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Noites frias, coberto de lama pelo chão, mente vazia, alucinada, cega...
Entre as carnificinas caminha um homem, um ser humano que já não se importa com nada ao seu redor, já esqueceu até de si mesmo. Vive da podridão, entre insetos e outros animais, hoje tão semelhantes a ele!
Caminha sem rumo pelas ruas de uma cidade, fala sozinho, sorri do nada, um riso sem graça, sem fundamento, chora sem saber por que, mesmo tendo vários motivos!
Será que habita algo de bom dentro desse homem, será que pelo menos a esperança surge em alguns ínfimos momentos de sua lucidez?
Como saber se sua alma não geme ao ver que tantos dele temem e nunca lhe perguntam como está? Se os outros, ditos humanos, não estendem a ele a mão?...
Carros vêm e vão todos os dias e do outro lado do vidro os “desprotegidos” se protegem dessa pobre alma, aparentemente “desalmada”, sem valor, perdida!
A fome aperta, a madrugada é longa, já são anos vivendo assim... Já está tudo tão normal, ele sabe que em alguma hora “o sono vence a fome”.
Pela manhã seu estômago clama por um pedaço de pão, e entre os restos de uma cantina ele encontra seu mantimento, ali ele faz sua refeição... Mas fica ainda a questão: Como será o próximo instante? Onde será a próxima madrugada? Por onde perambular? Se a sorte existe, onde ela estará?
Ao longe ouve-se uma voz que vem de dentro de si, e traz a memória lembranças do que um dia se viveu e, ao erguer os olhos aos céus, depois de milhas e milhas caminhar, ajoelha-se ao solo e racionalmente pensa: “Se for pra continuar na vaguidão das coisas, vou morrer por aqui, corpo, alma e espírito, então vou dar vazão a essa melodia, fechar os olhos e escutar a música que ecoa da vacância que há dentro de mim, sem eco, sem reverberação, desacompanhada.”
Lá do fundo da alma ele consegue extrair o grito do silêncio, perceber o que precisa fazer pra voltar à vida. Entre pensamentos obscuros e conceitos incertos descobri uma rara verdade valiosa, que desde outrora já existia, mas que agora lateja, pulsa e soa desesperada por ser encontrada. Deve ser um pedaço de Deus que sempre habitou dentro de si, ou quem sabe a Sua doce e suave voz clamando no seu coração...
É estranho, bater de frente com a ponte que une um deserto esquecido a um inóspito manancial de águas fundas e claras, ao passo que é maravilhoso essa sensação: regressar as quimeras ao despertar do toque do Pai!
Gleidson Melo
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