O ÚLTIMO PORRE
Há muita gente que toma bebidas nobres. Outras que não passam de cervejas ou cachaças. Por esta última preferência fica apenas o ignoto arauto destas páginas. Não vamos citar o nome, para preservar sua identidade. Um alguém que bebia somente a mais comum das bebidas. Porém, num dia, pretendeu experimentar o cordial uísque importado. Posto que lhe fora oferecido por um benquisto da cidade. O nosso anônimo ao tomar um copo de uísque, pretendeu continuar no bom paladar e foi mais além.
Hoje vou dar uma de rico. Bebo só uísque escocês, tenho dinheiro, disse ele. E foi. Passou a beber mais do que devia. Indo para um restaurante chique, encontrou-se com um amigo de infância, que há anos não se tinham visto. Aí passaram a conversar e recordar dos bons tempos de jogos de bolas. E o arauto continuava tomando doses e mais doses de uísque até que ficou se passando. Já era tarde da noite ou virava o dia.
Cinco da manhã se acordou quando viu as paredes de sua casa rodando. Estava ainda bêbedo e não sabia do que fizera no dia anterior. Nem como havia chegado em casa. Estranhou-se e tentou relembrar-se do que fizera e nada conseguiu.
A sua lembrança fora apagada ou queimada com o tanto que tomara de uísque na noite passada. Levantou-se e foi ao bolso da calça ver se tinha dinheiro na bolsa. E tinha. Nada lhe fora roubado. Tentou lembrar-se como chegou em casa. Nada. Pensou e recordou-se apenas do primeiro gole do uísque lhe ofertado pelo benquisto. Quanto ao encontro do amigo e do porre que tomou da Escócia, tudo se apagou da mente.
Dias depois o amigo apareceu e disse-lhe: Mas, rapaz! Você bebeu tanto que tive que apanhar um táxi, colocar você dentro. Fui até a sua casa, tirei a chave do seu bolso, paguei a corrida e deixei o troco e fui embora. Você se lembra de alguma coisa? Não. Pois foi.
Daí nunca mais vai beber daquela maneira. Se tivesse acontecido o pior, um acidente de carro, e morresse, não sabia nem se teria morrido. Acredito que é assim. Pois muitos morrem por embriagues e estão como se estivesse dormindo na cama da fatalidade.
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Biografia: João Bosco de S. Rodrigues, nasceu na cidade do Crato/CE. Servidor Público Federal, autor de três livros publicados. Formado em Biologia. Já tem três livros para publicação, O AMOR INOCENTE, OS CAATINGUEIRA e V.II,III,IV e V do DIÁRIO DE UM SERVIDOR PÚBLICO. |