Prefiro sempre pensar
que as pessoas tem asas,
às vezes saem com elas
ou as deixam em casa...
O ar meio tristonho de algumas
deve ser porque perderam algumas plumas,
outras voam baixinho para disfarçar
a vontade oculta que tem de no alto voar...
Parecia corcunda a que vi outro dia,
cabisbaixa e sisuda,
parecia que no chão colhia poesias
que perderam na rua,
chamei-a e lhe disse "bom dia",
ela seguiu solerte fingindo que não me via,
reparei que saiam penas pelos furos da camisa,
tentava esconder o que eu e o sol sabia
serem grandes asas prontas para voar
sobre cordilheiras, sobre as dores do amar...
Continuo observando estes grandes pássaros,
águias imensas, outras urubus avaros,
passarinhos miúdos com seus cantos macios,
que aquecem almas manchadas por quedas,
outras que carecem de calor neste frio...
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