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Reconheço a letalidade causada pelo coronavírus e a necessidade de vários cuidados profiláticos. No entanto, nossa classe política demonstrou-se perdida. Um sintoma dessa anomia foi a quantidade de medidas ineficazes, desastrosas e, por que não dizer, burras. A necessidade de fazer alguma coisa, para quem não sabia o que fazer, deu nisso.
Porém, aqui, vou me ater à pandemia de hipocrisia. Muita gente, por interesses inconfessáveis, foi obrigada a “recomendar” (sempre com fisionomia de pânico) aquilo que não praticava. “Use máscara” e “fique em casa” foram duas determinações que levaram o “hipocrisômetro” ao nível máximo.
▪️Logo no início do lockdown, Marcelo Cosme, apresentador da GloboNews, um dos que tagarelavam “fique em casa” foi flagrado, exercendo uma atividade essencial: seu passeio na orla marítima;
▪️no começo da pandemia, a atriz Isis Valverde usou o máximo de sua técnica interpretativa para recomendar o lockdown, para os outros. Descuidada, a atriz deixou vazar sua prendada empregada doméstica, apurada com o almoço da patroa, descumprindo a ordem;
▪️Thelma Assis, médica paulistana: essa médica, com uma expressão fúnebre, num anúncio da Prefeitura de São Paulo, implorou para que os paulistanos ficassem em casa. Tudo muito alarmante, se a médica não fosse flagrada curtindo a vida, aglomerada com suas amigas, numa ilha (longe de casa);
▪️Luiz Henrique Mandetta: “Procure um hospital somente quando sentir falta de ar”. Quem obedeceu essa ordem do, então, ministro da Saúde, praticamente marcou um encontro com a morte. Um médico responsável sempre recomenda, aos primeiros sintomas um médico deverá ser consultado;
▪️Luiz Henrique Mandetta: logo depois de sua saída, aglomerou, abraçou, beijou, cantou e arriscou uma dancinha. Era o baile sem máscaras na festa dos mascarados;
▪️Luiz Henrique Mandetta: foi flagrado num boteco, jogando bilhar. Como nem ele acredita nas suas recomendações, estava sem máscara e aglomerado;
▪️Luiz Henrique Mandetta: novamente ele, emparelhado com João Doria no Grande Prêmio da Hipocrisia, a criatura que mais surfou na pandemia, foi, de novo, flagrado como se não estivesse preocupado com o vírus que está à solta matando pessoas. Pessoas que ele contabilizava como eleitores. Agora, mais uma vez descumprindo suas incisivas ordens, estava na praia, sem máscara;
▪️João Doria Jr. trancou tudo e voou para Miami. Foi flagrado sem máscara. Se engana quem pensa que o governador acorda tramando prejudicar o paulista. Essa inspiração vem ao longo do dia;
▪️ciência, ciência e ciência: a crença na cega ciência é ruim. A ciência depende de tese e antítese para chegar numa síntese, portanto se engana quem pensa que ela é sempre exata. Saber se ovo, café ou chocolate fazem mal ou bem para a saúde é um caos;
▪️fim de ano, foi a vez do Felipe Neto ser flagrado furando sua recomendação. O youtuber infantil foi filmado jogando uma partida de futebol. Até aí tudo bem, a Copa Quarentena passaria despercebida se não fosse ele o alcaguete-mor de quem descumpre qualquer ordem oficial, os quais carimba como genocida;
▪️artistas, médicos e especialistas selecionados para repetir, como papagaios, as recomendações, nada científicas, tropeçaram na própria hipocrisia. Figuras que recomendavam, usando verbos imperativos, quase obrigando, “Fique em casa” e “Use máscara”, foram flagradas descumprindo suas recomendações. O show de hipocrisia foi revelado graças à internet. E se o número de vítimas fatais continuar aumentando, no infinito placar macabro, a culpa é do cidadão;
▪️Lockdown: a maneira acovardada como os políticos reagiram à pandemia foi sem precedentes. Se o homo sapiens resolver viver livre de lactose e sem glúten virará um vegano existencial, tendo que evitar tudo.
“Qualquer sociedade que renuncie um pouco da sua liberdade para ter um pouco mais de segurança, não merece nem uma, nem outra, e acabará por perder ambas."
Benjamin Franklin
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