Lírica é a enxada
que numa só enxadada
arranca o mal pela raiz
e põe sementes esparramadas
na vala a pouco criada
como que passa lixa
sobre o velho verniz...

Lírica é a poesia sem eira e nem beira
que se acha nos bordéis
ou então nas bananeiras
do tempo dos cordéis
onde um sorriso bastava
aos que pouco ou muito
em êxtase se amavam...

Lírica é a poesia
de barriga cheia ou vazia
que pouco se importa com sistemas
vive do que vale a pena
e sendo amiga do acaso
se dá à vista ou a prazo
ao poeta que nem liga
se os versos tem medida
como os ternos dos alfaiates...

Lírica é a psique
do repentista que de repente pode saber
se a viva vaia vale um tostão
ou se o que repenteia
alumia a escuridão...

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