Cada palavra que se deita na página em branco
acorda cada olhar que vem à procura de poesia,
nem mais, nem menos, sempre o mesmo tanto,
como cada gota de luz que desperta o lindo dia...
Dentro de cada palavra há um tanto para cada um que lê,
a porção de afago e de carinho ou o manso som que corre
como um rio que nasce no coração de cada um que vê
os versos que se abraçam quando a noite vem e o dia morre...
Os que campeiam, os que viajam, os que gritam, os que vão
a pés pela estrada de si mesmos, sem pressa e alvoroço,
colhem cada fruto maduro que as árvores lançam ao chão
e riem de felicidade e se sentem ainda tão moços...
Nenhum castelo tem no alto a palavra que não escapou,
nenhum campo guarda, sereno, o corpo de uma delas,
só quem sabe o que dizem são aqueles o mundo amou
quando estavam sós, olhando as estrelas, lá pela janela...
Vem, entre por essa porta feita de vãos livres e sem chave,
apanhe o grafite e esparja no colo da alva página seus pensamentos,
refaça com seu estojo de pérolas a concha que anseia e sabe
que serás o poeta com asas de brisa e alma de doce vento...
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