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BRINCANDO DE SER PROFESSORA
EM CASA EU ERA A PROFESSORA
ELIANA FONSECA

Resumo:
Uma menina do interior, sonha, entre os brinquedos construídos com frutas e legumes, em ser uma professora amorosa e construtora de cidadania.

1.BRINCANDO EM SER PROFESSORA

     Cidadania, participação, aluno crítico, construção, liberdade de pensamento são palavras muito usadas ultimamente quando o tema é educação.

Na teoria, essas palavras expressam desejos e aspirações de um grande número de educadores, mas que muitas vezes, fica apenas restrito a teorização, sem haver uma praticidade.
Pesquisar sobre como se dão as relações entre professor e aluno no processo pedagógico é a essência dessa dissertação.
A pesquisa demonstrará que o autoritarismo institucional mobiliza os professores a ter uma postura também autoritária em sala de aula que cala e desestrutura as potencialidades dos sujeitos envolvidos na efetivação da aprendizagem.
Para comprovar essa teoria, a pesquisa coletou dados, através de entrevistas com sujeitos que viveram durante a ditadura militar no Brasil, que viveram um processo educacional baseado no medo e no silenciamento das palavras.
Professores amordaçados: uma ruptura na rede da vida poderá ser um documento que desperte a reflexão da prática pedagógica cotidiana.
A partir de uma educação baseada na autoridade com alteridade, “no direito de dizer sua palavra” e da racionalidade construída com afetividade é que poderemos vagarosamente a edificar uma educação voltada para a Vida, não para uma vida vivida no cotidiano, mas principalmente numa educação que coloque a Vida como centro do processo educativo.
Para embasar a pesquisa e defender uma prátiica educativa crítica e profundamente humana me aproprio de pensamentos de Paulo Freire e Ernani Fiori na defesa de uma educação com autoridade e sem autoritarismo, de Fritoj Capra com sua teoria sobre a teia da vida e ecologia profunda, Boaventura de Souza Santos, com o paradigma da modernidade, Edgar Morin com a complexidade dos tempos atuais, e por último, mas não menos importante Rolando Toro com a Educação Biocêntrica que justificará desenvolvimento do ser humano num processo vivencial em todas as escolas, dentro das salas de aulas.
“Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. É a “outridade” do “não eu” ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu.” (FREIRE, 1998, p.58).
     Para defender os propósitos acima começo com uma história real, vivida por uma menina na cidade de Pelotas, na década de sessenta. Menina que ao se tornar mulher e professora buscou na sua fragilidade a força de exercer com ética e amorosidade a profissão que inicialmente fora imposta por sua família.
Enquanto todos trabalhavam em silêncio, devagarzinho, sem fazer um mínimo de ruído a menina levantava a cabeça e ficava espiando o modo como a professora da primeira série se portava em aula.

Terminava rapidamente suas lições e ficava magicamente gravando os gestos da primeira educadora. Na hora da saída todos em fila esperavam por um carinho da professora que muitas vezes não acontecia.

Em casa, já mais livre, brincava embaixo do grande galpão de madeira, entre as bonecas de panos, feitas pela avó, as espigas debulhadas e com bonecos feitos do sabugo e da palha de milho que ela pintava com tintas extraídas das pitangas, caquis, uvas, do carvão que ficava sem uso no fogão á lenha e da borra de café que a mãe atirava no pátio da casa.

Ela se tornava uma professora. E falava e ordenava a todos com exigência. Adorava ver os boneco se transformando em personagens de todos os estilos humanos. A boneca de pano que tinha um vestido igual ao dela sempre ficava de castigo. Ela só queria ficar olhando para a professora imaginária.

Com uma cor ou um detalhe feito de pequenas folhas, que juntava perto do grande bambuzal, fazia daquela escola de brincadeira, um verdadeiro santuário de imaginação infantil. Ás vezes até a irmã menor entrava nesse mundo mágico criado por ela.

Conversava com os seres de sua imaginação. Corrigia cadernos, colocava de castigo e os obrigava a ficar em fila sem poder mexer com uma ponta sequer de qualquer parte do corpo.

Tudo parecia fluir de suas pequenas mãos que surgiam poderosas pelo efeito que produzia nos seres imaginados.

Copiava meticulosamente a professora, e quando a aula terminava, em fila eles iam embora e para a boneca de vestido igual ao dela, a que ficava sempre de castigo, dizia:
 Amanhã trabalha direitinho. Vou estar esperando por ti. Te comporta!

Quando o pai chegava, era hora de guardar os brinquedos. No jantar todos deveriam estar limpos para sentar-se à mesa e jantar com a família.
     
     No dia seguinte foi para a escola, cantando de mãos dadas com sua irmã mais velha. Chegou à escola e comportou-se como fazia todos os dias.

     Quando havia terminado as atividades, cabisbaixa, mas com os olhos firmes na professora começou a observar a aula.

A amiga ao lado havia ganho um conjunto de lápis de todas as cores, algumas até que ela nem havia imaginado, e ofereceu à menina para que ela pudesse usar e colorir o caderno com tantos desenhos em branco e preto.

Por um instante, deixou de olhar para sua deusa e sem fazer um mínimo de barulho foi ao alcançe da caixa e dos lápis coloridos, mas naquele instante a professora observou o que a menina estava fazendo.

A mestra levantou-se e pediu energicamente que a aluna levantasse e ficasse no canto da aula. As pequeninas mãos, agora trêmulas, apoiaram - se na mesa e como se um grande vazio tivesse preenchido sua alma, levantou e obedeceu.

Cabeça baixa, olhos fechados, mãos soltas e o coração batendo forte foi o que ela pode lembrar de ter sentido naquele momento.

Também pensou na boneca de pano, a do vestido cor-de-rosa. Abriu os olhos em lágrimas silenciosas e olhando a parede carcomida pelos cupins, prometeu que a partir daquele momento ela seria uma professora que jamais gritaria com seus alunos e o castigo seria abolido de sua aula. Partir daquele momento todas as crianças quando fossem embora ganhariam um abraço e um beijo carinhoso e todas elas experimentariam a sensação de estar juntos e livres.

É como histórias, como esta, vividas dentro do ambiente escolar que muitas crianças abandonam, ou indiretamente são excluídas da Escola.

Essa história real nos conta como uma criança superou o silenciamento forçado pela instituição escolar através de seus professores.







Biografia:
Eliana Fonseca nasceu no interior do Rio Grande do Sul. Filha de Júlio Fonseca, agricultor e Eva Feijó da Fonseca, dona de casa. A infância viveu na vila e na pequena chácara da família. neste ir e vir foi construindo suas histórias, escondida entre os arbustos que marjeavam as plantações de milho, eucaliptos e dos pessegueiros que o pai plantava para alimentar a família de dez filhos. Dos causos que mãe relatava e os contos que o paiscontava foi construindo suas histórias e apaixonando-se pela literatura e pelas artes.Atualmente é professora e mora com a família na cidade de Pelotas.
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