D. Manuel I, o Venturoso; D. Pedro I, o Libertador; D. João VI, o Clemente; e... Wesley Safadão. Nenhum juízo de valor a nenhum desses personagens históricos; logicamente, nem a Wesley Safadão e sua obra. Entretanto, a qualidade transformada em substantivo próprio representa o valor do tempo que se quer associado ao nome.
Arthur Lira é o presidente da Câmara dos Deputados. Ele açodou o trâmite da reforma tributária. Uns acham boa, outros acham ruim, mas não é isso o que eu quero discutir, até porque sei pouco dessa reforma. Mesmo sem a devida discussão, a reforma foi aprovada rapidamente porque Lira não poderia perder o embarque para uma “experiência única”. Arthur Lira apressou-se para não perder o embarque no cruzeiro marítimo do Wesley Safadão! Será que dá para avaliar o nível da Câmara pelo gosto musical de seu presidente?
Nada contra o artista, ele é um produto de seu tempo. Ele simplesmente escolheu como nome artístico algo que entendeu ser um valor atual, um nome que iria agregar, o que diria a que veio. E não errou. Safado: que leva uma vida dissoluta; libertino, devasso, obsceno. Há outros sinônimos menos edulcorados, porém esses já servem como exemplo. Só que ele se achou mais que isso, afinal, é artista. Por que não o aumentativo da palavra?
Falso, hipócrita, mentiroso, traiçoeiro e invejoso são defeitos. Há algumas décadas, a virtude era digna de ser ostentada, inclusive falsamente. Imaginem o contrário, a ostentação do defeito: Alexandre, o Briguento. No entanto, mesmo que após sua morte, foi exaltada sua virtude. Porém, com o cantor, o que é um defeito é exibido com orgulho. Talvez o cantor safadão nem seja safado. Mas o presidente da Câmara Federal recebeu a cultura possível à sua realidade, por isso ele navega no cruzeiro marítimo que reflete o quórum que lhe é familiar.
A safadeza venceu, por isso teremos que conviver com contas e contadores. Mas o show não pode parar.
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