Uma certa palavra, cansada,
bateu à minha porta,
esmaecida, torta,
pedindo para entrar...
Não por cortesia, mas por amor,
dei-lhe chá com bolo de milho,
me pareceu que recuperou a cor,
seu rosto adquiriu um certo brilho...
Nem lhe perguntei quem era,
nem quis naquele momento saber,
palavras são sementes que esperam
as estações certas para nascer...
Contou histórias imemoriais
de andantes cavaleiros e suas donzelas,
de planos de reis poderosos, iguais
à nobreza que hoje os podres revela...
Cansada, lá pelas tantas,
pediu descanso e eu lhe dei,
não sem antes oferecer-lhe a janta,
bolinhos primavera e frango xadrez...
Banhou-se e pôs o folgado roupão,
deixei o abajur com luz tênue, suave,
antes de apagar pediu-me atenção,
e disse-me, baixinho com voz grave...
Obrigado pela guarida, nunca me esquecerei,
tome esta poesia e a leia, amanhã, antes do sol se por,
já terei partido porque me esperam em lugares que, sei,
pronunciam meu nome, a me chamarem, pelo nome de amor...
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