No ponto do ônibus, uma jovem com uma bolinha no nariz, uma bolinha aquosa, um sinalzinho, puxando assunto disse que procurava emprego e sem querer soltei essa: tomara você não seja entrevistada por um virginiano. Por quê?! Disse ela. E tive de contar: Biluquinha trabalhava num escritório de contabilidade de um virginiano. Sempre acreditou em signos, horóscopos e até em Presidente da República, de Senado e etc. Por coincidência, todos os virginianos que conheceu até hoje sempre descem aos mínimos detalhes. Perfeccionistas.
No escritório também funcionava uma agência de emprego. O virginiano disse que deu a vaga a Biluquinha porque antes da entrevista foi o único a não ficar levantando, irritando a garganta, balançando os pés... Nervosismo.
Quando Biluquinha começou a trabalhar, senhor Virginiano fez recomendações virginianas sobre os livros de contabilidade. Borrar, não! Naquele tempo tinha sido lançada a caneta kilométrica e em seguida a Replay, cuja tinta podia ser apagada por uma borrachinha que já vinha na própria caneta. Essa caneta foi uma festa para os falsários de cheque e logo foi retirada da praça, no entanto, Biluquinha prevenido que só, comprou várias caixas para não ter problemas com os livros de contabilidade, mas não é que o virginiano conseguiu ver marcas de números apagados embaixo da tinta no livro? Biluquinha negou, porém, fingindo acreditar, o virginiano saiu e de súbito entrou na sala e o pegou com a mão na caneta. “Você tem que ser perfeito?” E Biluquinha: perfeito, eu, um pisciano? “Quê? Você é pisciano?! É mesmo! Rapaz, o seu signo fica em frente ao meu!” Virginiano se riu e disse que dupla hein?! Você vê o todo, o panorama e eu os detalhes! Minha mãe é de peixes, legal, legal, mas não devolveu as caixas de Replay. De repente a alegria foi interrompida por uma jovem que entrou para ser entrevistada. Tinha uma bolinha na ponta do nariz, uma bolinha aquosa... O cargo era de secretária bilíngüe. A moça era trilíngue: Inglês, francês, italiano. Sobravam-lhe diplomas no colo, que colo! Ela era encantadora, aliás, tri-encantadora. Como bom pisciano, Biluquinha deixou-se arrastar para o azul, por seu pai, Netuno, e olhava dentro da bolinha aquosa do nariz da moça e via peixinhos dourados, vermelhinhos e amarelos; perdia-se todo na beleza da candidata morena e sonhava: Por mim, a vaga é dela! Um arrastar de cadeira o trouxe à superfície da realidade e a moça já estava se despedindo e partiu. O virginiano olhou para Biluquinha que babava restos de sonhos e perguntou: viu que talento, Biluquinha? Sim. Respondeu mole feito cavalo-marinho. E o virginiano, rindo: pois é, reprovei! Biluquinha arregalou os olhos de por quê? E o virginiano sem fazer cerimônia disparou: “A bolinha no nariz!” “Mas e os diplom...” “A bolinha no nariz, Biluquinha!” “Mas era trilíngüe, tri-encantadora e a bolinha não era uma verruga com cabelo como as das bruxas...”. ”Mas era um a bolinha no nariz, merda!” O chefe venceu e Biluquinha pediu licença para ir almoçar. Por acaso encontrou a Bolinha no Nariz no Self Service. Conversaram e ele ficou sabendo que ela morava num castelinho na Vila Tiradentes. Quando Biluquinha voltou encontrou sua demissão em cima da mesa e ao perguntar o porquê, não deu outra: “você está namorando a Bolinha no Nariz!”. Em socorro de Biluqiinha saiu a mulher do virginiano, ela do signo de libra, tido como o diplomata do zodíaco, tentou com seu charme manter o equilíbrio, mas foi logo desequilibrada com a demissão e um pedido de divórcio; o Bira, leonino, o generoso e corajoso do zodíaco, não se importaria se a bolinha no nariz fosse do tamanho de uma bola de futebol, e ao ver aquela platéia quis exibir a sua coragem e também foi demitido. O último foi KiKi, sagitariano, entrou filosófico, porque é desse signo filosofar e também saiu filosoficamente demitido.
A moça com quem eu conversava arrepiou-se. Disse que ia passar primeiro no hospital para tirar a bolinha no nariz. Argumentei que não precisava; que nem todas as entrevistas para empregos são realizadas por virginianos.
- Mas a nossa Pátria é de virgem! Esqueceu? É de 7 de Setembro! Agora entendo a nossa mania de perfeição. Não se pode ser gordinha, não se pode ser velho, não se pode perder dentes, não se pode ter uma bolinha no nariz. Pena a gente não querer ser perfeito em tudo! Creio ter razão em ir ao hospital primeiro, moço. Falo três idiomas: inglês, francês e italiano; procuro emprego de secretária bilíngüe, moro num castelinho na Vila Tiradentes e minha mãe tem a tal bolinha no nariz.
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