Desde os seus primórdios a humanidade sempre manteve uma relação de dependência com os rios, sendo eles fornecedores do líquido mais precioso, a água, utilizada para os mais diversos fins - consumo humano e animal, irrigação e muitos outros. Se analisarmos a história das antigas civilizações, perceberemos que a grande maioria das cidades de outrora surgiram às margens de algum rio, sendo este um relevante fator de atração e concentração humana.
Com o surgimento da prática da agricultura por volta de 10 mil anos antes da nossa era, algumas sociedades humanas passaram a controlar a vazão dos rios, desenvolvendo certas técnicas de irrigação que levaram ao início da relação de degradação desses ecossistemas aquáticos. Numa tentativa de aumentar a produtividade agrícola, alguns povos deixaram de cultivar alimentos apenas nas margens, e na época logo após as cheias, aproveitando a umidade recém deixada pelas águas, para construir diques e canais, que possibilitaram a produção em áreas mais extensas e por um período mais longo, para a realização do plantio.
Com a industrialização, iniciado no século XVIII, e o conseqüente processo de urbanização, o homem passou a utilizar com mais intensidade os rios como receptores dos esgotos das cidades e dos efluentes das indústrias que reúnem grande volume de produtos tóxicos e metais pesados. Essa prática resultou na morte de enormes e importantes rios - no estado de São Paulo o maior exemplo é rio Tietê que corta o estado de leste a oeste, com 1.100 quilômetros de extensão, seguido dos rios Jundiaí, Piracicaba, Pinheiros e outros bastante degradados e castigados pela poluição. Além da poluição direta, por lançamento de esgotos, falta de sistemas de tratamento de efluentes e saneamento, há a chamada poluição difusa, que ocorre com o arrasto de lixo, resíduos e diversos tipos de materiais sólidos que são levados aos rios com a enxurrada. Ao "lavar a atmosfera", a chuva também traz poeira e gases aos corpos d'água.
A forte degradação dos rios, promovida pelas sociedades humanas ao longo de sua história tem causado grandes problemas ambientais, que de uma forma ou de outra, traz sérias conseqüências à própria sociedade. Uma dessas conseqüências é, sem dúvidas, o problema das enchentes, que tem ocorrido com cada vez mais freqüência, causando grandes danos às populações de cidades que se situam as margens dos rios.
O fenômeno das enchentes, muitas vezes, possui como causas as ações antrópicas, que combinadas com um índice pluviométrico acima da média resultarão quase sempre em uma enchente. Essas ações compreendem, entre outras; a retirada da cobertura vegetal, o despejo de lixo e entulhos no canal fluvial e construções de represamento ao longo dos cursos d’água.
Tais ações acabam provocando uma reação em cadeia de fenômenos que levam ao desequilíbrio ambiental.
O desmatamento das encostas de um rio, por exemplo, acelerará o processo de erosão dos solos, que se encontrarão sem a proteção da cobertura vegetal que foi retirada do local. Com a erosão acelerada, aumentará a deposição de sedimentos no leito do canal fluvial, que em muitos casos, em conjunto com o lixo despejado pela população, elevará o nível do leito, diminuindo a profundidade do canal e a sua capacidade de conter todo o volume d’água durante o período chuvoso, acarretando assim no grande problema das enchentes.
A relação do homem com os rios ao longo da história tem sido uma relação de exploração, com ações, muitas vezes não planejadas, em que esses importantes ecossistemas, fonte de muitos recursos naturais, tem sido alvo de forte degradação. Com esse problema, devemos pensar em soluções imediatas que venham paralisar as nossas práticas, as quais vêm causando grandes impactos negativos aos rios.
Acredito que a possível solução para esse problema passe, entre outras ações, por políticas de proteção ao meio ambiente, mais eficientes, leis mais rígidas e, sobretudo, um constante trabalho de conscientização da população sobre a relevância de se preservar esses valiosos ecossistemas.
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