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A última gargalhada
(Robin Williams: um documentário, uma vida)
Roberto Queiroz

Termino de assistir o documentário Robin Williams: come inside my mind, de Marina Zenovich, envolto em lágrimas. Cheio de boas lembranças e de uma certeza: não devia ter esquecido de escrever sobre ele na minha série de epitáfios quando faleceu em 2014.

Chamar Robin Williams de uma lenda hollywoodiana é pouco. Ele foi a cara do cinema da minha geração. Seja fazendo caretas ou na pele de personagens dramáticos de grande repercussão (e ele ganhou um Oscar por um deles: Gênio Indomável), mostrou que mesmo a bipolaridade que sempre o acompanhou não era sinônimo de ausência de talento ou mesmo de desafio na hora de compor um personagem.

Criar uma lista com seus maiores sucessos também é covardia. Só para começar: Uma babá quase perfeita, Sociedade dos poetas mortos, O pescador de ilusões, Jumanji, O homem bicentenário, Bom dia vietnã, Hook: a volta do capitão gancho, isso fora os inúmeros stand up shows e dublagens para animações. Repito: lenda é pouco.

Então como Marina Zenovich conseguiu realizar a façanha de narrar essa história sem cair no óbvio? Simples. Ela entendeu que seria impossível deixar de fora a mente inquieta e altamente criativa de Robin. Logo, decidiu explorar ao máximo o que o ator e comediante tinha de melhor: sua sagacidade, raciocínio rápido e ironia mordaz.

Há momentos hilários, em que Robin dá o show em apresentações no teatro e até mesmo em prêmios para o qual concorreu (e não ganhou). Como complemento a seu temperamento alucinado e frenético, os depoimentos de amigos de longa data, como Billy Cristal - que ficou mais conhecido pelo tempo em que apresentava a cerimônia do Oscar do que pela própria carreira -, Whoppi Goldberg, Steve Martin, familiares e ex-esposa.

Robin foi polêmico (como todo grande artista que se preze), imenso em tudo o que fez e teve de lutar - como a grande maioria dos humoristas - com as distorções de seu próprio humor. Aquela velha história do "ele sabia fazer as outras pessoas rirem, mas não necessariamente voltava para casa feliz no final do dia"

O divórcio da esposa (a quem trocou pela babá, Marsha), a necessidade de permanecer ativo, mostrando a graça do mundo a todos que queriam prestar atenção nele, a dificuldade em lidar com as drogas (que o perseguiram por toda a vida) também são parte do documentário, mas não estão aqui para mostrar um lado dark do ator. Pelo contrário: funcionam como catalisadores da mente complexa que era Mr. Robin Williams.

No dia de sua morte, 11 de agosto, assisti um vídeo no you tube em que o elenco do filme Os mercenários 3 recebia, durante a exibição do filme numa première do festival de Cannes, a notícia de seu falecimento. Entre expressões estarrecidas e tristes, a que mais me marcou foi a do ator Mel Gibson, amigo pessoal de Robin. Ele dizia que quando um artista chega num auge tão avassalador como o comediante havia chegado, normalmente você perde a base para qualquer tipo de parâmetro artístico. Você dita as regras do show. E quando você dita as regras do show, fica complicado lidar com a própria imagem.

Em outras palavras: o suicídio de Robin Williams certamente não é o que os fãs esperavam. Ainda mais se tratando de alguém tão workaholic quanto ele. Entretanto, há um lado meu - o lado pesquisador, crítico - que consegue entender a dificuldade daquele homem em permanecer vivo. Se ele não conseguia mais quebrar os próprios recordes que impôs, como seguir adiante? É fúnebre, eu sei, mas... Pensem a respeito. Ponham-se no lugar dele.

Desde já meu muito obrigado à HBO por comprar o desafio de produzir um espetáculo tão cheio de mérito quanto esse. Os fãs da boa sétima arte agradecem!

P.S: a parte que mostra Robin Williams dublando as vozes na animação Alladin, da Walt Disney Pictures, já vale pelo longametragem todo.


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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