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A Doutrina de Gernoza - Parte I
Canton

Resumo:
Um feriado em família que não tinha mais onde ser comum, acaba por revelar crimes desumanos e um passado obscuro.

O dia das mães era o único dia que reunia a família Gernoza, três filhos que geraram mais cinco membros. O fato de não terem mais o pai e a mãe estar fortemente debilitada pelo peso da idade, foi um forte contribuinte para essa união tardia dos irmãos. Visto que, prematuramente cada um foi deixando o ninho em busca de condições melhores de vida e mantendo relações apenas cordiais nas redes sociais.
     A velha mãe vivia enraizada nas superstições herdadas dos seus falecidos familiares, e agora era só o que lhe restava na memória. Devido sua saúde mental debilitada, os filhos haviam escolhido o local de encontro desse ano com base na infância da mãe, buscando ascender alguma recordação apagada da senhora. Temiam ser o último que passariam com ela e os médicos confirmavam que as chances eram grandes.
     O local escolhido era a fazenda em que a velha havia crescido - um casarão barroco afastado de qualquer resquício de civilização em um raio de quarenta quilômetros. Além do casarão, a propriedade guardava um lago e uma borra de mata atlântica preservada, que os filhos não tinham noção de até aonde ia, visto que era a primeira visita dos mesmos ao local.
     O sol da manhã de sábado inundava a sala de estar e, estranhamente, todas onze pessoas que constituíam a família já estavam de pé. Marcela, a filha mais velha, era viúva e tinha uma filha de dezesseis anos, Helena, que se encontrava no sofá ao lado da mãe. João Carlos e sua esposa, Natalie, possuíam dois filhos, João Emanuel, com seus dez anos e Maria Clara, com sete. Por fim, a filha caçula Carmela, dividia o sofá com seu marido, André e seus filhos Tomás e Bernardo. Que haviam acabado de completar seis e quatro anos, nessa ordem, no último mês.
      - Então, Cordelia, em que ano seus pais compraram essa fazenda?- perguntou André a sogra.
     - Ontem à tarde, durante o sol das almas. Sabe, acho que vi minha avó por lá. – André sabia que a sanidade da mãe de sua esposa não estava intacta, mas não imaginava que a senhora havia piorado tanto desde a última vez que a viu.
     - Garanto que viu, mamãe. Agora, conte para nós o que achou da escolha do lugar? – Carmela tinha fortes esperanças que o local traria algo a mente de sua mãe, quando sã ela sempre mencionava a fazenda - Foi idéia de Natalie.
     - Eu gosto desse lugar, quanto aos três, eu não tenho tanta certeza – mais uma vez Cordelia fugia à razão.
     Sem dar idéia aos devaneios da mãe, cada um foi deixando o ambiente e procurando algo que fazer. As crianças rumaram para o lago, os adultos para a cozinha e a mãe para a velha cadeira de balanço na varanda.
     O lago, no entanto, não se mostrou tão atrativo para os menores. Estava infestado de taboas e parte de água não coberta era pequena demais. Por sugestão de Helena, a mais velha, foram caminhando beirando a mata, na esperança de vislumbrar algum animal silvestre. Após se distanciarem um pouco da casa, encontraram uma abertura entre as arvores que seguia até uma curva, imaginando aonde a trilha dava todos adentraram.
     No começo era possível ver o céu por entre o topo das arvores, mas a medida que caminhavam mais, a densidade foi aumentando até que a única coisa que se via eram arvores e cipós. Parecia que nem mesmo o vento conseguia passar entre os galhos, mas o espaçamento da trilha continuava o mesmo.
     De volta a casa, o almoço já estava pronto e Marcela saiu para chamar as crianças para comer. Após notar que as mesmas não se encontravam ao redor da propriedade, voltou alarmada para notificar os outros pais. Começaram então a procurar no entorno, na estrada de acesso e a beira da mata, que nessa não havia mais a abertura da trilha.
     Como era impossível ver o céu e a curiosidade ser maior que o desgaste físico, as crianças não percebiam a passagem de tempo. Não tinham o menor resquício de noção que o tempo avançava ferozmente. Até que chegaram a uma clareira, do outro lado havia uma bifurcação entre as arvores.
     Após um embate, o grupo se dividiu em dois. Helena, Tomás e Bernardo foram pela esquerda e Maria Clara e João Emanuel pela direita. Foi combinado que não avançassem muito e se houvesse alguma outra bifurcação, voltassem diretamente para clareira.
     Helena e os dois garotos seguiram seu caminho e aquela trilha se mostrava mais larga do que a inicial, além das arvores serem mais espaçadas uma da outra. Era possível ver até o sol e pela sua posição ela deduziu que já se passava do meio dia. Bruscamente, após uma curva a trilha chegou a um paredão de rochas com algo que parecia ser uma caverna na base. A incerteza de Helena, veio do fato que havia uma pedra sobreposta a outra maior ainda e abertura entre essas era mínima.
     Minutos se passaram e ela conseguiu persuadir Tomás, que certamente caberia no espaço, a entrar e vislumbrar o que havia lá dentro. Este foi completamente inseguro, seu maior medo eram os morcegos. Porém, para seu alivio não havia nenhum no local, na verdade não havia nada no local que ele pudesse ver, só completo breu. Era frio e atmosfera úmida, tateando a frente viu que a caverna continuava, mas com medo de pisar em vão ele não seguiu adiante.
     Ao virar para trás viu que o único facho de luz que havia, vindo da passagem em que entrou havia sumido. Seu coração imediatamente acelerou, passou a mão pela pedra e a única coisa que encontrou foi a rocha sólida. Encheu o pulmão de ar e gritou por Helena, a única resposta que obteve foi o som da sua voz reverberando pela caverna. Sentiu uma fisgada em sua nuca e apagou.
     Do lado de fora, tudo aconteceu rápido demais, uma mão fez com que a pedra deslizasse, fechando a passagem, o grito abafado de Tomás e completo silêncio. Em desespero, Helena bateu as mãos na rocha, como se a qualquer momento alguém a atendesse, tentou empurrar, mas não havia como, gritou, mas sem resposta. Então, pegou Bernardo pelo braço e correram de volta para a clareira em busca de ajuda.
     João Emanuel e Maria Clara já estavam na clareira, ao verem Helena e Bernardo chegarem correndo e em total desespero, presumiram que era uma brincadeira com os dois. Quando viram então, que Bernardo estava aos prantos e ouviram a história de Helena desataram a correr de volta a fazenda.
     A fazenda parecia mais distante que nunca, até que chegaram onde deveria estar a abertura por onde entraram. Agora os galhos das arvores praticamente haviam fechado a entrada, exceto por um pequeno espaço entre eles e o chão. Engatinharam por ele e correram rumo a casa, completamente sem fôlego.
     Imediatamente todos da casa voltaram para a dita caverna, exceto Cordelia, que ficou dormindo na cadeira de balanço. Horas se passaram e a pedra continuava no mesmo lugar após inúmeras tentativas de movê-la. Até que o sol começou a se por e as crianças, Natalie e André voltaram para a casa. André iria retornar com lanternas e Natalie passaria a noite com as crianças e a sogra na casa.
     Porém, quando passaram pelo lago para entrar na casa, Maria Clara vislumbrou algo na água que não estava lá antes. Alertou o tio e sua mãe, que ao se aproximarem não acreditaram no que viam, das crianças um grito de pavor saltou da garganta de cada uma.
CONTINUA...





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