"O poeta deve ser o espelho do espírito e reflexo de todas as dores do mundo; se ele não conseguir isso... se ele não conseguir o mínimo disso, ele se torna o mínimo do nada". José Kappel.
Não sei, não sei.
Se sou o espelho do espírito
deveria saber como sou.
E a cada dia que passa
tenho mais dificuldades
em me entender
e saber isso.
Se não entendo a mim mesma
como poderei
entender os outros?
Mal consigo refletir
minhas próprias dores,
que comparadas
com as do mundo,
são até sem sentido.
Minhas dores existem
porque tenho dificuldades
em aceitar a realidade.
Porque sempre tenho
a tendência em perguntar tudo.
Não me conformo
com muita coisa
que vivo hoje.
E fico perguntando
por que ao invés
de perguntar para quê?
Mas não acho justo
ter de viver
esse sofrimento,
essa dor,
que já nem sei
de onde vem,
se de dentro
ou de fora de mim.
Por isso quero fugir.
Quero fugir para
tão longe de mim
e de todos
que nem eu mesma
pudesse mais
me encontrar.
Hoje descobri
que não tenho
nada mais
para esperar.
Mas espero
mesmo assim.
E essa contradição
dentro de mim me mata,
angustia e faz
meu espírito se conturbar.
Aceito sem aceitar.
Calo-me sem calar.
Falo sem falar.
É tudo muito confuso
e contraditório.
Não sei, não sei.
Tenho a impressão
de pairar num vazio
e ali estar a balançar,
de lá prá cá,
de cá prá lá,
sem parar.
Se balanço no vazio,
devo ser o mínimo
do nada mesmo.
Se sou o mínimo do nada,
não sou espelho do espírito
e nem reflexo
de todas as dores
do mundo,
definitivamente
não sou poeta.
|