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O medo e suas artimanhas
(Reflexões sobre o mundo contemporâneo - parte 2)
Roberto Queiroz

Essa semana eu acordei pensando no medo. E ao pensar nele me veio à mente a seguinte lembrança:

Há uma música do Lenine que eu gosto muito e que ele canta ao lado da cantora Julieta Venegas em seu MTV Acústico. Chama-se "miedo" e fala da relação do homem com todos os tipos de temores, dos mais básicos aos mais abstratos. E dentro desta canção há dois trechos que volta e meia povoam meus pensamentos (e que levaram este distinto colunista a fazer dessa lembrança o motivo por trás desse texto). São eles:


Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá

(...)

Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo


Vivemos tempos de medo. De muito medo. De um medo que se torna mais e mais visceral à medida que os dias, semanas, meses, anos, passam. Uma coisa é certa: o medo será mais avassalador amanhã do que o tempo que levará para este artigo envelhecer, ficar datado. E de quem é culpa?

Eu poderia, além de Lenine, citar centenas de músicas que falam do medo de maneira transparente e sem rodeios. E provavelmente artistas como Gabriel, o pensador e O rappa, entre tantos outros, me agradeceriam pela referência. Mas o medo que me traz aqui vai muito além do cancioneiro nacional. É um medo urbano, urgente, que tornou a cidade do Rio de Janeiro (e as demais capitais do páis) refém da paranóia e da falta de preparo daqueles que se dizem autoridades.

Sinto-me coagido, e acredito que você também, por um país falido. Falido de ideias, falido pela falta de caráter daqueles que deveriam ser exemplos de ética e retidão, falido de opiniões diversas, estas amendontradas pela vil cultura repressora imposta pela ditadura da opinião vigente nos tempos atuais. Em poucas palavras: a humanidade faliu. E às vezes tenho a sensação de que se orgulha disso.

Saímos de casa e não sabemos se iremos voltar. Não é mais tão simples tomar aquele choppinho no bar com os amigos de trabalho às sextas-feiras. Não é mais tão seguro assim entrar num shopping center, num cinema, num teatro. Já foi tempo em que podíamos realmente curtir as coisas simples da vida. É, meus amigos... Já foi tempo.

O medo vem de todos os lugares: do discurso hipócrita proferido pelos pseudoreligiosos de terno e gravata que oferecem o paraíso eterno aos seus devotos, como se o edén não passasse de uma mercadoria barata; das notícias sensacionalistas e aprisionantes da mídia empresarial, entreguista e interesseira, cujo único deseja é que vocês, telespectadores, fiquem dentro de casa. "O mundo não é um lugar bonito. Protejam-se!", parecem dizer eles, os profetas do óbvio. E não bastassem todas essas referências inúteis, as relações familiares caíram por terra, os celulares acabam com o diálogo tradicional, cara a cara, o sistema educacional virou poeira e o importante é fama, sucesso, status.

Eu sei, eu sei... O medo é feio, covarde, empobrece qualquer pessoa sã que se aproxime dele. O medo é como os serial killers do cinema americano: está apenas à espreita, esperando um deslize seu, um passo em falso, para atacá-lo com unhas e dentes.

O que fazer para combatê-lo parece-me a grande questão que transcorrerá por todo este século XXI que mal começou e já vem se mostrando perturbador e ególatra por natureza. Eu gostaria - mesmo! - de ser capaz de apresentar soluções, de apontar medidas satisfatórias que dêem fim ao caos instaurado pelo medo. Mas, infelizmente, eu não tenho todas as respostas que gostaria de ter no bolso da minha calça jeans. E pior: a sensação que eu tenho em alguns momentos é de que o pior parece não ter acontecido de fato ainda. E isso é assustador.

Talvez perguntem-me: então por que fazer um texto tão incisivo e derrotista como esse? Porque às vezes precisamos enxergar a realidade como ela é, e não como a visualizamos dentro de nossos egos inflamados. E enxergar a realidade sempre foi um grande problema para a nossa sociedade hipócrita e que adora vender o país (e o mundo) como um grande delírio, um grande carnaval que não acaba nunca.

Em outras palavras: que este texto seja o "ACORDA!", assim mesmo, em maiúsculas, que a sociedade civil anda evitando diariamente... Se o medo anda vencendo é porque a coragem anda em falta. Até quando?!


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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