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Bundamolismo pop
(pensando sobre os inúteis do cotidiano)
Roberto Queiroz

Estamos confusos e isso vai passar em algum momento ou nos tornamos canalhas de vez e o que virá a seguir será ainda pior do que isso que aí está?

A pergunta que inicia este texto, artigo, pensamento, desabafo ou como você, leitor, quiser chamar é provocadora, polêmica, incômoda e sabe-se lá o que mais. Porém, é necessária. Mais do que isso: indispensável para entendermos que país bunda mole é este em que estamos vivendo nos últimos anos.

Não é só pelo Impeachment. Não é só única e exclusivamente por causa daqueles que assumiram o poder. Não se trata de elogiar o político a em detrimento do político b, c, d, e, f, z (na boa... Para mim, são todos farinha do mesmo saco podre, roído). É muito mais do que isso. Trata-se de um comportamento, de uma moral arcaica que vigora no país há séculos, mas nunca antes da história deste mesmo país ganhou contornos tão nítidos, tão óbvios, tão macabros.

Estamos cansados, é fato! Estamos incomodados, também é fato. Não aguentamos mais. Contudo, esquecemos daqueles que fingem, que traem, que dissimulam, que não estão nem aí para o que está acontecendo no Brasil. Digo mais: tem gente torcendo para piorar. E muito. Tem quem torce pela volta da ditadura, pelo fim dos direitos trabalhistas, pelo retorno da escravidão... Tem até quem acredita em mitos, super-heróis, messias, salvadores da pátria. Pois é.

Brasil, teu nome é sem noção. Um bunda mole sem noção. E ser bunda mole no século XXI é artigo de luxo, case da cultura pop.

Atualmente o que vale na República Federativa do Brasil é: ou você está comigo ou está contra mim. Não há espaço para meio-termo (meio-termo aqui é o mesmo que em cima do muro, "é melhor ficar de olho senão ele rouba o que é meu"). E o resultado dessa equação? Extremismos, intolerâncias, discriminações, o engavetamento do respeito, da educação, do por favor, do dá licença, do obrigado (Obrigado? É ruim, hein! Deu lugar ao "não fez mais do que a sua obrigação, meu amigo! Ah! E eu tô pagando, entendeu?), ou seja, de tudo. De tudo que era usado, fundamental, obrigatório, na época em que nossos pais ditavam regras e nossos avós ainda eram vivos e lúcidos.

Tudo isso acabou. A bandidagem tomou as ruas de assalto, impôs regras. A maior quadrilha da nação (aquela lá de Brasília) tá se lixando enquanto enriquece ilicitamente. E enquanto isso... O bundamolismo pop está preocupado mesmo é com a programação do Festival Lolapalooza em São Paulo, com a chegada da Copa do Mundo na Rússia (está logo ali, na esquina), com a Paraíso do Tuiutí cair pro grupo de acesso porque colocou uma fantasia satirizando o pseudo presidente vestido de vampiro e outras falácias mundanescas e audiovisuais.

Falando em audiovisual: sabe o que é a cara cuspida e escarrada do bundamolismo pop? Os deformadores de opinião que apresentam talk shows e programas de auditório no país. Gente da laia de Danilo Gentilli e "o rei do bom mocismo forjado", Mr. Luciano Huck, que enriquece diariamente enquanto engana otários e bunda moles notórios. P.S: não vou nem entrar no mérito dos pastores evangélicos de encomenda porque aí o texto não vai ter fim nunca.

Regredimos. Muito. Involuímos. Demais. Fingimos de éticos, de exemplos, de reserva moral da pátria. O tempo todo. Chega a irritar. Queremos, como bem dizia o poeta do rock Renato Russo (você achou que eu ia falar Cazuza, não achou? Sorry!), o futuro da nação. Mas como ele também disse: ninguém conhece a constituição. Na verdade, ninguém quer conhecer. O que eles - a grande maioria de bunda moles - querem é participar de manifestações babacas que não nos levarão a lugar nenhum (aliás, nunca levaram de fato!) e gritar por justica! justiça! justiça!

Resta saber que justiça!!!!! (tão cheia de exclamações condenatórias) é essa...

Pergunto-me se chegaremos a 2019 (se bem que eu disse a mesma coisa no ano anterior e conseguimos chegar a 2018) e a que preço. O que sobra de valor num país cuja sociedade que nele vive só pensa em privilégios, prazeres bobocas e obscenos, passar a perna nos demais e enganar a si mesmo, fingindo-se de patriotas?

Já repararam que os meus textos-desabafo postados volta e meia por aqui, estão sempre cheios de perguntas de difícil resposta? Eu sei, eu sei... Talvez se eu vivesse numa Europa ou Escandinávia, o resultado fosse outro. Como não vivo, fica o hiato, a sensação de vazio, de impotência diante de um país Peter Pan, que se recusa a crescer e ainda gosta de chamar os outros de velho.

Que os bunda moles desapareçam da face da terra (sim, porque tomar vergonha na cara, isso nunca vai rolar!) e levem com eles sua desfaçatez, sua falta de vontade em viver coletivamente e seu ódio gratuito e vulgar. Porque de problemas já estou (já estamos) cheios.

(Obs: este artigo quase se chamou Manual para interpretar bunda moles, babacas e outros tipos exóticos e sem sentido, mas o título ficou grande demais para o site e eu acabei deixando todo o resto para lá...).


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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