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o outro garoto
juliano elyades

O outro garoto
Me levam de volta pro quartinho escuro espero ate que o barulho das vozes do lado de fora pare. Me arrasto ate o canto e aproximo a boca das tabuas da parede.
- você ta ai?
O outro garoto responde do outro lado da parede, sua voz esta cada vez mais baixa.
-certeza que os homi foram embora?
-tenho, eu ouvi eles falando sobre passar em um lugar antes de fechar.
-lhe deram comida?
- fiz o que eles mandaram.
-tu ta bem cara?
Meu queixo começa a tremer e começo a chorar, falar sobre isso é como viver aquele inferno de novo.
-eles iam fazer de todo geito, pelo menos tu resistiu mar tempo que eu.     
-agente nunca mais vai sair daqui.
Ouço o outro garoto chorando baixinho do outro lado da parede ele já estava aqui quando eu cheguei
-há quanto tempo você ta aqui?
- sei não. Da pra saber não se é dia ou noite neste lugar, mas eu acho que cheguei um pouco antes de tu um dia, dois, sei não.
-tem alguém te procurando?
-tem não, mainha me deu pra eles.
-ela te deu pra eles?
Não da pra acreditar que uma mãe faz isso, se bem que eu não tenho como saber, já que eu nunca tive uma.
- disseram a ela que eu ia ficar com um casal de velhinho que num tinha filho, somo em oito irmão. Nóis tinha uma rocinha, mar desdo ano passado que num chove lá pras banda onde eu moro, tava faltando o de come. Mainha pensou que tava me ajudando. Ela tem culpa não. E tu tem alguém lhe procurando?
-não,eu fui largado num abrigo quando era bebê,era um lugar bem pequeno, mas as tias eram legais, ai eu fiz doze anos e eles me mandaram pra outro abrigo, no primeiro dia os moleque grande me encheram de porrada, no outro dia um dos monitores me chamou na sala dele, disse que tinha achado uma família pra mim, foi quando eu vim parar aqui.
-oxe eu fiz niversario este mês também fiz onze!
-se você fosse pedir alguma coisa de aniversario o que ia ser?
-qualquer coisa?
-tem que ser uma coisa, nada tipo sair daqui ou ir pra casa.
-uma bicicleta daquelas bem invocada, vermeia com preto, com amortecedor, guidão cromado, vinte uma marcha e tu?
-eu queria um Xbox.
-que diacho é isso?
-eu esqueço que você é da roça
-bãozão da cidade
-é um vídeo game, é demais os jogos parece de verdade tipo filme sabe?
-bacana e o bão é que nóis ia poder jogar junto no seu Xbox.
-só se você me emprestar sua bike.
Agente ri junto, ate ouvir o barulho dos caras voltando, ouço eles entrarem no quarto do outro garoto e levarem ele. Não sei quanto tempo passa ate ouvir eles trazerem ele de volta, me aproximo da parede e espero ate ouvir os caras saindo.
-você ta ai ?
A voz dele sai num sussurro.
-to.
-agente podia procurar de novo uma saída deste lugar
- já fizemo isso antes
-agente não olhou direito eu acho que eles colocam alguma coisa na água que deixa agente mole.
Ouço o garoto se levantar eu me encosto na parede e faço o mesmo, começo a tatear pela parede no escuro, ate chegar a um canto do quarto e então começo a tatear pela outra parede e no meio dela tem umas madeiras atravessadas na parede, eu acho que encontrei uma janela tampada com tabuas.
-achei alguma coisa!
-oxe fale baixo, tu consegue sair?
Vou forçando as tabuas uma a uma a mais alta sede um pouco, pulo e me penduro na tabua ela se solta de uma vez. Eu caio junto com a tabua um dos pregos fura minha cocha caramba como isso dói.
-que foi isso?
Tento segurar um grito de dor e puxo a tabua espero a dor diminuir e falo entre os dentes
-consegui uma saída.
-então sai logo procura ajuda!
Me levanto a luz entrando pela janela ofusca meus olhos a um espaço grande o suficiente para passar
-pra onde eu vou?
-não se,i só acha alguém e me tira daqui.
- cara eu vou te tirar daqui.
Subo pela fresta da janela minha perna dói muito quando passo pela fresta e caio no chão. Na verdade uma moita alta de mato. É noite me levanto e corro pra longe da casa olho para traz e corro mais rápido, passo por uma cerca e continuo correndo minha perna ainda dói, caio algumas vezes só consigo pensar no outro garoto, cruzo uma estrada fico com medo de ir por ela e os caras me acharem. Vou pelo mato pela lateral da estrada, o mato corta minhas pernas só agora percebo que eu to só de cueca e camiseta, não importa eu tenho de ajudar o outro garoto.
Chego a cidade um bairro afastado uma espécie de vila as casas estão fechadas deve ser madrugada, continuo andando ate chegar a uma avenida minhas pernas estão fracas e minha cabeça meio zonza as vezes a visão fica escura.
-eu não posso parar agora.
Continuo pela avenida uns carros passam entre eles uma viatura, ela passa e depois volta. Eu paro e espero, um policial desce, meu medo aumenta, e se ele for como os caras? O policial coloca a mão no meu ombro tento correr ele me segura pelo braço
-calma, não precisa ter medo como é seu nome?
E se ele não acreditar em mim?E se ele quiser me prender, eu não posso ter medo tenho de arriscar.
-ajuda meu amigo moço.
-ajudo sim parceiro, mas você tem de me falar onde ele ta e o que ta acontecendo.
-uns caras, eles vão machucar ele quando virem que eu fugi.
-você consegue me mostrar o lugar onde ele esta?
Aceno que sim, ele tira o casaco e coloca no meu ombro.
-vamos para a viatura e você mostra o lugar beleza?
Entramos na viatura vou indicando o caminho o policial fala no radio e pede reforço
-quantos caras estão com seu amigo?
-quatro ou três eu não sei ta a sempre escuro, desculpa moço.
-não tem problema, você é um carinha muito corajoso sabia?Preocupa não vai dar tudo certo.
O carro continua pela estrada, olho com cuidado pra achar o lugar onde eu sai.
-ali aquela arvore eu vim correndo de lá, tem uma matinha e do outro lado tem uma casinha de madeira é lá, é la.
A viatura para outras três viaturas chegam
-você foi ótimo garoto agora agente vai buscar seu amigo enquanto isso o meu parceiro vai levar você pro hospital.
-eu vou esperar meu amigo.
-desculpa, mas você não vai poder ficar aqui. Eu prometo que daqui a pouco seu amigo vai estar com você.
Ele desce da viatura o outro policial faz à volta e pega a direção da cidade No caminho do hospital meu sangue vai esfriando e começo a ficar com frio, minha cocha volta a doer não só a cocha como todos os outros machucados coloco a cabeça entre as pernas e volto a chorar baixinho. O policial tenta me acalmar.
-agora vai ficar tudo bem moleque.
Chegamos a um hospital. Eu sou levado pra dentro do hospital eles me examinam e limpam meus machucados, me dão um banho e me colocam uma roupa destas de hospital. Uma moça fica puxando conversa, perguntando coisas como meu nome ou da onde eu venho me pedindo pra fazer desenhos e coisas assim, não quero falar com ela. Aquela tontura meio que vai ficando pior mais intensa e o outro garoto porque que ele não chega nunca?
-cadê o outro garoto moça?
A mulher desconversa e muda de assunto só não entendo o porquê .Ela sai e eu fico sozinho no quarto me levanto e tiro o soro do braço a tontura esta passando, caminho pra fora do quarto e vou pelo corredor ate chegar a recepção que esta lotada de gente, ninguém percebe a minha presença. Tem uma TV ligada, esta passando um jornal o apresentador começa a falar sobre um garoto assassinado e outro ferido e a TV começa a mostrar o barraco de madeira o mesmo onde nos estávamos presos, o repórter começa a falar.
-é isso mesmo, a policia estourou um cativeiro na periferia do Rio de Janeiro onde uma quadrilha de pedófilos mantinha dois meninos na faixa de doze anos reféns. Os meninos eram submetidos a todo tipo de violência física e psicológica, ontem de madrugada a policia invadiu o cativeiro depois que um dos garotos ter fugido e procurado a policia, infelizmente quando a policia chegou o outro garoto já havia sido brutalmente assassinado a golpes de paulada, é isso mesmo Datena a pauladas, na troca de tiros dois dos três bandidos foram mortos pela policia o terceiro foi preso. o outro garoto apesar das agressões e de um principio de desnutrição passa bem em um hospital da região, nenhuma das vitimas foi identificada ate o momento.
A TV começa a mostrar o barraco de madeira o quarto sujo de sangue o repórter continua falando, mas não consigo mais ouvir o que ele diz' brutalmente assassinado a golpes de paulada' eu não consegui, eu não devia ter deixado ele sozinho, eu devia ter corrido mais rápido, eu devia ter feito alguma coisa, qualquer coisa, menos deixado ele lá sozinho pra ser morto igual um bicho. Alguém coloca a mão no meu ombro é o policial que me encontrou e uma outra mulher.
-alguém desliga esta merda de TV!
Eu não consigo respirar direito, a mulher fala.
- você ainda esta fraco melhor voltar pro quarto.
Ele esta morto "brutalmente assassinado a golpes de paulada” a mulher me segura pelos ombros e vai me levando ate o quarto o policial vem junto a mulher tenta puxar assunto.
-então eu sou a detetive Rose e você qual seu nome?
Ela me encaminha para a cama, eu me deito e viro dando as costas para eles, eu é que devia ter morrido não ele. O policial coloca a mão na minha cabeça um arrepio passa pela minha espinha e eu jogo no chão ninguém nunca mais vai tocar em mim daquele jeito.
-desculpa não quis te assustar.
-mentiroso.
-eu não ia te machucar.
-você prometeu que ele ia ficar bem seu mentiroso.
-desculpa agente chegou tarde.
-mentiroso, mentiroso, mentiroso...
Tapo os ouvidos com as mãos não quero ouvir nada deste mentiroso filho da mãe. A mulher se abaixa na minha frente pra ficar da minha altura.
-agora vai ficar tudo bem.
Não vai.
-só se for pra você moça, daqui eu vou pra um chiqueiro e o meu amigo ta morto por culpa minha. então não faz esta cara, nem um de vocês ta nem ai.
Saio do quarto e vou pro banheiro a mulher me acompanha eu sento no chão embaixo do chuveiro e seguro a vontade de chorar ate minha garganta arder e faltar o ar. Ela coloca a bolsa na pia e se aproxima de mim. Me levanto empurro a mulher pra fora do banheiro e tranco a porta.
-se acalma garoto agente vai dar um jeito, vai ficar tudo bem.
Não vai não. Eu olho a bolsa da mulher eu preciso sair deste hospital, olho a janela do banheiro da pra eu passar. Abro a bolsa da mulher e jogo as coisas na pia uma arma cai junto com as outras coisas, pego a arma e coloco na cintura abro a carteira dela e pego o dinheiro corro para o box e subo e passo pela janela e saio por uma marquise e corro ate o canto da marquise onde desço por um poste e saio nos fundos do hospital tem uma blusa de frio sobre uma cadeira perto do portão pego a blusa e visto, pego a arma e guardo no bolso da blusa, fecho o ziper e corro pra fora do hospital ninguém vem atrás de mim. Paro de correr e puxo a blusa para baixo para ninguém ver o uniforme do hospital subo em um ônibus, pago a passagem com o dinheiro da moça e me sento no fundo. O que eu faço agora?Confiro o dinheiro tem quinhentos reais, pego as notas menores e separo das maiores. Eu preciso trocar de roupa e achar um lugar pra me esconder, o ônibus chega a uma praia nem sei qual é. Desço e passo por umas banquinhas de camelo uma delas vende roupa.
-quanto é moça a bermuda e a camiseta?
-as duas da setenta.
-tem no meu numero?
-você deve vestir 34 aqui a verde né?
-isso e me vê o chinelo também 36/37
-com o chinelo da 90.
Passo o dinheiro para ela e pego a roupa e o chinelo saio rápido ,acho um banheiro publico troco de roupa e amarro a blusa de frio na cintura, esta começando a escurecer saio do banheiro atravesso a avenida e leio a placa
- avenida atlântica
Chego à praia, engraçado eu moro nesta cidade desde que eu nasci e nunca vim na praia. Tiro o chinelo e me sento perto do mar, fico lembrando da voz dele "não me larga aqui" e eu larguei deixei ele morrer sozinho a praia vai esvaziando ate sobra só eu na areia,eu preciso encontrar um lugar pra dormir e este dinheiro não vai me ajudar nisso, ninguém vai alugar um quarto pra um menino desacompanhado,continuo ali na areia o frio vai aumentando devia ter comprado um cobertor visto a blusa levanto e vou ate a calçada, ainda descalço com o chinelo na mão, pisando nas pedrinhas minha cocha ainda dói um pouco, vou andando sem rumo um carro diminui a velocidade e começa a andar do meu lado o motorista fala comigo.
-o moleque quer uma carona?
-não senhor.
Continuo andando
-certeza?Eu to te vendo faz um tempo lá na praia não parece que você tem para onde ir entra ai se você for legal eu te arrumo ate uma grana.
Olho para o carro, ele esta com o mesmo olhar nojento dos caras do barraco coloco a mão no bolso e seguro a arma.
-vamos cara entra aqui o tio vai ser legal com você.
Uma ideia maluca se forma na minha cabeça.
-pra onde você vai me levar?
-não precisa ter medo agente vai pra um lugar bem tranquilo se divertir um pouco
Ele abre a porta do passageiro.
-e ae você vem?
Eu vou sim. Entro no carro o porco coloca a mão na minha cocha
-ai
-que foi?
-minha perna ta machucada.
-desculpa gatinho.
Ele arranca com o carro vamos ate uma casa grande num bairro bacana, ele usa o controle e abre o portão.
-é sua casa?
-não, eu vendo casas esta é de um cliente.
-tem mais alguém aqui?
-só nos dois.
Agente desce do carro e vamos ate a sala ele tenta me abraçar
-espera
-vamos devagar entendi, temos a noite inteira pra gente, eu vou tomar uma chuveirada quer vim junto?
-vai na frente moço.
-assim que se fala você só vai ganhar comigo.
O porco passa a mão no meu rosto e sai tirando a camisa pela sala, liga o som e vai pro banheiro espero um minuto, aumento o som e vou em direção ao banheiro a porta esta entre aberta tiro a arma do bolso e empurro a porta
-gostou da musica?
Levanto a arma e miro nele.
-calma ai cara, não precisa fazer isso, tem dinheiro na minha carteira
-ele queria uma bicicleta de aniversario.
-ele quem cara?Agente arruma uma, abaixa esta arma.
-eu prometi que ia salvar ele de vocês.
-eu não sei o que você ta falando, eu não fiz nada.
Faço mira na cabeça dele e aperto o gatilho três vezes ele cai imóvel no boxe, o chão fica vermelho enquanto a água do chuveiro cai, saio do banheiro e me sento no sofá com a arma na mão depois me deito minha cabeça esta pesada de novo.
-um a menos amigo um a menos, agora tem um a menos!
Fecho os olhos e durmo. Acordo olho no relógio da parede são seis da manha. vou ate a cozinha abro a geladeira onde tem um bolo. pego ele e arranco um pedaço com a mão e começo a comer pego uma caixinha de leite me sento na mesa termino de comer e volto no banheiro que esta alagando o resto da casa. o cara esta do mesmo jeito caído no chão, chego ao box e desligo o chuveiro, volto para a sala pego a carteira do desgraçado tiro o dinheiro deve ter coisas de valor na casa, mas eu não vou pegar nada os donos da casa não me fizeram nada.Saio pelos fundos lembro que uma vez uma das tias do abrigo me disse que todo homem ter de ter uma missão na vida parece que eu achei a minha.


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Contos o outro garoto juliano elyades


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