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QUARENTENA
manoel serrão da silveira lacerda

Ó cai-me às mãos entre os dedos
A pena veza que sublima os meus versos.
Cai-me!
Ó salta-me aos prantos
O destino com os lenços nos olhos.
Salta-me!
Ó assalta-me o peito o desapego dos desejos,
E a fé naquilo que não vejo.
Assalta-me!
Abraça-me! Ó à todos peço-lhes perdão!
Eu...
Logo eu pálido Deus que já fora
Estima sem pecado nas lameiras d’um caminhão.
Eu...
Logo eu que condenado ao Cristo levado à "crucificação",
Quão Pilatos lavara,
Não posso ao mundo nem lavar às mãos.
Eu...
Logo eu que condenado a Papillon,
Ser banido à perpetuação,
Não posso à dor do exílio nem dar termo a solidão.
Ó amém! Rezarei a quem?
Quisera Deus, qualquer Deus,
Quão o ente de etos sublime, afeito a ternura do phato dorido:
Pudesse encontrar todo o perdão no coração.
Ó amém! Rezarei a quem?
Quisera Deus, qualquer Deus,
Que pudesse ao encontrar-me no amor,
Devolver-me a noite; desfraldar-me os sonhos; e devotar-me à luz do sol toda gratidão.
Ó à todos peço-lhes perdão!
Eu...
Logo eu pálido Deus indigente que fora paz e alvo na mira dos aviões!
Eu...
Logo eu pálido Deus sucumbente que fora obus e napalm na boca dos canhões!
Eu...
Logo eu pálido Deus que fora à quarentena de febre e delírio... Ó avistei-me sem querer no espelho, e incapaz de desvendar-me -, o Ser por inteiro - C'os olhos turbidos de lágrimas, fiz-me cascatas diluído sob as celhas, o "dissoluto sujeito "anjo" imundado.
Eis-me que pálido Deus indigente à margem onde tudo parecia fechado, torno sem novenas aos diferentes! E olho-me, toco-me: e sou de carne e osso. Ó desatei-me os nós d'ante os iguais feito coisa como gente d'ante os espelhos!


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