Meu coração te enxerga. Todavia, dos meus braços escorregas, quando te desejo contemplar por via dos nossos corpos friccionados.
Meus olhos me condenam. Desenvolvo mil pecados no meu baú mental, só de imaginar nossos corpos desabotoados.
Minha imaginação me cega. Presencio uma série de coisas desnaturadas. O céu se enche de navios, vejo nuvens a boiar no mar...
O equilíbrio cósmico é rompido. Sou dominado por coisas vãs, e por conta da ignorância, nosso peitos se desencontram.
Converso contigo, através de fotos que não tenho, mensagens que não leio, saudações que não recebo.
Não te ouço a falar de mim, nunca. Quem me dera estar em teus pensamentos quando menos esperares!
Esse amor é uma bosta. Eu vivo para ele. Tu vives em mim. Eu não vivo sem ti. Tu vives ali, distante daqui.
Ensaio o que dizer-te. Como exprimir cada palavra presa na vergonha. Tenho sempre os olhos virados para o chão, mas no momento em que decido enfrentar teu olhar, concentrar-te, mora em mim a convicção de que não me dás atenção.
Fico perplexo. Perco-me a tentar atender o porquê de algumas atitudes tuas, cruas, infantis, que se fosse mais inteligente, afirmaria que me tens amado às escondidas. Mas sou um mestre de descrença, e que detesta ter que pensar positivo.
Somos ligados pela distância, pois a distância aguça tudo. Às noites, quando nem mesmo a lua sabe mais o que pensar, sou assaltado por uma quadrilha de vontades. Encho-me de empolgação. Invento hologramas de ti e ponho-me a falar sozinho, como se aí estivesses a me dar carinho. Mas perante a tua vida feliz sem mim, meus intentos, meus pesares, meus tormentos e boas acções, é tudo átomo. Sinto a tua falta apesar dos reencontros diários. É estúpido demais saber que essa proximidade nos distancia, que esta distância nos aproxima. Perco os valores devido à falta de caráter, de ter que ridiculamente acreditar que existe algures uma cura para cada ferida internal.
Mas acima de tudo, é chato saber que não vais além dos meus sonhos.
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