de ser apenas um local de passagem, um “espaço indiferenciado”, um local sem importância e significado e passou a ser um lugar especial onde vale a pena parar e “fincar estacas”, um lugar de morada, o habitat, a casa, o lugar, o seu lugar.
     Para os antigos moradores, Ilha de Guaratiba também passou a ter valor. Muitos que desprezam o bairro, antes da transformação pela qual ele passou, hoje o reverenciam como “lugar” e muitos, até sentem saudades do que ele era a tempos atrás. Esses, em sua maioria, foram descobrindo que o “espaço” onde moravam, aos poucos foi se transformando em lugar, e hoje, temem que o crescimento que transformou o espaço de Ilha de Guaratiba em lugar, o transforme novamente em espaço (ou deslugar), pois o crescimento que traz o reconhecimento da sociedade em relação à um lugar, traz junto, também, as mazelas dessa sociedade.
IV. 1 – OS FATORES EXTERNOS E INTERNOS

     Em Santos (1997, p. 96 e 97) ”as variáveis que formam uma situação são freqüentemente extralocais, portanto mais amplas que o lugar. Todavia, a realização do externo depende do interno. Nenhuma variável externa se integra numa situação, se esta não tem internamente as condições para poder aceitá-la”.
     No caso especifico de lha de Guaratiba, observou-se que o fenômeno de crescimento em vigência partiu de “fora para dentro”. Nas entrevistas feitas aos novos moradores, constatou-se os principais fatores externos que internalizaram-se e fizeram surgir o “evento” em questão.
     A violência urbana que a muitas décadas notabiliza a nossa cidade, tem aumentado a cada dia e feito com que muitas pessoas se distanciem dos grandes centros, onde a violência é maior. Esse fator externo tem influenciado, e muito, na valorização de periferias com amenidades, onde a segurança é bem maior que a dos bairros “centrais”.
     Nesse aspecto, Ilha de Guaratiba é um dos lugares mais tranqüilos da cidade, onde a violência se resume a um ou outro crime passional. O paradoxo formado pela violência do Rio e a calma de Ilha de Guaratiba tem atraído para o local muitas famílias que buscam sobretudo segurança para viver e a encontram no lugar.
     Um outro fator é a poluição (sonora e ambiental) aliada ao caos generalizado, provocado pelo grande número de veículos em bairros muitos povoados e urbanizados. Os moradores da Barra da Tijuca e, principalmente, os da zona sul sofrem diariamente com o stress causado pelo caos no trânsito. Muitos desses moradores têm procurado um refúgio e o têm encontrado em Ilha de Guaratiba.
     Outros fatores como a falta de espaço ou espaço reduzido, responsável pela deterioração da qualidade de vida e o alto valor imobiliário em alguns bairros nobres da cidade, têm feito muita gente se mudar para Ilha de Guaratiba. A existência desses dois fatores foi percebida no relato do Sr. Roberto: Ele morava com sua família em um apartamento em Botafogo. Além de ter que pagar um valor absurdo de condomínio, Roberto não estava satisfeito com o espaço físico de que dispunha para viver com sua família. Roberto resolveu vender o seu apartamento e com o valor recebido, ele comprou um mini-sítio em Ilha de Guaratiba (com casa e tudo) e ainda sobrou um dinheiro para investir na construção de uma casa em um dos condomínios do bairro (Cond. Residencial Parque das Graças). Mais tarde, Roberto vendeu também o sítio e veio morar com a sua família no condomínio. Moral da história, Roberto ganhou mais espaço, ganhou dinheiro e melhorou sua qualidade de vida.
     Roberto trabalhava com a venda de imóveis na Barra da Tijuca e Zona Sul. Quando mudou para Ilha de Guaratiba e descobriu as vantagens de se morar no bairro, começou a especular no local. Ele é um dos responsáveis pela implantação do condomínio onde mora e também pela vinda de muitos de seus residentes, pois a maioria dos condôminos entrevistados lá, vieram por sua indicação.
     Outros dois fatores também têm contribuído para o evento em questão. Um deles é o obvio crescimento que vem em direção ao bairro, uma vez que, seqüencialmente, ele começou do centro em direção à Zona Sul, da Zona Sul em direção à Barra da Tijuca, da Barra da Tijuca em direção ao Recreio e, finalmente, do Recreio em direção à Ilha de Guaratiba.
     O outro fator é a precoce desvalorização do Recreio dos Bandeirantes devido à formação e o crescimento desordenado da favela do “Terreirão” e o conseqüente aumento da violência e da criminalidade no bairro.
     Em Santos (1997, p. 97) “a internalização do externo não se dá de forma arbitraria, mas em lugares específicos, onde podem combinar-se as variáveis internas com as externas”. Em todos os fatores extralocais abordados nesse tópico, vimos que Ilha de Guaratiba apresentou-se apta a acomodá-los de maneira eficaz.


IV. 2 – A TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO DE ILHA DE GUARATIBA


Gambás e preás aos montes atravessam desconfiados o asfalto. Bois caminham sem pressa, em fila indiana, rumo aos pastos. Sagüis em penca fazem macaquices nos galhos das árvores dos quintais e boungainvilles. Garças brancas de pescoço longo, em sua leveza, desenvolvem coreografias cênicas sobre lagos e córregos em vôos espetaculares. Assim é a vida por aqui. Parece que a vida parou.


     Os versos acima, extraídos de um folder de propaganda imobiliária dos anos 80, resumem como era o local há alguns anos atrás. A paisagem era exatamente à que imaginamos quando lemos esses versos.
     Caminhando hoje por Ilha de Guaratiba, ainda é possível observar muito do que foi abordado nos versos, porém, uma outra paisagem toma forma dentre os sagüis, árvores e gambás. São as inúmeras construções, objetivo, amplamente alcançado, pelo autor dos versos e dos folder.
     Passando pela Estrada da Ilha, é possível observar algumas mudanças ocorridas, mais é quando entramos nas ruas paralelas à esta que temos a noção exata das transformações ocorridas no espaço de Ilha de Guaratiba nos últimos anos.
     Ao entrar despretensiosamente no Caminho da Boa Vontade, me deparei com um verdadeiro canteiro de obras. Eram inúmeras casas em construção e outras dezenas, recém construídas. As arvores e as plantações de poucos anos atrás, haviam desaparecido.
     Na Avenida Gaspar de Lemos observou-se o choque entre “o novo e o velho” (SANTOS, 1997, p. 98) pois plantações imponentes disputavam com haras, casas e condomínios um lugar de destaque em suas margens.
     Na Estrada do Cachimbau, o verde abundante e exuberante já não se destaca tanto, pois o que chama a atenção mesmo são as inúmeras mansões que agora dividem com ele o espaço.
     Observando Ilha de Guaratiba, é possível enxergar claramente a transformação que seu espaço vem sofrendo. Embora esse fenômeno seja recente, a rapidez com que ele vem se desenvolvendo tem mudado em pouco tempo sua paisagem sócio-espacial.

IV. 3 – O SURGIMENTO DOS CONDOMÍNIOS

     Segundo Trindade (em CARLOS, 1996, p. 137) “novos espaços residenciais são produzidos nas periferias distantes com amenidades, espaços esses que são destinados às classes de alto status. Participam decisivamente na produção desses mesmos espaços o Estado, os proprietários fundiários e o capital imobiliário”.
     Houve em Ilha de Guaratiba nos últimos quinze anos, uma especulação imobiliária muito grande em cima dos proprietários fundiários. A decadência da agricultura local fez com que os proprietários vendessem boa parte de suas terras à esses especuladores.
     Há quinze anos, em Ilha de Guaratiba, condomínio era sinônimo de Zona Sul e quase ninguém imaginava que tudo já estava preparado para que essa nova realidade surgisse no bairro. Porém, com terra nas mãos e uma demanda crescente, não demorou muito e os especuladores imobiliários começaram a implantar no bairro inúmeros condomínios.
     É importante observar que os primeiros condomínios que se instalaram no bairro foram implantados, estrategicamente, no final das ruas, nos lugares mais escondidos do bairro. Isso é uma prova de que os novos moradores de Ilha de Guaratiba buscam, sobretudo, segurança e tranqüilidade.
     Em todas as ruas do bairro é possível observar a presença de condomínios já habitados, porém o que chama mais atenção é o grande número de condomínios ainda em estado de implantação e também a grande concentração fundiária (sem construção alguma), agora em poder do capital imobiliário.
     Caminhando pelas ruas do bairro com um olhar crítico, é possível observar, pelos inúmeros anúncios que dezenas de agências imobiliárias têm atuado no local. Isso nos leva a crer que o número de condomínios em Ilha de Guaratiba tende à crescer muito e que o bairro sofrerá uma influência ainda maior por parte dos seus novos moradores.


IV. 4 – A INFLUÊNCIA DOS NOVOS MORADORES

     Em Santos (2002, p. 330) “o homem de fora é portador de uma memória, espécie de uma consciência congelada, provinda com ele de um outro lugar. O lugar novo o obriga a um novo aprendizado e a uma nova formulação”.
“O lugar têm um peso enorme na produção do homem” (SANTOS, 2002, p. 328). Isso nos leva a concluir que, seja para onde for, ele levará consigo as experiências vividas no lugar onde ele morou. Ele levará para o seu novo lugar seu hábitos, costumes, cultura, moda e estilo de vida.
Os novos moradores de Ilha de Guaratiba têm trazido para o lugar toda a sua bagagem, toda a sua experiência de vida, vivida num lugar completamente diverso. Tem trazido para o lugar novos hábitos e costumes que tem exercido uma influencia enorme no lugar.
Os antigos moradores de Ilha de Guaratiba, que sempre cultivaram hábitos interioranos, típicos de lugar pequeno, hoje cultivam costumes e hábitos urbanos. As áreas do bairro que sofrem a influência direta dos novos moradores são as mais afetadas com seus novos costumes. Uma prova dessa influência é o exemplo dado pela mudança que a nova vizinhança exerceu sobre a vida de Ana Cláudia.
Ana Cláudia nasceu e foi criada em Ilha de Guaratiba, ela morava com seus pais na Rua Professor Brant’ Hora. Quando o condomínio residencial Parque das Garças se instalou próximo à sua casa e os novos vizinhos começaram a chegar, Ana Cláudia se identificou tanto com o estilo de vida dos novos moradores que resolveu também se mudar para o condomínio.
Ana Cláudia é o típico exemplo de uma pessoa do lugar que sofreu uma influência direta dos novos moradores e que hoje cultiva novos hábitos e costumes, além, é claro, de um estilo de vida que se identifica muito mais com a dos que chegaram.
A influência dos novos moradores também é marcante devido ao aquecimento que provocou na economia local e a conseqüente melhoria da oferta de empregos para a população de Ilha de Guaratiba.
Indiretamente, muitos também são influenciados pela degradação das áreas verdes para a implantação das novas residências. Há quem diga que essa influência, à qual estamos abordando, é muito negativa para o lugar, porém, a maioria da população de Ilha de Guaratiba, a vêem com muito bons olhos.



IV. 5 – A INFLUÊNCIA DO LUGAR SOBRE OS NOVOS MORADORES

     Em Santos (2002, p. 329) “o novo meio ambiente opera como uma espécie de detonador. Sua relação com o novo morador se manifesta dialeticamente como territorialidade nova e cultura nova, que interferem reciprocamente, mudando-se paralelamente territorialidade e cultura; e mudando o homem”.
     Não podemos ser deterministas à ponto de dizer que o lugar determina o modo de vida humano, porém está mais do que provado que o meio influência sim o modo de viver das pessoas. Em Ilha de Guaratiba não poderia ser diferente, uma vez que os recém chegados no local, ao interagirem com os antigos moradores, acabam adquirindo alguns dos costumes do lugar.
     Um exemplo da influência do lugar sobre os novos morados foi o relatado por Cid, que se mudou para o bairro meio que contra a vontade. Cid morava com os pais num apartamento em Copacabana quando o aumento do aluguel e o alto valor do condomínio os empurrou para Ilha de Guaratiba.
     Cid relata que no início não suportava a idéia de ter que trocar seu convívio urbano por um lugar paradão e sem agito. Aos poucos, porém, o lugar foi fazendo com que Cid mudasse de opinião à seu respeito. Cid e sua família nuca haviam entrado numa igreja, no entanto, o contato com Ilha de Guaratiba mudou alguns de seus conceitos. Hoje Cid e seus pais são freqüentadores assíduos de uma igreja evangélica no bairro e se encontram completamente integrados ao mesmo.
     Quando perguntado sobre a influência do lugar na sua vida, Cid respondeu que o que mais chamou a sua atenção no local foi o ambiente familiar proporcionado pela “proximidade” das pessoas.
     “Aqui as pessoas são muito mais próximas e solidárias. Isso me deixou muito a vontade nos relacionamentos interpessoais e acabou facilitando minha adaptação. Hoje, me sinto parte integrante desse lugar”.
     Todos os novos moradores que foram entrevistados em Ilha de Guaratiba, mostraram-se inteiramente adaptados ao lugar. A relação dos mesmos, tanto com o bairro quanto com os antigos moradores é exemplar e a convivência, baseada na cordialidade, salvo raras exceções. Percebeu-se que as inúmeras trocas dão-se reciprocamente e que há uma partilha mútua dos diferentes hábitos e experiências dos antigos com os novos moradores e vice-versa.


IV. 6 – A RELAÇÃO COM O LUGAR

     “Ilha de Guaratiba é uma paixão, e o grande barato de se morar aqui é exatamente essa paixão que o guaratibano sente por seu lugar. Você passa a se identificar tanto com o lugar que o mesmo passa a fazer parte de você, de sua vida.
     Ilha de Guaratiba é para mim um lugar de liberdade. Aqui me sinto completamente à vontade. A minha relação com o lugar, é uma relação de paixão”.
     O texto acima relatado por Paulo César, morador de Ilha de Guaratiba, resume claramente o sentimento e a relação que o guaratibano tem com o lugar. Todos os antigos moradores entrevistados, quando perguntados sobre o que acham do seu lugar, responderam unanimente: É o melhor lugar do mundo para se morar; Não troco Ilha de Guaratiba por lugar nenhum; Eu adoro esse lugar; É maravilhoso viver aqui...

“O lugar é o teatro insubstituível das paixões humanas, responsável, através da ação comunicativa, pelas mais diversas manifestações de espontaneidade e da criatividade”. (Santos, 2002, p. 322)

CONSIDERAÇÕES FINAIS


     “Estamos em uma parte desconhecida da cidade: um espaço desconhecido se estende à nossa frente. Após algum tempo conhecemos alguns referenciais e os caminhos que o ligam. Eventualmente o que foi um espaço estranho e desconhecido se torna um lugar familiar. O espaço abstrato, carente de significado exceto pela estranheza, torna-se um lugar concreto, cheio de significado”. (TUAN, 1983, p. 220)


     Mesmo sem saber, Tuan nesse texto fala de Ilha de Guaratiba. Um espaço que se tornou lugar após ser “descoberto” por novos moradores que o dotaram de valor. Após esse “encontro”, os antigos moradores de Ilha de Guaratiba também se deram conta que o espaço de antes, agora tomava foros de lugar e passaram desde então a reverenciá-lo como tal.
     Esse trabalho abordou a dinâmica espacial provocada pelo crescimento do bairro assim como a relevância desse evento para as transformações ocorridas na sociedade de Ilha de Guaratiba.
     Para Tuan (1983, p. 6) “o que começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor”.
Ilha de Guaratiba era ignorada pelos “de fora” e rejeitada pelos “de dentro”, era um espaço indiferenciado que passou por um constante e crescente processo de valorização até se tornar o que é hoje, ou seja, um lugar. Tanto para os “de fora” que a valorizavam quanto para os “de dentro” que reconheceram o seu valor, Ilha de Guaratiba é hoje um lugar, lugar reconhecido e valorizado por seus moradores.


“Qual ave que vagueia longe do seu ninho, assim é o homem que anda vagueando longe do seu lugar” (PROVÉRBIOS 27:8).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Anuário Estatístico da Cidade do Rio de Janeiro, 1995.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. Ensaios de Geografia Contemporânea – Milton Santos: Obra revisada. São Paulo: Hucitec, 1996.

CORRÊA, Roberto Lobato et. al. Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

GOMES, Paulo César da Costa. Geografia e Modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

GONÇALVES, Neide Maria Santos et. al. Os Lugares do Mundo – A Globalização dos Lugares. Salvador: UFBA, 2000.

MELLO, João Batista Ferreira de. Geografia Humanística: A Perspectiva da Experiência Vivida e uma Crítica Radical ao Positivismo. Rio de Janeiro, v.52, n.4, p. 91-115, outubro / dezembro. 1990

O GLOBO. Rio de Janeiro, 9 ago, 2003. 2 ed. p. 15.

PINTO, Rivadávia M. Guaratiba, um orgulho de 407 anos. Artigo in NOPH, 1986.

SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec, 1997.

________. A Natureza do Espaço. São Paulo: Edusp, 2002.

TUAN, Yu Fu. Espaço e Lugar – a Perspectiva da Experiência. São Paulo: Difel, 1983.


Biografia:
Mestre e Doutor em Geografia - UERJ.
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