Saio à rua com a bandeira brasileira
nas mãos,
canto o hino, não acredito em duendes,
já não sou menino,
pelas frestas das janelas espiam
olhos ensimesmados,
cães de várias raças rosnam
a mesma melodia,
arames farpados farpam meus olhos,
ainda somos seres ressabiados,
não cremos na luz do dia...
À noite, quando o perigo
se veste à caráter
e sai em busca de incautos
e bebedores além da conta,
vejo poetas debruçados
nas janelas do livros,
vejo estetas buscando dar outro sentido
à face morta do país em ebulição,
os ventos do Norte sopram
virtuais assombrações,
nossas mulas-sem-cabeças saltitam na praça,
tuareg's vestidos de preto
brincam com rojões,
a democracia sabe que é só uma farsa
para embevecidos corações...
Quando o tempo para e espera
nossa humilde procissão,
lá estão as lavadeiras,
as passadeiras, os padeiros,
o homem que assenta tijolos,
o fabricante de poemas,
eis que surge o cavaleiro andante
e sua espada de crepom,
Virgulinos e Marias muito bonitas,
um antigo mapa borrado,
homens com suas câmeras distorcidas enquadram a vida,
ergo ao alto a bandeira e trêmulo
meu coração aflito,
espero atravessar a ponte
quiçá com muita sorte,
ao longe, às margens de um planalto devorado escuto o grito
que vem das entranhas da terra, Independência ou Sorte...
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