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A velha casa da rua
Diego

Resumo:
Um amor que durou pouco mais que deixou muitas marcas...

Acontecem fatos em nossas vidas que jamais esquecemos, e o que irei narrar aconteceu na minha infância , mas ainda bem vívido em minha memória.

Era verão de 1953, eu vivia na periferia de fortaleza , naquela época a simplicidade imperava, não tínhamos Tv , meus amigos e eu inventavamos nossos próprios jogos, e como é o natural de toda criança a curiosidade nos fazia aprontar todo tipo de travessuras onde morávamos,causando aquela bagunça que só as crianças sabem fazer, mas quando acabava a algazarra percebíamos o quão tranquila era nossa vizinhança;

Em uma tarde comum , de final cor de rosa-dourado onde a enorme tela azul do céu foi pincelada por um artista realmente inspirado,a molecada jogava bola e o sons das gargalhadas ecoavam rua afora; foi quando finalmente a placa de vende -se da velha casa da rua( chamávamos de a casa da bruxa)fora retirada.paramos a pelada para ver o enorme caminhão que tinha escrito nas laterais do seu baú: mudanças,aquela palavra faria muito sentido em minha vida dali para frente. a noite caiu de mansinho ,as luzes avermelhadas dos postes acordavam aos poucos e conforme a noite se firmava a rua tornava se vazia; eu tinha 8 anos morava com meu pai, minha mãe nos abandonara um ano antes , e toda vez que questionado por mim sobre o assunto meu velho dizia que éramos bons demais para aquela mulher,(certa vez em minha adolescência ,meu pai ,ao chegar de porre em casa,confessou que Zilda,minha mãe, fugira com outro homem)mas esse fato aparentemente não parecia te lo afetado ,embora algumas vezes eu o tenha flagrado à chorar.

Naquela noite fazíamos como de costume ,comíamos e ouvíamos pelo rádio um programa de piadas muito bom(não me recordo qual o nome do programa,mas creio que as programações de rádio de hoje em dia não chegam ao pés das de antigamente) de repente um carro freia, uma porta bate, o carro sai,sons de corrente, larguei a comida e corri para a janela ,

- devem ser nossos novos vizinhos- exclamou meu pai ainda sentado terminando seu jantar bem rápido para também espiar pela janela.

A pessoa que desceu do carro era uma mulher bonita, alta e de postura imponente vestida em roupas elegantes,retirou as correntes do portão virou-se para a rua e ficou alguns minutos ali parada como se estivesse a meditar,fechou o portão atravessou o jardim e entrou.

Passaram se dias, meses, e só o que sabíamos a respeito da estranha que mudara para o velho casarão é que todos os dias cuidava do seu jardim de rosas azuis. conseguira em pouco tempo transformar a entrada da velha casa que tinha uma arquitetura que remetia ao século passado, em um lindo jardim.

Foram muitas as ocasiões em que brincavamos na rua quando dávamos de cara com aquela mulher vestida de forma fúnebre a nos encarar por entre as grades do jardim,as crianças da vizinhança e arredores morriam de medo da forasteira e do casarão em que morava.

certo dia Luís,um de meus amigos, conseguiu a enorme "façanha" de acertar a bola dentro do jardim da nova vizinha. E agora?A molecada se entreolhou e acabaram por decidir no palitinho quem cumpriria a missão de resgatar a bola, adivinhem quem foi o escolhido? Isso mesmo eu.fui me arrastando,e chingando a minha sorte,teria que enfrentar aquele portão altíssimo da frente e depois localizar a bola em terreno hostil. Então comecei minha saga , primeiramente olhei para todos os lados possíveis pois poderia aparecer algum adulto,enquanto isso meus amigos estavam sentados em frente minha casa assistindo minha odisséia, subi no portão e aos poucos superava aquela armação de ferro enferrujado e observava por entre a grade se a mulher esquisita não percebia minha presença;enfim cheguei ao topo,descer seria mais fácil,que nada,não sei o que houve mas ao me apoiar em uma das lacunas de ferro não senti o apoio e meu pé passou direto culminando em uma queda.ploft!Ali estava eu de bunda no chão, não podia ver meus amigos de onde eu estava mas com certeza estavam a gargalhadas;mas como um bom soldado que sou continuei minha missão, chequei o perímetro e nada,
-onde está essa bola?-Pensei,
tinha que recupera-la pois senão oitenta por cento de nossa diversão de férias estaria liquidada,vasculhei todo o jardim só restavam as roseiras azuis a serem examinadas, e lá estava ,nossa bola em meio a várias rosas destruídas pelo impacto,quando vi o tamanho do estrago fiquei aflito e me apressei a enfiar meu braço por entre os galhos espinhentos da roseira,quando finalmente consegui retirar a velha bola de couro de dentro dos arbustos me virei pra correr dali vi que meus amigos me observam agora de perto ,das frestas do portão,

-anda logo kinzinho!-Gritavam me apressando.

Foi quando ouvi aquela voz, a mais bela que já ouvi, já estava com um pé no portão para fazer o caminho de volta mas em um impulso de coragem resolvi seguir aquela canção,

-volta kinzinho,volta!-Meus amigos gritavam desesperados pois me viram fazer o caminho inverso com a bola debaixo do braço.

Entrei na casa, por dentro estava em melhores condições que por fora,o piso era de madeira mas tão bem encerado que mais parecia feito de vidro de tanto que brilhava, as paredes da sala eram revestidas por um papel estampado com formas arabescas todas estas formas em meio a cor salmon,ainda nas paredes haviam muitos quadros com pinturas que retratavam guerras ou paisagens,segui por uma escadaria essa coberta por um tapete vermelho de cima a baixo,no andar superior a canção estava mas próxima e saía por uma porta que estava entreaberta,empurrei um pouquinho para ver o que havia do outro lado, então eu à vi sentada em frente à penteadeira a cantarolar e a escovar seus belos e longos cabelos loiros.

Durante meu deslumbre deixei a bola cair fazendo com que a mulher que até então olhava se no espelho percebesse minha presença, congelei.

Levantou se rápido resmungando algo em outra língua, obvio que não pude compreender, veio em minha direção dessa vez falando nosso idioma:
-Oque faz aqui?Como entrou em minha casa?-me pegou pelo braço e levou me até a saída,em frente ao portão do jardim percebi que não eram só meus amigos que me aguardavam mas também meu pai. Com uma expressão de aborrecido meu velho me fuzilava com os olhos, -você vai agora para o castigo…-   ia acabar de ditar sua sentença quando percebi o olhar do meu pai mudar ,olhar aquele que não via a muito tempo, ele olhava para a mulher estranha, sua face ficou ruborizada,se encararam por alguns segundos,fingi um pigarro, meu pai constrangido falou:-senhora perdoe me ,não sei onde este moleque estava com a cabeça!-A estranha que parecia não está mais aborrecida com o ocorrido apenas sorriu. Após aquele dia meu pai nunca mais foi o mesmo.

Percebi com o decorrer dos dias,das semanas e meses que se seguiram uma aproximação de meu pai com mulher do casarão,os dois conversavam por horas em frente ao jardim de rosas azuis, eu era um moleque naquela época e não desconfiava que tratava se de um romance que ali acontecia.

Dava gosto de ver aquele homem outrora amargurado, tácito ,agora radiante e até brincalhão;passava o dia a assobiar melodias românticas e a suspirar como um garoto apaixonado,eu achava demais ver meu velho tão feliz e encantado, ansiava por aqueles fins de tarde em que meu pai me pedia para ir brincar com meus amigos para ter a casa livre para conversar com sua (como ele mesmo chamava "branquinha"). Os dois passavam horas a cochichar e soltar aquelas risadinhas que só os casais em começo de namoro sabem fazer.

Aquela mulher era mais doce que o puro mel, sua voz suave como uma brisa, tratava me como um filho, alimentava me ,cuidava de minhas roupas ,brincava comigo , dava me conselhos e o principal fazia feliz o homem que me criou ,até então sozinho.

meados de novembro, ao chegar da escola vi em cima da mesa da cozinha uma caixinha revestida em veludo vermelho presa por um laço dourado com um envelope escrito com uma bela caligrafia:ao meu amor…
-ah! oque achou de minha surpresa para norma?(esse era o nome da vizinha que conquistara meu velho). Perguntou meu pai ansioso
- pai o que há dentro dessa caixinha?Devolvi a pergunta.
- você vai descobrir !-Sorriu com cara de mistério.
Toca a campainha,meu pai abre a porta com pressa como um esfomeado a devorar o almoço tardio,entao lá estava ela, elegante como sempre parecendo já saber oque a esperava.-tenho uma coisa para te contar meu anjo!-Exclamou meu pai com os olhos a brilhar . com um movimento rápido norma então segura as mãos dele e com lágrimas nos olhos fala:-preciso ir…mais saiba que aqui encontrei a paz e o perdão que minha alma precisava,adeus!Virou se afagou minha cabeça e saiu deixando para trás um homem sem palavras e deixando cair a caixinha de veludo encarnado que ao tocar o chão abriu se liberando duas alianças que saíram a rolar pelo chão da sala.

Foi com uma fuga rápida,na calada da noite e sem deixar vestígios que ela se foi,e o casarão da rua voltou a ser o que sempre foi um poço de lembranças.

Passaram se alguns anos,até que as feridas se fechassem,mas não entendíamos o porquê daquela partida,eu agora com 18 anos trabalhava e estudava,e ao chegar após um dia exaustivo de trabalho encontrei meu velho sentado em sua poltrona na frente da televisão ao prantos,- oque houve papai?Algum problema?O senhor sente se bem?-perguntei agoniado, ele levaria alguns minutos para se recompor e me explicar a causa do seu choro,foi naquele momento que percebi ,a vida escolhe algumas pessoas para jogar,e é um jogo muito cruel e desleal; o telejornal divulgara naquela noite que uma das mais atrozes médicas do período nazista havia sido presa por crimes contra a vida tais como experiências em pacientes vivos e testes de drogas letais nos mesmos, e iria a julgamento em breve,seu nome era norma Schultz. A foto da criminosa foi exibida logo em seguida,-era ela!-Falou ele em voz baixinha.meu pai falecera uma semana depois em uma sexta pela manhã…norma foi enforcada um mês depois.

Segui minha vida com essa mágoa, essa ferida,e até hoje ainda depois de velho passo por aquela ruazinha em que morávamos e me pego a olhar para o casarão ainda de pé, lembrando que foi ali que vivi a experiência do paradoxo,foi também ali que a tristeza disfarçou se de felicidade…














Biografia:
Diêgo de Menezes Sousa , ( 30/10/1996 ) , nascido num pequeno município por nome São José do Buranhem- Ba , filho de Adilson Batista de Souza e Lucimar Ramalho de Menezes .Tem por finalidade ser reconhecido , quem sabe mundialmente .
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Contos A velha casa da rua Diego
Crônicas Uma travessura Diego
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Publicações de número 1 até 5 de um total de 5.


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