Tia Madu é considerada uma protofeminista negra do sertão mineiro, porque foi uma das primeiras com atuação junto aos interesses das negras, na região dos vilarejos do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais.
Madu tomou consciência do que era ser uma mulher negra num Brasil de 1960, depois de bater em muitas portas para trabalhar como doméstica e de não encontrar vaga em escola. Aos 17 anos, despertou-se para a cultura de seus ancestrais africanos, quando padre Nbongo trouxe uma série de palestras para os jovens brasileiros sobre uma doença que devastava a Uganda em 1967; a Epidemia de Marburg.
Com o apoio do bispo Chico Amaro, Madu, junto com padre Nbongo e a freira enfermeira Maria do Rosário, acolheram meninas negras para a vida toda. Essas meninas receberam moradia, proteção, alimentação, educação primária, noções sobre seus direitos e autoestima. Juntos, cuidavam da subsistência da Casa Akiesi (alegre em uma língua Banto). Enfrentaram as mais variadas dificuldades, entre elas o preconceito de muitos da comunidade e a financeira, que por vezes, quase levaram ao fechamento da Casa Akiesi. Mas como estava ligada à Igreja Católica local, permaneceu aberta até o falecimento de Madu e seu marido Lusoga, após volta de padre Nbongo para Uganda, em 1985.
Madu se foi, como se foram os gentis Nbongo e Lusoga. Das meninas de ébano, com suas roupas coloridas e turbantes majestosos, nunca mais se ouviu falar. O casarão de Akiesi, com sua varanda lustrada e oito quartos, veio abaixo depois de abandonado por doze anos. Seus escombros, levados por mãos desconhecidas, restaram como estorvo, por metros e metros de uma trilha de paisagem ressecada chamada Caminho de Tindá; que liga a parte norte da cidade ao sertão aberto.
O monturo da Casa Akiesi é só mais um opróbrio desnudo de um povo que desdenhou de sua história e lanhou os seus.
Antônio Amador
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