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UTOPIA
Evellyn Lima

Pensar num mundo utópico é relacionar a existência humana com a perfeição vital, em que o homem se faz feliz, livre e em constante harmonia com um lugar sem defeitos e de pessoas de vidas também perfeitas.
É claro que idealizar um mundo melhor nos faz ansiar por melhoras, praticar coisas boas e exigir do mundo aquilo que faria dele um lugar perfeito, sem guerras, burocracias, corrupção, maldade, mortes, ganância e mil e outras coisas. Entretanto, a realidade presente nos faz desacreditar que a essência humana possa retornar a uma pureza, e que consequentemente é surreal pensar num mundo mais justo, igualitário, altruísta, empático, honesto, seguro, verdadeiro, de boas crenças, bons amigos e bons momentos que descreveriam um paraíso terrestre.
Pensando em princípios religiosos, relaciona-se consequências produzidas no mundo como resultados da Queda, que por sua ocorrência, modificou a natureza humana e fez com que essa se inclinasse para o mal. Isso responde à “evolução” das ações humanas que cada vez mais se autodestrói. Para isso, estabelece-se o sentido da vida voltado a um paraíso celestial, isento de qualquer fruto do pecado.
Seguindo esse raciocínio, obtêm-se uma análise do mundo atual -que nunca deixou de ser atual, no sentido de sempre ter sido, em partes, distante de um mundo ideal-, em que o homem se coloca ao centro de suas próprias ações, desejos, vontades, respostas e se vê em sua autossuficiência e se comportando ao seu bel-prazer, reivindicando tudo aquilo que compunha a sociedade em seu cerne.
Sendo assim, fomenta-se uma sociedade sem escrúpulos, princípios, valores e moral que os regem, implicando, atualmente, numa sociedade de modernidade líquida, movida por ideais modernos. Por isso, nos inserimos num caos, onde vivemos em meio a sujeira humana.

“O que moveu os pioneiros da modernidade no início do projeto moderno, foi a insatisfação com a solidez dos sólidos existentes. Eles acreditavam que não eram sólidos o suficiente...E a verdadeira ordem que iriam construir, a ordem moderna, (...) queriam dizer, na verdade, é que seria uma sociedade perfeita.” (BAUMAN, Zygmunt. Liquid Modernity Revisited. 2012)

A luta do homem para ampliar seu espaço no mundo sempre se fez presente, por isso, sempre questionou sua própria natureza e se pautou em buscar respostas para aquilo que o cerca. Assim, ideologias, ideias, linhas de pensamento e visões de mundo tentam responder e dar soluções para que o mundo fosse ideal. Fato é que embora se pense num modelo ideal para o próprio país, podemos citar nações desenvolvidas como meta a se alcançar e fazer da ideia utópica, uma realidade. A questão é que mesmo nesses países, a satisfação e perfeição ilusória estão distantes de uma realidade alcançável e a falta se direciona em diferentes aspectos, o que faz com que o mundo esteja distante de se tornar livre, igualitário e fraterno.
Assim, contrapondo-se aos novos ideais, com o advento do Iluminismo no século XVII, Hobbes definia o ser humano em seu estado natural como o inimigo de si mesmo, o que, portanto, ilustra a vivência humana submersa na destruição, por consequência de seus próprios atos e escolhas.
                                                                                                                                                                                                                                                                                      

Tendo em vista que a forma de enxergar o mundo e assimilar experiências são diferentes e recebidas de diferentes formas por cada ser humano, é improvável que exista uma fórmula que vá responder às questões universais sobre “Como resolver os problemas do mundo e torna-lo melhor?”. Se pensarmos num método de educação que implicasse em transformar pensamentos, formas de agir, melhoras em aspectos pessoais que implicam no coletivo, meios de modificar a sociedade como um todo... É utópico dizer que resolveria tudo. Mas a diferença entre o ônus e bônus poderia ser menor se o homem trabalhasse em prol do bem-estar comum, - relacionado a direitos básicos e de qualidade.- A nível de Brasil, uma educação de qualidade que transformaria o mundo e o tornaria melhor, começaria no investimento e planejamento que tornasse escolas, universidades e campos abertos às práticas de conhecimento, um lugar de pluralidade, aceitação, convivência, respeito, trocas genuínas, exercício da cidadania, do afeto, do respeito, da verdade, da disciplina, do incentivo, da motivação e da humanidade. Humanidade que faça com que no ambiente educativo, sejamos pessoas de olhar acolhedor para com o outro e que possamos compreender que embora existam diferenças, somos essencialmente os mesmos em nosso ser. Assim, a educação para um mundo utópico vai muito além de aprender as fórmulas matemáticas, se sentar na cadeira e ser um depósito de novas informações. É no ambiente educacional que temos contato com a diversidade, é onde deve haver respeito, sobretudo àquele que exerce o papel de educar, é onde valores são estabelecidos, e não inversos, como vemos atualmente.
Utópico deveria ser escrever “desejo que o mundo seja melhor com mais educação, saúde, respeito, amor, solidariedade, gentileza, menos ganância e violência, mais justiça e valor à vida e ao próximo...” Mas diante de uma total bagunça, sonhar com um mundo utópico é sonhar, ao menos, que o mundo não fique pior.


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