Não são menos ímpios aqueles ignoram meu sofrimento
Que as moscas que de minhas feridas
Alimentam suas crias.
O barco a deriva, solto na imensidão do silêncio
Deitado neste leito fétido
Escaras me consomem a carne
Sequer posso limpar as feridas expostas,
Vermes me comem silenciosamente
Sinto a dor, mas nada posso fazer
Meu olhar é de tormento
Ninguém entende a linguagem dos olhos.
Eu sinto nas entranhas, o mordiscar e o comichão
Como roedores destroçando por baixo da minha pele.
A luz ascende,
São proferidas palavras indistintas,
Algo é posto na minha boca
A maldita lavagem que me mantem vivo
Alimenta também as parasitas que em mim procriam
Emito grunhidos indistintos, é um grito de socorro
Em vão
Se pudesse, mataria a todos!!!!
Malditos!!!
Sou todo ódio e rancor
Não me vêem sendo comido vivo?!,
Aqui jaz um cadáver em decomposição
Que ainda respira
Aos lampejos do alvor
Emito espasmos agonizantes
Eis um homem que viveu sonhou e amou
Aqui, paira o lamento de um velho enfermo sobre a cama
Pobre animal confrontado com a dor de existir
O banquete das varejeiras sobre a carne viva
Nao se comparam
Ao suplícios das emoções
Fundindo fatos , e lembranças com o irreal
Sentimentos e delírios bailam nos salões da memoria
Serão vazios os cômodos do palácio da morte?
Há de ser permeados de silencio e escuridão?
Que o martírio tenha fim em sua chegada
Que o pavor cesse ao partir
Que a paz chegue no deleite da ultima lava
Que se fizer mosca sobre minha carne.
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